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País ganharia acesso a um mercado 17 vezes maior
Concorrência com economias sólidas crescerá; preços já refletem nota melhor
Grau de investimento permitirá ao Brasil entrar em mercado potencial de US$ 10 tri -de fundos de pensão europeus e dos EUA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Selo de qualidade de bom pagador, o grau de investimento
permitirá ao Brasil ter acesso a
um mercado potencial de US$
10 trilhões, dinheiro dos fundos
de pensão norte-americanos e
europeus, que estatutariamente não podem arriscar o pagamento de aposentados e pensionistas com investimento em
papéis de alto risco.
Um país com esse selo teria
acesso a uma base de investidores 17 vezes maior que uma nação sem o grau de investimento, segundo estudo do economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco.
Hoje, os fundos de pensão
norte-americanos só investem
entre 1,5% e 2% de seu patrimônio em países sem o grau de
investimento, de acordo com
um levantamento do Banco
Mundial. E essas aplicações
ocorrem indiretamente por
meio de fundos dedicados a
emergentes.
Os números impressionam,
mas economistas ouvidos pela
Folha chamam a atenção para
dois fatores que dissolvem o
otimismo: o Brasil passará a
competir pelo dinheiro destinado a economias ainda mais
sólidas, e o mercado brasileiro
já terá embutido nos preços o
grau de investimento.
Na sexta-feira, títulos brasileiros foram negociados com
prêmio de apenas 15 pontos base [0,15 ponto percentual] acima dos papéis de mesmo prazo
do México, que tem grau de investimento.
"O mercado de câmbio já
derreteu [com o dólar a R$
2,02]. O impacto agora deve ser
marginal. Os fundos externos
chegarão no fim da festa. Mas o
mercado de ações pode se destacar", disse Juan Jensen, da
Tendências.
Os otimistas afirmam que essa enxurrada hipotética de capital terá reflexos em cadeia em
todos os setores da economia.
Os primeiros beneficiados serão os títulos do governo, que,
com o aumento da procura,
tendem a oferecer um menor
rendimento.
Em seguida, o dinheiro chega
ao mercado acionário, capitalizando as empresas, que terão
como ampliar sua produção e
ganhar escala. No mercado interno, aumento de escala se reflete nos preços, diminuindo a
inflação.
Juro mais barato abre espaço
para financiamentos de longo
prazo, importantes para a infra-estrutura e para o mercado
imobiliário -este último visto
como o que possui maior potencial de crescimento, capaz
de levar ao aumento no preço
dos imóveis, como ocorreu nos
Estados Unidos e na Europa.
"O investimento direto tende
a crescer, como aconteceu no
México, que recebia US$ 15 bilhões por ano e depois passou a
receber US$ 27 bilhões. O mercado imobiliário deve ser o que
terá mais benefícios com juros
civilizados", disse Mauricio
Molan, economista-sênior do
Santander.
Para Fábio Akira, economista do JP Morgan, há uma inversão na discussão em relação ao
grau de investimento. "O governo faz o seu papel no lobby.
Mas o país não vai melhorar
porque receberá o "investment
grade". Ele receberá como resultado de melhora na economia", explicou Akira.
O economista do JP Morgan
afirma ainda que o critério de
grau de investimento foi relaxado e seu impacto está cada
vez mais diluído. "Há dois anos,
a Ford e a GM deixaram de ser
"investment grade". E nem por
isso, os fundos saíram vendendo", disse.
Para Octavio de Barros, a
mudança será um reconhecimento da estabilidade. "O investment grade será um selo de
virada de página de máculas ligadas à moratória, à instabilidade e à ciclotimia da economia
brasileira", afirmou.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) adverte para o exemplo do
México, que, mesmo após obter
o grau de investimento, não obteve crescimento médio superior a 3% por conta de gargalos
estruturais. "Ter "investment
grade" não é passaporte de salvação nacional", afirmou Roberto Faldini, diretor de Pesquisas Econômicas da Fiesp.
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