São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI já admite que poderá rever metas

MARCELO DIEGO
de Nova York

O FMI (Fundo Monetário Internacional) admite que poderá rever as metas acertadas com o governo brasileiro, no ano passado, para a liberação de um empréstimo total de US$ 41,5 bilhões. A causa da revisão é a desvalorização do real e a nova política de câmbio adotadas pelo governo anteontem.
A informação foi passada para a Folha por um dos membros do Fundo. A revisão seria uma consequência natural, segundo ele, porque a maioria das metas foi fixada em dólar -que valorizou 8%, em média, frente à moeda brasileira em apenas um dia. Essa valorização era esperada em 12 meses.
Segundo o próprio diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, o organismo vai passar os próximos dias analisando e discutindo, com autoridades brasileiras, as implicações da mudança cambial.
As discussões devem acontecer por telefone. Desde 98, o Fundo mantém contato periódico com o governo. O pacote de ajuda ao Brasil é uma composição de recursos do próprio Fundo, do Bird (Banco Mundial), do Bid (Banco Mundial) e do BIS (Banco para Compensações Internacionais).
Para ter direito ao dinheiro, o Brasil se comprometeu com o FMI a executar metas, descritas no programa de ajuste fiscal do governo.
A primeira parcela, de US$ 5,3 bilhões, já foi liberada. A próxima está prevista para fevereiro. Todas as novas liberações de verba acontecerão mediante vistoria do andamento das reformas.
O governo se comprometeu com o Fundo, por exemplo, a ter um saldo comercial positivo de US$ 2,8 bilhões ao final deste ano. As exportações devem somar US$ 57,6 bilhões e as importações estão previstas para atingir US$ 54,8 bilhões. A desvalorização do real pode afetar os dois números.
As metas de superávit primário (que não inclui gastos com juros) são de R$ 2,98 bilhões para o primeiro trimestre e de R$ 2,91 bilhões para o segundo. Elas podem sofrer novas avaliações. Por enquanto a postura do Fundo será a de esperar mais detalhes sobre a condução da política econômica.
Duas pessoas do organismo confirmaram que a missão do FMI, que viajará para o Brasil com a missão de fiscalizar as contas do governo e dar o aval para a segunda parcela, pode ser apressada.
Até segunda ordem, a missão só partiria em fevereiro. A data exata não é divulgada, de acordo com as normas de procedimento da entidade (evitando assim uma possível distorção de números).
Mas a missão poderia ocorrer até o final deste mês, para que o Brasil tivesse à disposição os US$ 4,5 bilhões do segundo vencimento, fortificando as reservas cambiais (que não podem ficar abaixo de US$ 20 bilhões, segundo o acordo).
O Fundo divulgou anteontem uma nota de apoio à mudança cambial brasileira, mas, segundo a agência de notícias IDow Jones', houve descontentamento sobre a condução do processo.
O FMI teria sido informado da mudança na terça-feira à tarde, pelo governo brasileiro. O Fundo teria ficado insatisfeito com a mudança, porque ela teria sido adotada sem um plano consistente por base. O FMI não confirma.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.