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Crise estimula a procura por franquias
Executivos que perderam o emprego e investidores com medo da Bolsa fazem até dobrar a demanda por informações sobre redes
Especialista indica cautela aos novos empreendedores e diz que a rentabilidade do sistema de franchising pode decepcionar investidores
RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO
O setor de franquias no país
tem se beneficiado da crise e do
cenário de incerteza econômica para gerar novos negócios.
Segundo a ABF (Associação
Brasileira de Franchising), o
número de consultas de interessados em estrear nesse mercado cresceu cerca de 20% nos
meses de dezembro e janeiro
em relação aos mesmos períodos de um ano antes.
Em algumas redes, contudo,
a procura chegou a duplicar
-executivos desempregados e
empreendedores que não têm
mais segurança de abrir um negócio de marca própria fazem
as sondagens.
O setor de alimentação está
entre os mais requisitados
-por sua suposta imunidade a
recessões. "A preocupação em
economizar levou a uma explosão dos fast food nos Estados
Unidos, e aqui também já notamos uma migração [de frequentadores de restaurantes à
la carte para lanchonetes]", diz
Giuliano Ivankiw, gerente de
expansão da Subway no Brasil.
A cadeia, que tem 215 restaurantes no país, registrou alta de
40% nas vendas em dezembro
de 2008 ante igual período de
2007. Numa estimativa classificada como "conservadora",
quer abrir cem lojas em 2009
(veja quadro nesta página).
Embora ainda não divulgue
seus planos de expansão para a
América Latina, o McDonald's,
maior rede de restaurantes do
mundo, é outra franquia que
ganhou fôlego com a crise. Segundo a matriz americana, devem ser abertas mil lojas em todo o planeta neste ano.
No mercado nacional, a rede
pretende estrear em novas capitais e manter "o forte crescimento" em 2009, diz Dorival
Oliveira, diretor de desenvolvimento e expansão do McDonald's Brasil. A rede abriu 87
pontos no país em 2008.
"A franquia é uma compra de
emprego. A pessoa investe para
manter a sua renda", diz Antonio Carlos Nasraui, diretor comercial e de marketing da Rei
do Mate, que fechou 2008 com
260 lojas. "A crise parece ter
adiantado a definição dos investimentos em franquias."
Nasraui calcula aumento de
30% na demanda por informações da marca desde setembro.
Chavões
Mas o professor de empreendedorismo da FGV (Fundação
Getulio Vargas) Tales Andreassi vê dois "chavões perigosos"
entre os entusiastas do investimento. O primeiro, de que toda
crise traz oportunidades de ganho. "Isso pode ser aplicado a
poucas pessoas. Para a maioria,
a verdade é que é muito mais fácil prosperar em um ambiente
de crescimento econômico."
O segundo, de que o setor de
alimentação é imune a crises.
"Gastos com alimentação fora
de casa são os primeiros a serem cortados. Um sanduíche
no fast food custa R$ 15, contra
R$ 2 no supermercado, feito
em casa", avalia.
Há de fato uma tendência de
crescimento de franquias na
crise, observa Andreassi, mas
ela não deve ofuscar a necessidade de planejamento do negócio (leia texto nesta página).
A própria ABF alerta para o
fato de que o empreendedorismo em tempos turbulentos não
é uma panaceia. "Nenhuma rede tirou o pé do acelerador nos
investimentos, mas pouco
adianta as redes expandirem
muito o número de lojas agora.
Se a crise aumentar muito, vai
prejudicar a todos [com uma
possível queda na receita]" ,
afirma Ricardo Camargo, diretor-executivo da entidade.
"Já sentimos que o consumidor está com mais medo de gastar, e houve tanto uma migração de restaurantes para praças
de alimentação como a saída de
clientes que comiam em shoppings e pararam", diz Rodrigo
Perri, da Vivenda do Camarão,
que viu a procura por informações sobre novas lojas crescer
25% desde setembro.
Comida e diversão
Outro fator a levar em conta
é que o mercado de refeições
funciona de modo diferente no
Brasil e em países ricos.
Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, as redes de
fast food oferecem o tipo de refeição mais barata disponível
fora de casa e por isso tiram
clientes de restaurantes tradicionais na crise. No Brasil, há a
concorrência com os restaurantes de comida a quilo, que
chegam a cobrar menos do que
as grandes cadeias.
Contra isso, a ordem é transformar o fast food em "experiência de consumo" e abrir
vantagem ante os bufês. "Além
de estarmos no setor de alimentação, estamos também no
de lazer. O fast food é um programa, um passeio", diz Flávio
Maia, diretor de desenvolvimento da BFFC, controladora
da rede Bob's e gestora da marca KFC no país.
Embora o resultado de vendas do Bob's seja positivo -em
janeiro, o crescimento foi de
10% sobre janeiro de 2008-, a
rede já sentiu desaceleração,
pois até agosto a média mensal
de crescimento era de 20%. A
exemplo do resto do setor, contudo, a rede expressa otimismo
e prevê abrir 90 lojas em 2009.
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