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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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ENERGIA

Alta do petróleo deve elevar preços dos combustíveis e garantir receita maior da estatal para o superávit primário

Gasolina vai pagar esforço extra da Petrobras

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Por causa do aumento da meta de superávit primário, a Petrobras terá de fazer um esforço adicional de caixa neste ano. Contribuirá com R$ 7,1 bilhões em 2003 para que o governo alcance tal objetivo. No ano passado, a participação da estatal foi menor: R$ 5,2 bilhões.
O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, disse que não deve ser necessário cortar investimentos para atingir a meta traçada, pois a alta do petróleo elevará a receita da companhia. Ou seja: será o consumidor que pagará a conta do aperto com o aumento do preço dos combustíveis.
"Se não houver mudança na política de preços, o que eu acho que não vai haver, a alta do petróleo compensa isso [o esforço maior da Petrobras". Infelizmente, o aumento do preço do petróleo pode até ajudar a garantir o superávit da Petrobras."
Com a perspectiva de guerra e a crise na economia mundial, o governo Lula subiu a meta de superávit primário (receitas menos despesas, excluídos os juros da dívida) de 3,75% para 4,25% do PIB.
"Para garantir o superávit, as estatais vão ter de entrar [no esforço fiscal", porque senão não garante", disse Dutra.
Sobre os preços dos combustíveis, Dutra disse que a total paridade com as cotações internacionais é a atual orientação do governo e que ela deve continuar. Uma mudança dessa política, como a introdução de controle de preços, depende dos efeitos da guerra contra o Iraque, afirmou.
"Por enquanto, a posição é acompanhar o mercado. É lógico que depende de qual será a amplitude desse aumento do preço. Como está agora [pouco acima de US$ 35 o barril", dá para manter a atual política."
Segundo Dutra, o preço dos principais derivados -gasolina, diesel e gás- "tem uma pequena defasagem ainda" em relação às cotações internacionais.
Ele descarta reajustes no curtíssimo prazo: "Estamos esperando um pouco para ver se a guerra começa, pois senão já tem de equalizar [os preços] de novo [com uma possível disparada do petróleo após o início do conflito"].
Apesar de dizer que a maior contribuição da Petrobras para o superávit não deverá levar a cortes de investimento, Dutra considera que a guerra e seus reflexos podem atrapalhar projetos da estatal. É que os mercados já estão fechados às captações internacionais, que financiam boa parte dos seus investimentos.
A previsão inicial da Petrobras era investir R$ 7 bilhões em 2002. O valor, diz Dutra, deve ser revisado para baixo em razão da piora do cenário internacional. "O mercado está mais fechado do que se previa", disse, acrescentando que a estimativa era captar cerca de US$ 3 bilhões lá fora neste ano.
Se houver necessidade de cortes, os recursos para expansão da produção de petróleo serão preservados. É prioridade da empresa, diz Dutra, chegar à auto-suficiência em 2005 "ou, no máximo, em 2006". Trata-se da primeira vez que um dirigente da estatal admite não cumprir a meta de 2005. "Estou sendo realista."
A área de exploração e produção de óleo também era na gestão anterior o foco central da estatal.

Agência de promoção
Dutra afirmou que a Petrobras não é uma "agência de promoção do governo", mas reconheceu que sempre haverá, de algum modo, interferência na companhia.
"Essa histórica de que o governo vai ter ingerência na Petrobras não é exclusividade do PT. Na campanha eleitoral, o preço do combustível ficou três meses defasado porque o [José] Serra [ex-candidato do PSDB à Presidência" estrilou quando aumentou [o preço dos combustíveis] em agosto. Foi uma ingerência política."


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