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Petrobras diz que não aceita redução de gás boliviano
Governo de Evo Morales propôs ao Brasil diminuição "voluntária" no volume para atender mercado da Argentina durante o inverno
DA SUCURSAL DO RIO
A Petrobras rejeitou ontem o
pedido do governo da Bolívia
para reduzir o consumo de gás
importado do país vizinho com
o objetivo de deslocar parte do
produto para suprir a Argentina. O recado foi dado durante
reunião da cúpula da estatal
brasileira com o vice-presidente boliviano, Álvaro Garcia Linera, e do ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.
"[Informamos] ao vice-presidente da Bolívia a impossibilidade de reduzir a demanda de
30 milhões de metros cúbicos
por dia de gás natural previsto
no contrato de compra firmado
com a estatal boliviana, mais o
volume de gás necessário à operação do sistema."
Anteontem, Linera esteve
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Pediu a ele uma
"redução voluntária" no consumo brasileiro a fim de que a Argentina tivesse gás no próximo
inverno -o insumo é usado no
aquecimento. A questão seria
discutida pelos presidentes Lula, Evo Morales (Bolívia) e Cristina Kirchner (Argentina).
Para Linera, não seria uma
quebra de contrato com a Petrobras, mas sim uma forma de
"equilibrar" o suposto excesso
de gás destinado ao Brasil e a
escassez que afeta a Argentina.
A proposta da Bolívia era fornecer 27 milhões a 29 milhões
de metros cúbicos diários de
gás-média histórica de consumo. O contrato, segundo Linera, prevê 32 milhões de metros
cúbicos/dia -a Petrobras diz
que são 30 milhões. A sobra seria descolada para a Argentina.
"O volume de consumo médio histórico que o Brasil usa do
gás boliviano está absolutamente garantido e não está em
debate. O que está em debate
são volumes novos de gás, além
dos volumes médios históricos", disse o vice-presidente.
Caso fosse confirmada, a redução prejudicaria indústrias
brasileiras, segundo grandes
consumidores de gás natural.
A Abividro (Associação das
Indústrias Automáticas de Vidro) classificou a idéia de absurda e disse que o Brasil não
pode resolver os problemas argentinos.
"Sou brasileiro, fizemos um
contrato e temos direito de receber esse gás. Se houver redução da oferta, vai fazer falta",
afirmou o superintendente Lucien Belmonte.
Linera reclamou ainda da falta de investimentos na Bolívia,
que inviabilizam o aumento da
produção de gás. Ontem, a Petrobras disse "foram discutidas
as condições para [novos] investimentos da companhia na
Bolívia". Citou, entre eles, os
destinados aos campos de San
Alberto e San Antonio, onde a
estatal já produz, e no de Ingre.
Linera e sua comitiva estiveram reunidos com a direção do
BNDES. Ao presidente do banco, Luciano Coutinho, e sua
equipe apresentaram projeto
de construção de um complexo
de duas estradas.
A Bolívia quer que o BNDES
financie o projeto, orçado em
US$ 431 milhões. O banco estuda a proposta, mas só pode
apoiá-la se uma construtora
brasileira ganhar a licitação.
(PEDRO SOARES)
Com VERENA FORNETTI, colaboração para a Folha
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