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RESENHA
Seminário discute interesses e conflitos sobre a Alca
MARCOS MACEDO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O tabuleiro das negociações internacionais -Agenda de Doha coordenada pela
OMC (Organização Mundial do
Comércio), acordo Mercosul-UE,
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas)- impõe uma série de
tarefas e articulações em diferentes instâncias públicas e privadas
para viabilizar uma adequada
participação do Brasil.
Os prazos são exíguos. Nas negociações para a Alca, apresentação de ofertas em bens agrícolas e
industriais, serviços, investimentos e compras governamentais
deverá ocorrer hoje; para a OMC,
em 31 de março; para o Mercosul-UE, em 30 de abril.
Nesse sentido, a divulgação dos
debates e dos trabalhos apresentados em seminário organizado
pela Câmara dos Deputados e pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério
das Relações Exteriores em torno
da formação da Alca é bastante
oportuna. O volume procura discutir os diferentes temas, conflitos
e interesses envolvidos na integração das Américas.
Isso o transforma em uma excelente fonte de pesquisa sobre
acesso a mercado, restrições tarifárias e não-tarifárias, regras de
origem, acordo de serviços, normas sobre compras governamentais e sobre investimentos, estratégias de defesa comercial, política de concorrência, regras de proteção à propriedade intelectual.
As questões debatidas explicitam a hipótese de que a integração americana, se ocorrer, será
mediante um árduo e longo processo. Nem por isso o Brasil deveria ficar de fora, uma vez que 50%
das exportações totais e 70% das
exportações industriais do país
são destinadas às Américas.
Apoio às negociações
Melhor seria se os negociadores
brasileiros tivessem o apoio dos
diferentes setores da sociedade,
como demonstram os trabalhos
de Carlos Nayro de Azevedo Coelho e Marcos Sawaya Jank e André
Meloni Nassar sobre a agricultura. Em outros casos, o Itamaraty
tem encontrado dificuldades,
pois os agentes econômicos brasileiros não têm projetos de internacionalização dos seus interesses para se contrapor às demandas dos estrangeiros pelo acesso
ao mercado doméstico.
Isso fica claro, por exemplo, no
setor de serviços financeiros, em
que diversos países estão pleiteando o acesso ao mercado nacional, mas as instituições financeiras brasileiras não têm projetos
de expansão para o exterior (exceto o Banco Itaú), como indicam
os trabalhos de Mário Marconini
e Vera Thorstensen.
No site da Bovespa/CBLC até se
encontra disponível uma proposta de negociações internacionais
em serviços financeiros. Seria crucial que os agentes financeiros domésticos respaldassem a posição
dos negociadores na defesa dessa
ou de outra proposta, que acharem mais conveniente.
Interesse nacional
A leitura de vários artigos do livro evidencia que o centro da posição brasileira nas negociações
para a formação da Alca deveria
ser o interesse nacional. Como
afirmou o ex-ministro da saúde
José Serra: "Queremos ter mais
comércio com o resto do mundo e
queremos exportar mais" (pág.
58). Além disso, diferentes participantes do seminário defenderam que a Alca deveria incluir
mecanismos de liberalização gradual e respeitar os acordos anteriores entre os países do continente americano, por exemplo, a Aladi (Associação Latino-Americana
de Integração) e o Mercosul.
Até o momento, os sócios do
Mercosul assumiram compromissos comuns para a liberalização do mercado de bens agrícolas
e industriais, mas não em investimento, compras governamentais
e serviços. Os negociadores brasileiros parecem convencidos de
que a negociação em bloco de todos os temas relevantes fortalecerá a posição de cada país e ajudará
a harmonizar as regras do próprio
Mercosul. Dessa forma, continuam procurando viabilizar uma
negociação em conjunto.
Vários interlocutores presentes
no livro também corroboram essa
estratégia. A integração americana será bem-vinda se sua criação
garantir acesso aos mercados
mais dinâmicos, se estabelecer regras compartilhadas sobre mecanismos "antidumping", se reduzir as barreiras não-tarifárias, se
promover a capacidade tecnológica dos povos. Para atingir esses
objetivos, o Brasil precisa contar
com a cooperação das nações latino-americanas.
O BRASIL E A ALCA: SEMINÁRIO.
Organizadores: Marcos Cintra
Albuquerque & Carlos Henrique Cardim.
Câmara dos Deputados e Ministério das
Relações Exteriores/Instituto de
Pesquisa de Relações Internacionais. 508
páginas. (tel.: 0/xx/61/318-6865)
E-mail: publicacoes.cedi@camara.gov.br
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