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Cresce pressão por proteção à indústria
Calçados, siderurgia, têxtil e petroquímica estão entre setores que levaram ao governo demandas contra estrangeiros
Para economistas, a adoção
de medidas temporárias é compreensível, uma vez que
o mundo inteiro tem feito
o mesmo para se proteger
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há algumas semanas, a Braskem encaminhou à Casa Civil
um documento no qual pedia
ajuda do governo à indústria
petroquímica brasileira. Entre
outros pontos, o setor se preocupava com um possível avanço das indústrias árabe e chinesa no mercado brasileiro.
Segundo o documento, "a cadeia petroquímica brasileira é
frágil à ameaça internacional,
sobretudo com a "sobra" iminente [de oferta]. O "inimigo"
está lá fora, e a crise pode ser
uma grande oportunidade para
o país se tornar líder global".
A área petroquímica não foi a
única a bater à porta do governo. Com o acirramento da crise,
vários setores têm pedido a
criação de algum tipo de barreira, proteção ou ajuda contra o
avanço dos estrangeiros.
"Enquanto o mercado de calçados brasileiro teve uma leve
retração, as importações da
China aumentaram 47% em
dezembro e 16% em janeiro",
diz Milton Cardoso, presidente
da Vulcabras/Azaleia e da Abicalçados (Associação Brasileira
das Indústrias de Calçados).
A Vulcabras/Azaleia anunciou, na semana passada, férias
coletivas a 1.600 funcionários.
É a segunda vez nos últimos
meses. "Pedimos ao governo
medida antidumping [contra
os calçados chineses], já que o
quadro atual requer uma ação
de emergência", diz Cardoso.
As siderúrgicas brasileiras
também têm se preocupado
com o avanço do aço chinês no
mercado nacional e já levaram
a demanda ao governo. Entre
2007 e 2008, as importações de
produtos siderúrgicos da China
cresceram quase 56%.
Excesso de oferta
Segundo economistas ouvidos pela Folha, a adoção de
medidas que protejam a indústria nacional não é considerada
absurda, uma vez que o mundo
inteiro tem feito o mesmo.
"Na verdade, eu diria que é
uma medida totalmente necessária", diz Julio Sérgio de Almeida, professor da Unicamp.
"Temos de evitar a concorrência desleal."
A origem do problema, dizem economistas, é o excesso
de oferta, causado pela retração no consumo global. Sem
poderem vender nos mercados
tradicionais e sem quererem
carregar estoques, as indústrias oferecem a produção em
países com grande mercado
consumidor, por preço cada
vez menor. O Brasil é um deles.
"É compreensível a reação
das empresas nacionais porque
o mundo todo tenta nos enfiar
seus produtos goela abaixo",
diz Marcos Fernandes, professor de economia da FGV.
Para especialistas e alguns
setores da indústria, em muitos
casos está havendo dumping
-a venda de mercadorias por
preços inferiores aos de produção. Uma das alternativas
apontadas por Almeida é a valoração aduaneira, que envolve
a taxação por peso ou preço mínimo.
"É necessário aumentar
enormemente as equipes técnicas para fiscalizar a entrada
dos produtos", diz Almeida.
Nas contas de Cardoso, há
hoje, por exemplo, calçados
importados (com o dólar a R$
2,30) com 30% de desconto sobre os preços cobrados em junho de 2008, quando o dólar
valia R$ 1,60. "Não há fundamento econômico que justifique esse desconto", diz.
O problema, no entanto, é
que foram essas práticas que
ajudaram a aprofundar a recessão de 1929. Os economistas
avaliam, porém, que o protecionismo e o nacionalismo tendem a ser menores. Hoje, muitas empresas brasileiras dependem de importados.
"As medidas de proteção são
necessárias, mas não se pode
taxar todos os produtos da
mesma maneira", diz Márcio
Utsch, presidente da Alpargatas, que produz algumas de
suas marcas na China.
Na opinião de Utsch, a tarifa
antidumping poderá resultar
em pressão sobre a inflação e
em perda de arrecadação. O
mesmo discurso é ouvido em
outros setores.
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