São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VAREJO

Financiamento do BNDES turbina vendas de computador barato no Magazine Luiza; outras redes buscam crédito

Loja vende 14 mil PCs populares em 2 semanas

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No país onde mais da metade da população nunca usou um computador, a rede varejista Magazine Luiza vendeu 14 mil PCs apenas nas últimas duas semanas do ano passado. Ela foi a primeira empresa a obter financiamento do BNDES para vender computadores pessoais populares, e, ao baratear as parcelas de pagamento, as vendas explodiram.
O PC popular também faz sucesso em outras redes, como Ponto Frio e Extra. O Wal-Mart também já comprou o computador popular de fabricantes. No entanto, elas ainda trabalham com crédito próprio e sem o selo do projeto "Computador Para Todos", do governo federal, que visa à inclusão digital através de financiamento de PCs de até R$ 1.400.
Essas redes distribuem, algumas desde meados do ano passado, os computadores fabricados dentro das especificações do projeto, mas ainda não completaram todos os trâmites exigidos pelo governo, como obter financiamento do BNDES. Além delas, a Americanas.com já manifestou interesse em entrar no projeto.
No final de 2005, quando o Extra realizou uma promoção de computadores populares, as vendas de PCs dobraram na rede. Em valores, a alta foi de 30%, já que o preço desse PC é menor.
Segundo Hélio Rotenberg, diretor-geral da fabricante de computadores Positivo, a empresa está vendendo o computador popular para várias redes. "Quem está vendendo os maiores volumes até agora são o Magazine Luiza e o Ponto Frio. Para este último vendemos 7.000 máquinas. O Wal-Mart comprou 1.500 PCs."
O BNDES reservou R$ 300 milhões para o projeto, mas, para obter o financiamento, há uma série de exigências (até agora só o Magazine Luiza conseguiu). Empresas de capital estrangeiro não podem participar, regra que o governo estuda mudar.

Vendas em alta
Com ou sem financiamento do governo, as vendas do computador popular vêm ajudando, de outubro de 2005 para cá, nas vendas de computadores em geral. A participação de computadores com o sistema operacional Linux -exigência do governo para os PCs incluídos no projeto- saltou de 3% das vendas da Positivo, em outubro do ano passado, para quase 20% no final de dezembro.
As vendas de computadores do Magazine Luiza cresceram 400% no período em que o PC popular ficou disponível para a venda, por uma entrada mais 24 parcelas de R$ 69,90. O estoque acabou, e a rede já pediu novo financiamento para voltar a vender o produto.
O item pode ser vendido por uma parcela barata e com prazo longo para pagamento porque o varejista toma empréstimo do BNDES com ótimas condições: baixa taxa de juros e prazo de pagamento em 30 meses (os seis primeiros são de carência).
"A demanda tem sido impressionante. Obtivemos financiamento a princípio para 15 mil computadores. Como acabou agora em janeiro, pedimos novo financiamento para 30 mil máquinas", diz Marcelo Rodrigues Neves, gerente de compras do Magazine Luiza.
Sem o fôlego do crédito do governo, as parcelas dos computadores vendidos por algumas outras redes saem mais altas.

Financiamento direto
Pelo programa, o consumidor também pode ser financiado de forma direta pelo governo. Para isso, entretanto, precisa ter crédito aprovado no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, o que acaba sendo um obstáculo.
Até agora, segundo informações do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), foram vendidos apenas 1.600 PCs populares via financiamento direto do BB e da CEF.
Para participar do programa "Computador para todos", o fabricante do computador precisa se credenciar no Ministério da Ciência e Tecnologia. Até agora são 23 credenciados.
Como o lançamento do PC popular com o selo do governo é recente, ainda não é possível dimensionar seu efeito sobre o mercado. Mas a isenção de PIS e Cofins, aprovada em meados do ano passado, aliada à desvalorização do dólar, já mudou o cenário da venda de computadores no Brasil.
No primeiro trimestre de 2004, os computadores clonados, ou seja, montados de forma ilegal, representavam 70,2% do mercado brasileiro. O percentual caiu para 63% no terceiro trimestre de 2005, segundo dados da consultoria IDC Brasil. Ao mesmo tempo, o preço médio do computador pessoal caiu de R$ 1.704 para R$ 1.475, na mesma comparação.
"A isenção foi um avanço. Fabricantes como a Itautec e a HP, que haviam abandonado o varejo por causa da pirataria, estão voltando a vender para o usuário doméstico", diz Dênis Gaia, da IDC.

Texto Anterior: Outro lado: Para fundo, regras foram respeitadas
Próximo Texto: Empresa lança computador pré-pago
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.