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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

Hipotecando o futuro

O desmonte a que está sendo submetido o Ministério de Ciência e Tecnologia é amplo, geral e irrestrito. O ministro Roberto Amaral e equipe estão prestes a realizar o feito histórico de, em menos de dois meses, regredir a história da ciência brasileira em dez anos.
Os institutos de pesquisa são o braço operacional do ministério. Incluem-se aí o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Laboratório Nacional de Luz Síncroton, o Instituto de Pesquisas da Amazônia, entre outros. Esses institutos eram supervisionados pela Secretaria de Unidades de Pesquisa. Agora, a secretaria foi extinta, e a supervisão dos institutos, relegada a um escalão inferior do ministério.
Pelas informações veiculadas, os institutos passarão a ser supervisionados pelo secretário-executivo do MCT. Só que as atribuições da secretaria são tão amplas que a tarefa certamente será delegada a assessores.
Os trabalhos de avaliação, peça central de qualquer política pública ou privada, estão sendo jogados no lixo. O Relatório Tundisi -primeiro trabalho de avaliação abrangente dos institutos- está sendo jogado no lixo. Internamente, o secretário-executivo Ricardo Gatass se refere a ele como "um desses relatórios que andam por aí". E não há garantia de que se mantenha o Comitê de Busca, para seleção dos diretores desses institutos.
Na gestão anterior foi criado o Centro de Estudos e Gestão Estratégica, incumbido de produzir estudos e análises prospectivas para a formulação de políticas do setor. Outra função era juntar especialistas nacionais para debater o aprimoramento das aplicações dos fundos. Sob Amaral, deve desaparecer.
O setor de Indicadores de Ciência e Tecnologia do MCT, incumbido de promover levantamentos sobre a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas empresas está sangrando. Estão sendo demitidos profissionais de alto nível, suspeitos de serem "neoliberais", na visão paleolítica do ministro -e a informação me foi prestada por um cientista adepto fervoroso da candidatura Lula.
Um dos grandes avanços dos últimos anos foi a possibilidade de transformação dos institutos em organizações sociais, permitindo avanços extraordinários de gestão, ganhos de eficiência e implantação de processos de cobrança. O Instituto de Matemática Pura e Aplicada e o Laboratório Nacional de Luz Síncroton estão com a existência ameaçada pela possibilidade de o MCT não assinar os termos aditivos dos contratos em andamento.
Daqui a algum tempo, quando a ficha da opinião pública cair, não haverá Fome Zero que poupe o governo Lula da acusação de ter hipotecado o futuro tecnológico do país ao grupo de Garotinho.

Previ
Essa idéia de que "sindicalistas" estão tomando o poder nos fundos de pensão e vão politizar seus recursos precisa ser mais bem ponderada. Pelo menos na Previ, o novo presidente, Sérgio Rosa, é sindicalista, mas também técnico competente. Nos últimos anos, sua atuação e a dos demais representantes dos funcionários na Previ foi fundamental para a preservação da seriedade e solidez do fundo.

E-mail - LNassif@uol.com.br

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