São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Crise estimula a procura por franquias

Executivos que perderam o emprego e investidores com medo da Bolsa fazem até dobrar a demanda por informações sobre redes

Especialista indica cautela aos novos empreendedores e diz que a rentabilidade do sistema de franchising pode decepcionar investidores


RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO

O setor de franquias no país tem se beneficiado da crise e do cenário de incerteza econômica para gerar novos negócios. Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising), o número de consultas de interessados em estrear nesse mercado cresceu cerca de 20% nos meses de dezembro e janeiro em relação aos mesmos períodos de um ano antes.
Em algumas redes, contudo, a procura chegou a duplicar -executivos desempregados e empreendedores que não têm mais segurança de abrir um negócio de marca própria fazem as sondagens.
O setor de alimentação está entre os mais requisitados -por sua suposta imunidade a recessões. "A preocupação em economizar levou a uma explosão dos fast food nos Estados Unidos, e aqui também já notamos uma migração [de frequentadores de restaurantes à la carte para lanchonetes]", diz Giuliano Ivankiw, gerente de expansão da Subway no Brasil.
A cadeia, que tem 215 restaurantes no país, registrou alta de 40% nas vendas em dezembro de 2008 ante igual período de 2007. Numa estimativa classificada como "conservadora", quer abrir cem lojas em 2009 (veja quadro nesta página).
Embora ainda não divulgue seus planos de expansão para a América Latina, o McDonald's, maior rede de restaurantes do mundo, é outra franquia que ganhou fôlego com a crise. Segundo a matriz americana, devem ser abertas mil lojas em todo o planeta neste ano.
No mercado nacional, a rede pretende estrear em novas capitais e manter "o forte crescimento" em 2009, diz Dorival Oliveira, diretor de desenvolvimento e expansão do McDonald's Brasil. A rede abriu 87 pontos no país em 2008.
"A franquia é uma compra de emprego. A pessoa investe para manter a sua renda", diz Antonio Carlos Nasraui, diretor comercial e de marketing da Rei do Mate, que fechou 2008 com 260 lojas. "A crise parece ter adiantado a definição dos investimentos em franquias." Nasraui calcula aumento de 30% na demanda por informações da marca desde setembro.

Chavões
Mas o professor de empreendedorismo da FGV (Fundação Getulio Vargas) Tales Andreassi vê dois "chavões perigosos" entre os entusiastas do investimento. O primeiro, de que toda crise traz oportunidades de ganho. "Isso pode ser aplicado a poucas pessoas. Para a maioria, a verdade é que é muito mais fácil prosperar em um ambiente de crescimento econômico."
O segundo, de que o setor de alimentação é imune a crises. "Gastos com alimentação fora de casa são os primeiros a serem cortados. Um sanduíche no fast food custa R$ 15, contra R$ 2 no supermercado, feito em casa", avalia.
Há de fato uma tendência de crescimento de franquias na crise, observa Andreassi, mas ela não deve ofuscar a necessidade de planejamento do negócio (leia texto nesta página).
A própria ABF alerta para o fato de que o empreendedorismo em tempos turbulentos não é uma panaceia. "Nenhuma rede tirou o pé do acelerador nos investimentos, mas pouco adianta as redes expandirem muito o número de lojas agora. Se a crise aumentar muito, vai prejudicar a todos [com uma possível queda na receita]" , afirma Ricardo Camargo, diretor-executivo da entidade.
"Já sentimos que o consumidor está com mais medo de gastar, e houve tanto uma migração de restaurantes para praças de alimentação como a saída de clientes que comiam em shoppings e pararam", diz Rodrigo Perri, da Vivenda do Camarão, que viu a procura por informações sobre novas lojas crescer 25% desde setembro.

Comida e diversão
Outro fator a levar em conta é que o mercado de refeições funciona de modo diferente no Brasil e em países ricos.
Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, as redes de fast food oferecem o tipo de refeição mais barata disponível fora de casa e por isso tiram clientes de restaurantes tradicionais na crise. No Brasil, há a concorrência com os restaurantes de comida a quilo, que chegam a cobrar menos do que as grandes cadeias.
Contra isso, a ordem é transformar o fast food em "experiência de consumo" e abrir vantagem ante os bufês. "Além de estarmos no setor de alimentação, estamos também no de lazer. O fast food é um programa, um passeio", diz Flávio Maia, diretor de desenvolvimento da BFFC, controladora da rede Bob's e gestora da marca KFC no país.
Embora o resultado de vendas do Bob's seja positivo -em janeiro, o crescimento foi de 10% sobre janeiro de 2008-, a rede já sentiu desaceleração, pois até agosto a média mensal de crescimento era de 20%. A exemplo do resto do setor, contudo, a rede expressa otimismo e prevê abrir 90 lojas em 2009.


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