São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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Morre Nobel de Economia Paul Samuelson, aos 94 anos

Professor do MIT, norte-americano ajudou na criação das bases da economia atual

Apesar dos convites, nunca ocupou cargo no governo, mas atuou como conselheiro dos presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O economista americano Paul Samuelson, 94, morreu ontem em sua casa em Belmont, Massachusetts. Ele foi o primeiro americano a ganhar o Nobel de Economia, em 1970. Seu trabalho ajudou a criar as bases da economia moderna.
Na entrega do Nobel, a academia sueca afirmou à época que ele foi laureado "por seu trabalho científico no qual desenvolveu teorias nos campos da economia estática e dinâmica, contribuindo ativamente para aumentar o nível da análise da ciência econômica".
Samuelson era famoso pela aplicação da análise matemática rigorosa ao equilíbrio entre preços, oferta e demanda. Ele foi professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) durante décadas, atraiu acadêmicos notáveis para lecionar na instituição e formou economistas de renome.
Alguns dos economistas famosos formados pelo MIT são o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Ben Bernanke, o ganhador do Nobel e colunista do "New York Times", Paul Krugman, e Christina Romer, do grupo de conselheiros econômicos da Casa Branca.
Samuelson declarou que em 1932, quando começou a assistir aulas na Universidade de Chicago, "nasceu o economista". Na academia, disse que percebia uma diferença entre o que era ensinado nas salas de aula e "o que era ouvido do lado de fora das janelas e nas ruas", em referência aos efeitos da Grande Depressão.
Samuelson insistia em que a matemática era essencial para a análise econômica. Dizia que os economistas eram "atletas altamente treinados que nunca ganharam uma corrida".
Seu livro sobre análise econômica vendeu mais de 4 milhões de cópias desde o lançamento, em 1948. Sobre o sucesso do livro-texto, disse: "Penso que a economia -e isso é o que tentei transmitir- tem uma tremenda quantidade de interesse humano".
O livro ensinou a diversas gerações de estudantes as ideias de John Maynard Keynes. Nos anos 1930, ele desenvolveu a teoria de que economias de mercado podem entrar em depressão e que precisam nestes casos de um forte impulso do governo, em gastos ou corte de impostos. A lição foi fartamente empregada após a explosão da crise financeira em 2008.
Além da variedade de temas abordados em sua pesquisa acadêmica, Samuelson era famoso pelo senso de humor. Em discursos, proferiu frases como: "É verdade que os mercados de ações podem prever os ciclos econômicos. O mercado de ações previu nove das últimas cinco recessões". Ou ainda sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres que exercem a mesma atividade: "Mulheres são homens sem dinheiro".

Conselheiro
Samuelson atuou como conselheiro econômico dos presidentes John F. Kennedy e de seu sucessor, Lyndon Johnson. Apesar dos convites, nunca quis assumir um cargo do governo porque queria ter a liberdade de escrever sobre o que quisesse e da maneira que quisesse, segundo ele.
Mesmo assim, atuou como consultor para o Tesouro, o Escritório do Orçamento e como conselheiro do presidente.
Depois da eleição de 1960, o professor avisou Kennedy de que o país estava caminhando para uma recessão e que ele deveria cortar impostos para superar aquele momento. "Uma redução temporária nos impostos pode ser uma arma poderosa contra a recessão", disse o economista na época.
Samuelson citou em entrevistas a reação do presidente. "Acabei de fazer campanha com uma plataforma de responsabilidade fiscal e você está aqui me dizendo que a primeira coisa que devo fazer é cortar impostos?" Kennedy não chegou a tomar medidas concretas sobre o assunto porque foi assassinado, em 1963, mas seu sucessor, Johnson, seguiu o conselho e o corte de impostos ajudou a revigorar a economia.


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