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Onda de liminares reabre postos em São Paulo
Decisões judiciais dificultam combate à venda de combustível adulterado
Governo paulista tenta revogar na Justiça 110
liminares concedidas a
postos flagrados com
produto irregular na bomba
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O combate à venda de combustível adulterado no mercado paulista está comprometido
por decisões judiciais favoráveis à reabertura de postos que
tiveram a inscrição estadual
cassada pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
A Sefaz tenta revogar na Justiça 110 liminares concedidas a
postos que operam mesmo
após serem flagrados com a
venda de produto irregular.
De abril de 2005 até agora,
631 postos tiveram a inscrição
estadual cassada no Estado.
Sem inscrição estadual, todo
estabelecimento fica impossibilitado de comprar e vender
mercadorias, além de emitir
notas fiscais.
A maioria dos postos fechados pela Sefaz vende combustíveis que não atendem às especificações da ANP (Agência Nacional do Petróleo), como proporção maior de álcool do que o
permitido (de 25%) na gasolina
e mistura de solventes.
"A decisão da Justiça tem de
ser respeitada. Recorremos para cassar as 110 liminares e pedimos à Policia Civil a abertura
de inquérito", diz Sidney Sanches, diretor-adjunto da Deat
(Diretoria Executiva da Administração Tributária) da Sefaz.
A maioria das liminares é
concedida porque o posto é impedido de levar um técnico para acompanhar o teste feito
com a amostra de combustível
na segunda contraprova.
"O entendimento de institutos credenciados pela ANP, como o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas] e a Unicamp,
é que o teste não pode ser visto
por técnicos indicados pelos
postos, pois eles poderiam descobrir a fórmula usada para detectar o combustível adulterado", afirma o diretor da Deat.
"A Justiça tem entendido
que está assegurado o direito
do posto de acompanhar com
um técnico o teste com a contraprova e que não há possibilidade de haver fórmula secreta.
Por isso são dadas as liminares", diz Henrique Nelson Calandra, presidente da Associação Paulista de Magistrados.
O IPT afirma, por meio de
sua assessoria de imprensa, que
"não dá acesso para representantes de postos aos ensaios de
combustíveis em razão de contrato com cláusula de confidencialidade com a ANP. O IPT age
dessa forma dentro da lei, pois,
até o momento, não existe nenhuma decisão judicial com
trânsito em julgado que determine esse acompanhamento".
Para a ANP, os donos de postos deveriam acompanhar a
análise do combustível na segunda contraprova. "Esse é um
direito do dono do posto, mas,
por problemas operacionais, o
IPT impede esse acompanhamento", diz Alcides Amazonas
dos Santos, chefe de fiscalização da ANP em São Paulo.
A expansão de liminares no
Estado de São Paulo e a concorrência desleal com postos que
estariam operando de forma irregular levaram o Sindicom,
sindicato das distribuidoras de
combustíveis, a iniciar neste
mês um movimento para levar
informações sobre o mercado
para o Poder Judiciário.
"Estamos preocupados com
o excesso de liminares concedidas a postos em São Paulo. Procuramos o Judiciário para esclarecer sobre o funcionamento do setor. Até porque, se um
posto que vende produto adulterado volta a operar da mesma
forma, quem é prejudicado é o
consumidor", diz Jorge Luiz
Oliveira, diretor do Sindicom.
Calandra afirma que já recebeu nesta semana diretores do
Sindicom para discutir as liminares e ficou acertada a realização de seminário com a participação de representantes da
Justiça, do Ministério Público,
da Sefaz, do Procon, de distribuidoras e de redes de postos.
Defesa ampla
"O problema não está na concessão de liminares pela Justiça. O ato de fechar um posto
tem de estar precedido de todos os cuidados. Donos de postos alegam que há falhas na coleta do combustível para a realização da contraprova. Esse é
um tema extremamente complexo. Nós seguimos a Constituição, que determina a ampla
defesa no processo administrativo e no judicial", diz Calandra.
Se um posto tem liminar para
voltar a operar, segundo Calandra, não significa que ele não
possa ser fechado novamente,
caso a Sefaz faça novo teste e
encontre venda de combustível
irregular. "No meu entendimento, o que deveria haver é
um sistema de controle capaz
de evitar a adulteração, como
lacres nos tanques pelas distribuidoras, como se fosse uma
urna eleitoral", diz Calandra.
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