São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Grau de investimento deve derrubar juro

Segundo estudo com 66 países, Selic cairia dois pontos em um ano com melhora na avaliação do país por agências de risco

Economistas fazem crítica à atuação do BC e propõem que governo adote medidas específicas que acelerem a melhora da nota brasileira

Moacyr Lopes Júnior - 14.mar.07/Folha Imagem
Operadores em pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros, em SP; elevação do "rating' brasileiro deve ter efeito positivo no juro


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A taxa de juros no Brasil pode cair dois pontos percentuais em um ano se o país for classificado pelas agências de avaliação de risco como "grau de investimento", ou seja, se receber o selo de aprovação como destino seguro para investimentos.
Essa é uma das conclusões do estudo que o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, fez sobre os motivos que levam a taxa de juros real, já descontada a inflação, a ser tão elevada no Brasil. Num prazo de seis anos, a queda poderia chegar a quatro pontos percentuais, segundo o estudo.
Para a maioria dos analistas, o "grau de investimento" pode vir em 2009.
Baseado na experiência de 66 países entre 1996 e 2004, o trabalho mostra ainda que a taxa de juros real no Brasil, mesmo com os cortes esperados pelo mercado, chegaria, ao final do ano, um ponto percentual acima do que seria necessário.
Assinam o estudo com Bacha os economistas Márcio Hol- land, da FGV (Fundação Getulio Vargas), e Fernando Gonçalves, do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para ter uma idéia do impacto que a obtenção do "grau de investimento" poderia provocar nos juros brasileiros, basta uma comparação com a política atual do Banco Central. Se for mantido o atual ritmo, com queda de 0,25 ponto a cada reunião do Copom, seriam necessárias oito reuniões para a redução de dois pontos percentuais -sem contar que a inflação teria que se manter estável.
"O "grau de investimento" não é um mero artifício. Ele tem efeito muito grande, o que reforça a necessidade de o governo adotar políticas que caminhem nessa direção, especialmente no gasto público", afirma Holland.

Juros reais
Pelos cálculos dos economistas, a taxa real de juros deveria oscilar em torno de 6,5% ao ano. Hoje, está um pouco abaixo de 9%. "Há margem para a redução um pouco mais acelerada dos juros", diz Holland.
Nesta semana o Copom se reúne, e a expectativa do mercado financeiro é a de mais uma queda de 0,25 ponto. Se isso se confirmar, a Selic cairá de 12,75% para 12,5% ao ano, sem descontar a inflação. Nas simulações feitas por Holland, a taxa de juros antes da reunião do Copom deveria ser de 10,5%.
Para chegar a essas conclusões, o trabalho reúne informações de países em desenvolvimento como Argentina, México, Turquia, Índia e Chile, e outros como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Dinamarca.
Na primeira parte do estudo, os economistas analisaram como se comportaram os juros nos 66 países e o que os influenciou. Entre os indicadores analisados, o "grau de investimento" é o que tem maior impacto.
Outro fator que explica juros reais mais baixos, segundo o estudo, é o tamanho da economia. Se o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de um país subir US$ 1.000, os economistas concluíram que os juros reais podem cair 0,8 ponto percentual em um ano.
O alto endividamento também foi testado como explicação para juros altos. Se a dívida dobra, o efeito sobre a taxa real é uma alta de 0,55 ponto na taxa de juros. Esse resultado, segundo o estudo, ficou abaixo do esperado, embora os autores ponderem que pode ser um reflexo da base de dados.
Depois de decompor as taxas de juros dos países, eles calcularam o que seria a taxa ideal para o Brasil. É nesse ponto que dimensionam o conservadorismo do Banco Central.
De 2000 a 2004, após o governo ter adotado o sistema de câmbio flutuante, e o BC, deixado de fixar os juros com o objetivo de atrair os dólares que faltavam para o país fechar as contas, os juros reais têm ficado 40% acima do que o estudo aponta como mais adequado.
Os cálculos dos economistas apontam que a taxa real deveria ter ficado, nesse período, em 6,6% ao ano, em média. Na realidade, ficou em 9,4%.
Para explicar essa diferença, é levado em consideração o cenário brasileiro. Aqui, o BC ainda tinha que ganhar a confiança do mercado financeiro, especialmente depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou posse em 2003. Assim, seria natural que os juros brasileiros ficassem acima dos do resto do mundo.
Mas nem isso explica as taxas do BC. Refazendo os cálculos, ele concluem que, entre 2000 e 2006, os juros continuaram 28% acima do que deveriam ter sido. O ano em que há maior divergência é 2005. O estudo indica que os juros reais ao ano deveriam ter sido de 6,65%, mas ficaram em 10,8%.


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