São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

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Pregão é interrompido pela 2ª vez

da Reportagem Local

O pânico e os rumores tomaram conta da Bolsa de Valores de São Paulo ontem à tarde. O "circuit breaker", mecanismo que interrompe os pregões toda vez que a queda atinge 10%, foi acionado pelo segundo dia consecutivo, desta vez às 16h46. O mercado ficou fechado por meia hora.
A Bolsa reabriu às 17h16, mas terminou o dia em baixa de 9,96%, sem apresentar recuperação.
No início do dia, a BNDESPar, braço do mercado do BNDES, e as fundações entraram comprando ações com força, a pedido do governo. Queriam aproveitar o otimismo inicial e puxar o preço das ações para cima.
No início do dia, os investidores estavam animados com a aprovação do minipacote do governo federal no Congresso Nacional, que deve render em torno de R$ 6 bilhões aos cofres públicos, e com o bom desempenho dos mercados europeus e dos mercados norte-americanos futuros.
Também o fluxo cambial negativo registrado anteontem, de US$ 1,093 bilhão, foi considerado abaixo das expectativas.
A Bolsa chegou a subir 4,27%. Mas, como afirmou um operador, não adianta remar contra a maré. A crise de credibilidade do país foi mais forte e o mercado despencou.
Para vários investidores, a mididesvalorização dada pelo governo não foi suficiente. "O governo foi conservador no alargamento da banda cambial", diz Nicolas Balafas, do BNP Asset Management.
Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento, pondera que ainda é cedo para fazer avaliações definitivas. Os dois concordam que o indicador crucial para definir a credibilidade do país é o fluxo cambial. "A saída de dólares do país reflete a credibilidade dos investidores internos e externos na nova política cambial", diz Moraes.
A decisão da Standard & Poor's, de rebaixar a nota da dívida do Brasil, deprimiu ainda mais o mercado, que estava tomado por rumores de bancos e fundos quebrando por causa das perdas nos mercado futuros.
Também havia rumores de que o Banco Central não estaria registrando todas as saídas de dólares no Sisbacen, o sistema que informa o fluxo automaticamente aos operadores de câmbio. Para especialistas, no entanto, essa hipótese é praticamente impossível.
Com a queda de ontem, o índice Bovespa, das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, chegou ao patamar de 5.057, o mais baixo desde o dia 10 de setembro, logo após a moratória da Rússia, em agosto. Naquela época, os investidores passaram a acreditar que o Brasil também decretaria moratória.
Desde que o governo de Minas decidiu pelo não-pagamento de suas dívidas, a Bolsa já caiu 31,01%.
(CPL)



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