São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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Trocas no BC passarão pelo crivo de Lula

Presidente se reunirá com Meirelles e ministros a fim de avaliar nomes para a diretoria, mas manterá autonomia técnica

Petista faz elogios a Meirelles, mas deseja participar mais das decisões econômicas do governo no segundo mandato


Alan Marques - 1º.jan.07/Folha Imagem
Henrique Meirelles e Lula na posse para o segundo mandato


KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá após o Carnaval com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para avaliar e aprovar novos nomes que deverão integrar a diretoria do BC, segundo apurou a Folha.
A idéia de Lula não é acabar com a autonomia técnica que conferiu ao BC no primeiro mandato. Mas, segundo expressão dele próprio em conversas reservadas, manterá Meirelles "na rédea curta". Ou seja, aumentará o número de vezes em que discutirá decisões econômicas.
Há a expectativa de que Afonso Bevilaqua (diretor de Política Econômica), que já pediu para sair, deixe o posto em breve. Mário Mesquita (diretor de Estudos Especiais) está cotado para assumir o posto.
Outra substituição poderá ser a de Alexandre Tombini (Normas e Organização do Sistema Financeiro), que teve desentendimento com Bevilaqua sobre a taxa de juros.
Como o entrosamento entre o BC e a Fazenda não é dos melhores, Meirelles e sua equipe estão cada vez mais isolados no governo. Isso abre espaço para os petistas insatisfeitos pregarem a troca no comando do BC.
No entanto, Lula tem dado consecutivas mostras de que Meirelles ficará no segundo mandato e, por diversas vezes, o elogiou em reuniões privadas. Anteontem, no relato de parlamentares, teria dito que ele "fica". Os elogios são até citados por colaboradores do presidente do BC ao argumentarem que ele está tranqüilo apesar dos ataques.
Segundo eles, Meirelles têm creditado as críticas à política de juros "à paixão e ao calor" da reforma ministerial e acha natural Lula discutir intensamente qualquer mudança que possa ocorrer no BC.
Lula busca maior participação nas decisões econômicas em vez de simplesmente referendá-las. O mesmo vale para a definição da cúpula do BC. Ele avalia que a reforma ministerial é uma oportunidade "natural" para fazer modificações na diretoria do banco. Meirelles sempre defendeu uma substituição gradual. Ela começaria alguns meses depois da reforma e sairia um diretor por vez.
O cuidado se explica porque a saída de Bevilaqua é simbólica. Visto no Planalto e no PT como o "conservador" que influencia as grandes decisões da instituição, já esteve perto de ser trocado algumas vezes.
Meirelles e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci usavam os ataques para evitar alterações no BC. Argumentavam que o mercado poderia interpretar isso como fim da autonomia técnica do banco.
A Folha apurou que Lula avalia que essa credibilidade está consolidada e, portanto, deseja que Meirelles debata com ele o perfil dos novos diretores. Convencido, encaminhará as escolhas ao Senado, que deve aprová-las. Os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda) deverão participar da reunião de Lula com Meirelles.
Lula teme que o BC seja conservador em excesso num cenário internacional bastante favorável. Para Lula, ao reduzir o ritmo da queda da taxa básica, o BC sinalizou que o processo de queda de juros seria mais demorado. A decisão aconteceu na semana de lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Lula disse a ministros que a decisão do BC "ferrava" a repercussão do PAC e que cobraria explicações de Meirelles.
Em conversas reservadas no encontro do PT no último final de semana, Dilma disse que Lula estava prestando atenção à política monetária e ao câmbio. Disse a dirigentes do partido que a crítica pública que o PT fazia ao BC correspondia à avaliação de bastidor do presidente, mas que ele tinha "a responsabilidade" de evitar o enfraquecimento político da equipe econômica. Lula atuou para suavizar o texto da resolução do Diretório Nacional, limitando o teor das críticas.


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