|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O álcool é nosso
Por qualquer prisma
que se olhe, o complexo sucroalcooleiro continuará sendo dos mais promissores setores do país nas próximas décadas. Não apenas pela produção
de açúcar e de álcool.
Segundo Maurício Tomalsquim, presidente da EPE (Empresa de Planejamento Energético), o órgão incumbido das
previsões sobre o consumo de
energia do país, com o aproveitamento do bagaço de cana e
da energia da palha de cana, o
custo de produção de energia a
partir da cana torna-se imbatível. Muito mais quando se
chegar à tecnologia da gaseificação. Mais que isso, em torno
das usinas podem ser erguidos
complexos alcoolquímicos, o
que fará com que o setor consiga agregar cada vez mais valor
à sua produção.
Não fica nisso. Para tornar o
álcool uma commodity internacional, uma alternativa viável ao petróleo, haverá a necessidade de mais centros produtores do combustível. O Ocidente não trocará a dependência de petróleo do Oriente Médio, pela dependência de álcool do Brasil. Por isso mesmo,
é de total interesse do país que
surjam países competidores.
Dentre todos os continentes, a
África é quem oferece as condições mais favoráveis, depois do
Brasil.
Aí se entra em uma questão
estratégica fundamental: como levar a tecnologia da produção de álcool para outros
países. No momento, fala-se
em transferência de tecnologia, em programas de parceria.
Mas o universo que se tem pela
frente é muito maior. Se o visionário Jorge Wolney Atalla,
o presidente da Copersucar dos
anos 70, fosse exercitar seu empreendedorismo hoje em dia, o
setor poderia se transformar
em um gigante multinacional.
A maneira seria modernizar
a estrutura societária das usinas, induzi-las a programas de
fusão e identificar empreendedores com visão estratégica para se instalarem em outros países, ou seja, comandar o processo de diversificação das fontes produtoras de álcool -e
não meramente transferir tecnologia.
Hoje em dia existe uma indústria de fundos com capital
suficiente para bancar esse empreendimento, existe um conhecimento da economia internacional muito maior do
que em qualquer outro tempo,
existem instrumentos de seguro contra riscos-país. E produzir álcool em outro país é muito mais do que levar mudas de
cana. Significa exportar bens
de capital, ter capacidade de
influir nos preços internacionais.
É essa visão que falta ao setor, ainda muito dominado
por empresas familiares, baseadas no mesmo modelo de
expansão dos anos 70. Em momentos de fartura, compram
mais terras, instalam usinas
um pouco mais distantes, mas
são mantidos a estrutura familiar e o modelo tradicional de
capitalização.
Vale a pena pensar em uma
política para o setor que o leve
a pensar grande. Nos últimos
anos, o Brasil conseguiu
aprender a fazer diplomacia
comercial, já existem multinacionais brasileiras com "know-how" para tratar com governos de países mais atrasados,
existem recursos e o futuro estratégico do álcool está suficiente claro para permitir saltos mais ousados de nossos
produtores.
E-mail: Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Elétrica doa geladeira contra desperdício Próximo Texto: Comunicações: Europeus pedem encontro com Lula sobre TV digital Índice
|