São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

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LUÍS NASSIF

O álcool é nosso

Por qualquer prisma que se olhe, o complexo sucroalcooleiro continuará sendo dos mais promissores setores do país nas próximas décadas. Não apenas pela produção de açúcar e de álcool.
Segundo Maurício Tomalsquim, presidente da EPE (Empresa de Planejamento Energético), o órgão incumbido das previsões sobre o consumo de energia do país, com o aproveitamento do bagaço de cana e da energia da palha de cana, o custo de produção de energia a partir da cana torna-se imbatível. Muito mais quando se chegar à tecnologia da gaseificação. Mais que isso, em torno das usinas podem ser erguidos complexos alcoolquímicos, o que fará com que o setor consiga agregar cada vez mais valor à sua produção.
Não fica nisso. Para tornar o álcool uma commodity internacional, uma alternativa viável ao petróleo, haverá a necessidade de mais centros produtores do combustível. O Ocidente não trocará a dependência de petróleo do Oriente Médio, pela dependência de álcool do Brasil. Por isso mesmo, é de total interesse do país que surjam países competidores. Dentre todos os continentes, a África é quem oferece as condições mais favoráveis, depois do Brasil.
Aí se entra em uma questão estratégica fundamental: como levar a tecnologia da produção de álcool para outros países. No momento, fala-se em transferência de tecnologia, em programas de parceria. Mas o universo que se tem pela frente é muito maior. Se o visionário Jorge Wolney Atalla, o presidente da Copersucar dos anos 70, fosse exercitar seu empreendedorismo hoje em dia, o setor poderia se transformar em um gigante multinacional.
A maneira seria modernizar a estrutura societária das usinas, induzi-las a programas de fusão e identificar empreendedores com visão estratégica para se instalarem em outros países, ou seja, comandar o processo de diversificação das fontes produtoras de álcool -e não meramente transferir tecnologia.
Hoje em dia existe uma indústria de fundos com capital suficiente para bancar esse empreendimento, existe um conhecimento da economia internacional muito maior do que em qualquer outro tempo, existem instrumentos de seguro contra riscos-país. E produzir álcool em outro país é muito mais do que levar mudas de cana. Significa exportar bens de capital, ter capacidade de influir nos preços internacionais.
É essa visão que falta ao setor, ainda muito dominado por empresas familiares, baseadas no mesmo modelo de expansão dos anos 70. Em momentos de fartura, compram mais terras, instalam usinas um pouco mais distantes, mas são mantidos a estrutura familiar e o modelo tradicional de capitalização.
Vale a pena pensar em uma política para o setor que o leve a pensar grande. Nos últimos anos, o Brasil conseguiu aprender a fazer diplomacia comercial, já existem multinacionais brasileiras com "know-how" para tratar com governos de países mais atrasados, existem recursos e o futuro estratégico do álcool está suficiente claro para permitir saltos mais ousados de nossos produtores.


E-mail: Luisnassif@uol.com.br

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