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Trocas no BC passarão pelo crivo de Lula
Presidente se reunirá com Meirelles e ministros a fim de avaliar nomes para a diretoria, mas manterá autonomia técnica
Petista faz elogios a Meirelles, mas deseja participar mais das decisões econômicas do governo
no segundo mandato
Alan Marques - 1º.jan.07/Folha Imagem
![](../images/b1502200701.jpg) |
Henrique Meirelles e Lula na posse para o segundo mandato |
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá após o
Carnaval com o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, para avaliar e aprovar
novos nomes que deverão integrar a diretoria do BC, segundo
apurou a Folha.
A idéia de Lula não é acabar
com a autonomia técnica que
conferiu ao BC no primeiro
mandato. Mas, segundo expressão dele próprio em conversas reservadas, manterá
Meirelles "na rédea curta". Ou
seja, aumentará o número de
vezes em que discutirá decisões econômicas.
Há a expectativa de que
Afonso Bevilaqua (diretor de
Política Econômica), que já pediu
para sair, deixe o posto em breve. Mário Mesquita (diretor de
Estudos Especiais) está cotado
para assumir o posto.
Outra substituição poderá
ser a de Alexandre Tombini
(Normas e Organização do Sistema Financeiro), que teve desentendimento com Bevilaqua
sobre a taxa de juros.
Como o entrosamento entre
o BC e a Fazenda não é dos melhores, Meirelles e sua equipe
estão cada vez mais isolados no
governo. Isso abre espaço para
os petistas insatisfeitos pregarem a troca no comando do BC.
No entanto, Lula tem dado
consecutivas mostras de que
Meirelles ficará no segundo
mandato e, por diversas vezes,
o elogiou em reuniões privadas. Anteontem, no relato de
parlamentares, teria dito que
ele "fica". Os elogios são até citados por colaboradores do
presidente do BC ao argumentarem que ele está tranqüilo
apesar dos ataques.
Segundo eles, Meirelles têm
creditado as críticas à política
de juros "à paixão e ao calor" da
reforma ministerial e acha natural Lula discutir intensamente qualquer mudança que
possa ocorrer no BC.
Lula busca maior participação nas decisões econômicas
em vez de simplesmente referendá-las. O mesmo vale para a
definição da cúpula do BC. Ele
avalia que a reforma ministerial é uma oportunidade "natural" para fazer modificações na
diretoria do banco. Meirelles
sempre defendeu uma substituição gradual. Ela começaria
alguns meses depois da reforma e sairia um diretor por vez.
O cuidado se explica porque
a saída de Bevilaqua é simbólica. Visto no Planalto e no PT
como o "conservador" que influencia as grandes decisões da
instituição, já esteve perto de
ser trocado algumas vezes.
Meirelles e o ex-ministro da
Fazenda Antonio Palocci usavam os ataques para evitar alterações no BC. Argumentavam
que o mercado poderia interpretar isso como fim da autonomia técnica do banco.
A Folha apurou que Lula
avalia que essa credibilidade
está consolidada e, portanto,
deseja que Meirelles debata
com ele o perfil dos novos diretores. Convencido, encaminhará as escolhas ao Senado, que
deve aprová-las. Os ministros
Dilma Rousseff (Casa Civil),
Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda)
deverão participar da reunião
de Lula com Meirelles.
Lula teme que o BC seja conservador em excesso num cenário internacional bastante
favorável. Para Lula, ao reduzir
o ritmo da queda da taxa básica, o BC sinalizou que o processo de queda de juros seria mais
demorado. A decisão aconteceu na semana de lançamento
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Lula disse a ministros que a
decisão do BC "ferrava" a repercussão do PAC e que cobraria explicações de Meirelles.
Em conversas reservadas no
encontro do PT no último final
de semana, Dilma disse que
Lula estava prestando atenção
à política monetária e ao câmbio. Disse a dirigentes do partido que a crítica pública que o
PT fazia ao BC correspondia à
avaliação de bastidor do presidente, mas que ele tinha "a responsabilidade" de evitar o enfraquecimento político da
equipe econômica. Lula atuou
para suavizar o texto da resolução do Diretório Nacional, limitando o teor das críticas.
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