São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Cidade do petróleo, Macaé tem blindagem contra o desemprego

SAMANTHA LIMA
ENVIADA ESPECIAL A MACAÉ (RJ)

Em bairros nobres de Macaé, cidade de 170 mil habitantes no norte do Rio, falta rede de esgoto. Nessas áreas, são comuns alagamentos quando chove e calçadas estão tomadas por capim. Desafiando a falta de infraestrutura, prédios em construção e novos estabelecimentos comerciais indicam, porém, que Macaé é uma cidade próspera -e imune ao desemprego. A economia local, que vive em razão da produção de petróleo na bacia de Campos, criou 4.589 vagas enquanto o mundo mergulhava na crise.
Em criação de empregos entre setembro e dezembro, Macaé perdeu apenas para a capital, segundo o Ministério do Trabalho. No Rio, com 20 vezes mais habitantes, foram abertas 22 mil vagas. Os setores mais dinâmicos em Macaé foram os de prestação de serviços e construção civil.
Macaé está blindada contra a crise graças a sua geografia. Ponto continental mais próximo da bacia de Campos, de onde saem 88% da produção de petróleo do país, a cidade se tornou sede operacional da Petrobras em 1977. Trouxe consigo empresas do mundo inteiro que prestam serviços técnicos à operação das plataformas. Com elas, vieram seus trabalhadores -a população local triplicou desde 1980. E, a reboque, empresas de serviço, comércio e construção civil.
Empresa que avalia as condições dos poços de petróleo, a Expro contratou 13 pessoas nos últimos quatro meses do ano. Hoje a empresa tem 190 funcionários na cidade, a maior operação da América Latina. Os planos traçados na euforia do preço do petróleo, antes da crise, eram triplicar a área operacional da empresa em Macaé e duplicar o número de funcionários em três anos, atenta à exploração do pré-sal na bacia vizinha, a de Santos.
Com o preço do barril em queda, desde a crise, o coordenador de treinamento da Expro, Humberto Santos, estava pronto para ouvir da matriz a ordem para segurar os planos. "Depois que a Petrobras anunciou que aumentaria seus investimentos de US$ 112 bilhões para US$ 174 bilhões até 2013, a Expro confirmou os planos, apesar da crise", diz Santos.
Mineiro de Itajubá, o engenheiro Carlos Madaleno trocou a Embraer, em São José dos Campos, pela Expro. Agora, prepara-se para contratar 40 pessoas nos próximos 18 meses para a área que coordena. Todos de nível técnico e superior. "Para quem é qualificado, há muitas oportunidades", diz.
Com o fluxo de visitantes a negócios, o setor hoteleiro foi um dos que mais se desenvolveram na cidade. Aberto em agosto -um mês, portanto, antes da piora da crise-, o hotel Mercure, do grupo francês Accor, começou com 49 funcionários. Três meses depois, o gerente-geral Márcio Delgado decidiu contratar mais 6 pessoas. "A julgar pela ocupação até agora, devo chegar a 60 até março", afirma Delgado.
No Mercure, metade dos trabalhadores veio de fora de Macaé. Adriana Vasconcelos, 23, deixou o emprego de operadora de telemarketing no Rio para tentar a sorte na cidade. "Quero crescer aqui", diz.
O gaúcho Antônio Figueira, chefe de cozinha, e a baiana Geórgia Adauto, "maître", também chegaram no fim do ano. "Trabalhava em uma plataforma. Recebi a proposta e decidi aceitar", diz Figueira.
Com sede em Barra Mansa, no sul do Rio, a vidraçaria Metalfran tinha em Macaé a origem de 20% de seu faturamento. Com a crise que assolou o sul do Estado, onde estão instaladas montadoras, fábricas de autopeças e siderúrgicas, a tendência é que isso se inverta. "Enquanto lá as coisas vão mal, aqui não falta trabalho, com tanta obra. Estudamos abrir um escritório aqui e contratar 20 pessoas", diz o supervisor Francisco Souza.


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