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Ex-fabricante de suco de laranja revela ação de cartel
Indústrias combinavam preços para comprar laranja e vender suco, diz empresário
Suposta prática de cartel é
investigada pela Secretaria
de Direito Econômico desde
2006, quando indústrias
foram alvo de operação
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-empresário do setor de
suco de laranja, Dino Tofini, 72,
decidiu revelar como surgiu e
como operava o cartel da indústria de suco de laranja do qual
participou e que ajudou a montar no início da década de 90.
A suposta prática de cartel
está sob investigação da SDE
(Secretaria de Direito Econômico) desde 2006, quando os
fabricantes de suco foram alvo
da operação Fanta, feita por policias e técnicos da secretaria.
Ex-dono da CTM Citrus, Tofini afirma que ganhou muito
dinheiro com a combinação de
preços para a compra da laranja
e também para a venda do suco
no mercado internacional.
Acabou, porém, segundo diz,
sendo vítima do próprio cartel.
Após a venda da CTM e depois
de sofrer um AVC (acidente
vascular cerebral), Tofini se dedicou à produção de laranja em
Araraquara (SP). A fruta era entregue à Cargill, por meio de
contrato firmado nos anos 90.
A interrupção do contrato
por conta de desentendimentos em relação ao preço da laranja levou Tofini a sair do negócio. Hoje, é plantador de cana-de-açúcar em uma área de
400 alqueires. Move uma ação
contra a Cargill e pede indenização milionária.
"Já fui milionário. Hoje não
sou mais, mas vou voltar a ser.
Vou ganhar a ação contra a Cargill", diz Tofini, que chegou a
ser grande exportador de suco
de laranja. Leia a entrevista.
FOLHA - Quem teve a ideia de formar e quando começou o cartel na
indústria de suco de laranja?
DINO TOFINI - A ideia foi do José
Luis Cutrale [sócio-proprietário da Cutrale] no início da década de 90. Ele chamou as indústrias do setor para fazer
uma composição, com o objetivo de comprar a laranja por um
preço mais acessível para a indústria. Era um negócio cruel.
FOLHA - Qual era o objetivo?
TOFINI - Era jogar todo o ônus
possível do negócio para o agricultor, permitir a compra da
matéria-prima em condições
que o cartel determinasse. O
problema foi tão sério que matou a citricultura paulista.
FOLHA - Quem participava das reuniões para tratar do cartel?
TOFINI - Só os donos das empresas ou os executivos mais
importantes, os seniores.
FOLHA - Onde eram as reuniões?
TOFINI - Na Abecitrus, que era a
associação do setor, e comandada por Ademerval Garcia. A
capacidade de moagem dessas
indústrias era três a quatro vezes maior do que a capacidade
da safra brasileira. A Citrosuco
sozinha era capaz de moer um
terço da safra brasileira, de 300
milhões de caixas por ano. Era e
ainda é um negócio gigante, de
bilhões de dólares.
FOLHA - Como foi feito o acerto?
TOFINI - Nós nos reuníamos todas as quartas-feiras e aí decidíamos quem ia comprar de
quem, de qual produtor. Cada
indústria tinha o seu quintal.
Dividimos o Estado de São Paulo em vários quintais e ninguém podia se meter no quintal
do outro. O quintal da Cutrale
era praticamente todo o Estado. A Citrovita ficava mais com
a região de Matão. Nós, com a
região de Limeira. O meu quintal tinha cerca de 250 a 300 citricultores. O combinado, na
época, era pagar US$ 3,20 pela
caixa de laranja (40,8 quilos).
FOLHA - Esse acerto de divisão de
produtores era colocado no papel?
TOFINI - Não, era verbal. E
quem não respeitava o quintal
do vizinho sofria represálias.
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