São Paulo, sábado, 15 de março de 2008

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Mercado Aberto

guilherme.barros@uol.com.br

Ameaça de subir juro foi tática do BC, diz Tendências

O tom de ameaça de aumento dos juros da ata do Copom divulgada na quinta-feira pode ser uma estratégia do Banco Central para influenciar as expectativas do mercado e evitar que ele tenha que aumentar a Selic. Os juros no mercado futuro subiram nos últimos dias, o que pode ser um sinal de que o BC pode ser bem-sucedido.
A tese é da economista Ana Carla Abrão Costa, da consultoria Tendências. Para ela, foi por essa razão que o Banco Central ignorou solenemente todos os poucos dados positivos que foram divulgados entre as reuniões de janeiro e março.
"O Banco Central quer influenciar expectativas e, para isso, não pode passar a impressão de que está se valendo de melhoras pontuais no cenário para manter a taxa de juros inalterada", diz a economista.
O Banco Central ignorou, por exemplo, a melhora recente nos índices de inflação e a estabilidade do nível de utilização da capacidade instalada, um indicador que mede a ocupação na indústria e que está parado há dois meses, depois de uma alta expressiva em 2007.
Ao adotar essa estratégia e se for bem-sucedido, Ana Carla acha que o Banco Central ganha mais tempo para que o ciclo de investimentos, que hoje já atinge 20 meses, transforme-se em aumento efetivo de capacidade e traduza-se em maior oferta doméstica e alívio para o cenário inflacionário.
"Se não tiver sucesso ou se a oferta não der conta desse ritmo forte imposto pela demanda, a resposta virá via juros", diz a economista.
Para que o Banco Central seja bem-sucedido nessa sua estratégia, declarações de membros do governo com críticas ao BC e com questionamentos à eventual necessidade de aumento dos juros só atrapalham esse trabalho de coordenação da autoridade monetária e tornam mais provável um eventual aumento de juros.
As críticas mais fortes do governo partiram de Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Marcio Pochmann (Ipea).
Para saber exatamente de que lado está o Banco Central, só na próxima reunião do Copom, dias 15 e 16 de abril. Se for mesmo uma estratégia a ameaça de aumentar os juros e os números da economia -como a inflação e o nível de utilização da capacidade instalada- continuarem melhorando, o BC pode não mexer na Selic e mais para a frente até voltar a pensar em baixar os juros. Mas, se os números piorarem, o BC terá de reagir, e rápido.

Fundos de sustentabilidade devem chegar a R$ 2 bi neste ano

Os fundos de sustentabilidade na Bovespa devem somar um capital investido de R$ 2 bilhões até o final do ano, segundo estimativa da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).
Neste mês, a Global Equity lançou um fundo de sustentabilidade com a meta de captar R$ 300 milhões em 12 meses. A Apimec avalia que o capital investido nesses fundos tenha chegado a R$ 1,7 bilhão.
A estratégia desses fundos é levar em conta fatores sociais, ambientais e de governança corporativa ao escolher em quais ações se vai investir. Conhecidos em inglês como "socially responsible investments", nos EUA cresce o interesse em investir em empresas socialmente responsáveis.
Roberto Gonzalez, da Apimec e integrante do Conselho de Administração do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa, diz que nem todos os investidores investem porque acham que sustentabilidade traz rentabilidade.
"De forma empírica, muitos investidores são cotistas desses fundos porque eles têm tido boa rentabilidade, que ainda é o principal critério de quem investe", avalia Gonzalez.
Em comparação com a indústria de fundos, que movimenta cerca de R$ 1 trilhão no Brasil, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), o patrimônio dos fundos ainda é pequeno.
No entanto, os investimentos em empresas sustentáveis estão crescendo no Brasil. No início de 2007, o capital aplicado nesses fundos era de apenas R$ 500 milhões.

MOVIMENTO Eduardo Gomes, diretor da EMH, empresa de MG que fornece produtos para a movimentação de materiais, como equipamentos para esteiras e guindastes, cresceu 365% em janeiro. Gomes atribui o crescimento ao bom momento da indústria brasileira, que investe mais na compra de bens de capital e, segundo ele, até mesmo na melhora do desempenho de máquinas já existentes.

NO BRASIL Lance Reinhairdt, da Superfund, que terá fundos no Brasil; a iniciativa ocorre por causa da permissão da CVM para que fundos apliquem recursos em ativos no exterior; Ignacio Rodriguez, diretor financeiro da Superfund, diz que "os produtos procuram ter baixa dependência dos ativos mais comuns, como renda fixa e outras estratégias de "hedge funds" [que combinam investimentos de curto e longo prazo e permitem ganhos em momentos de alta e de baixa]".

PESOS PESADOS
Guido Mantega se reuniu com empresários pesos pesados ontem em São Paulo para apresentar as propostas para conter a queda do dólar e discutir a reforma tributária. Entre outros, estavam Jorge Gerdau Johannpeter, Josué Gomes da Silva (Iedi) e Maurício Botelho (Embraer). Jorge Rachid (Receita Federal) também participou.

FIM DA LINHA
Depois de 25 anos como professor da UFRJ, Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), pediu seu afastamento.

ZECA E LULA
O advogado Sérgio Bermudes, um dia desses, precisou fazer um telefonema para o ministro da Justiça de São Tomé e Príncipe, Zeca Barreiros, para se informar a respeito de um juízo arbitral que corre em Paris. De cara, Bermudes levou dois sustos. O primeiro foi quando o próprio ministro Barreiros atendeu direto o telefone. Depois disso, o advogado perguntou se o nome do ministro era realmente Zeca. "Mas o seu presidente não se chama Lula?", foi a resposta que Bermudes recebeu do ministro de São Tomé e Príncipe. Então tá.


com JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI

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