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JOGO DE DADOS
Levantamento mostra diferença de 48 mil vagas entre o total divulgado por associação nacional e o das estatuais
Número de empregos em bingos é inflado
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma jogada de números está
por trás dos dados sobre empregos em bingos no Brasil. Para a
Abrabin (Associação Brasileira
dos Bingos), o setor emprega, de
forma direta, 120 mil pessoas.
No entanto, segundo levantamento da Folha feito com base
em números de seis associações
estaduais e uma regional, são no
máximo 71.950 funcionários
-uma diferença de 40%.
Além disso, nem todos os empregos do setor estão amparados
pela CLT (Consolidação das Leis
do Trabalho). Segundo a Procuradoria do Trabalho, o uso de terceirização irregular e de cooperativas fraudulentas faz parte do negócio de bingos no país.
A bandeira da preservação de
empregos é a principal arma utilizada pelo setor para pressionar o
governo a reabrir os bingos e a regulamentar a atividade no país.
No dia 20 de fevereiro, o presidente Lula proibiu o funcionamento de bingos e de máquinas
caça-níqueis no país. Foi uma reação à crise gerada pela divulgação
de fita de vídeo na qual o ex-subchefe da Casa Civil da Presidência
Waldomiro Diniz pede propina a
um empresário do bingo.
A contradição nos números foi
constatada em levantamento feito
pela Folha a partir de informações de sete entidades do setor e
em 12 Estados não-representados
por associações.
Nas contas mais generosas dessas sete associações (seis estaduais
e uma regional), os bingos empregam 69,45 mil pessoas -são 45
mil em São Paulo, 10 mil no Rio
Grande do Sul, 6.000 no Rio de Janeiro, 3.500 em Santa Catarina,
3.000 no Nordeste, 1.800 em Minas Gerais e 150 no Paraná. Nos
demais 12 Estados, são pouco
mais 2.500 pessoas.
Para calcular as vagas nos 12 Estados sem associações estaduais, a
Folha usou o critério da própria
Abrabin: cada bingo emprega, em
média, cem pessoas. Como nesses
Estados existiriam 25 bingos (filiados à Abrabin), chega-se a
2.500 empregos diretos.
Sem impacto
Os empregos nos bingos não-filiados à Abrabin -se é que todas
essas entidades existem, já que as
informações sobre o setor não são
precisas- não têm impacto nessas contas, segundo a Folha apurou com empresários, advogados,
sindicalistas e funcionários.
A confusão nos cálculos de
quanto o setor emprega é tamanha que os postos de trabalho
constatados pela reportagem podem ser ainda inferiores aos 71,95
mil divulgados pelas associações.
No Rio Grande do Sul, Márcio
Augusto da Silva, presidente da
entidade gaúcha de bingos, disse
que os cem bingos no Estado empregam 10 mil diretamente e, de
forma indireta, 15 mil.
Nos cálculos da Febrabingo (Federação Brasileira dos Bingos, entidade parceira da Abrabin), são
apenas 3.000 empregos diretos no
Estado. O levantamento da Folha
usou o número mais alto.
Em Santa Catarina também há
divergências nos números de estabelecimentos. Ezequiel Maia,
presidente da associação catarinense de bingos, informa que
existem 30 casas no Estado, que
empregam 3.500 pessoas. Nas
contas da Abrabin, são 27 casas. A
situação se repete no Rio de Janeiro: para a associação estadual são
42 casas e, para a nacional, 34.
Contradição
A própria Abrabin demorou
quatro dias para informar a quantidade exata de bingos em São
Paulo. Entre terça e sexta-feiras da
semana passada, forneceu quatro
números diferentes: 460, 307, 486
(número esse fornecido pelo presidente da entidade) e, por último, 302 bingos. Até no número
de associações existe contradição.
A assessoria da Abrabin informa
que existiam sete no país. O presidente da associação diz que são
dez. Para a Febrabingo, são oito.
A Folha localizou sete associações: SP, RJ, MG, RS, SC e PR e
uma regional, no Nordeste.
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