São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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País ganharia acesso a um mercado 17 vezes maior

Concorrência com economias sólidas crescerá; preços já refletem nota melhor

Grau de investimento permitirá ao Brasil entrar em mercado potencial de US$ 10 tri -de fundos de pensão europeus e dos EUA

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Selo de qualidade de bom pagador, o grau de investimento permitirá ao Brasil ter acesso a um mercado potencial de US$ 10 trilhões, dinheiro dos fundos de pensão norte-americanos e europeus, que estatutariamente não podem arriscar o pagamento de aposentados e pensionistas com investimento em papéis de alto risco.
Um país com esse selo teria acesso a uma base de investidores 17 vezes maior que uma nação sem o grau de investimento, segundo estudo do economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco.
Hoje, os fundos de pensão norte-americanos só investem entre 1,5% e 2% de seu patrimônio em países sem o grau de investimento, de acordo com um levantamento do Banco Mundial. E essas aplicações ocorrem indiretamente por meio de fundos dedicados a emergentes.
Os números impressionam, mas economistas ouvidos pela Folha chamam a atenção para dois fatores que dissolvem o otimismo: o Brasil passará a competir pelo dinheiro destinado a economias ainda mais sólidas, e o mercado brasileiro já terá embutido nos preços o grau de investimento.
Na sexta-feira, títulos brasileiros foram negociados com prêmio de apenas 15 pontos base [0,15 ponto percentual] acima dos papéis de mesmo prazo do México, que tem grau de investimento.
"O mercado de câmbio já derreteu [com o dólar a R$ 2,02]. O impacto agora deve ser marginal. Os fundos externos chegarão no fim da festa. Mas o mercado de ações pode se destacar", disse Juan Jensen, da Tendências.
Os otimistas afirmam que essa enxurrada hipotética de capital terá reflexos em cadeia em todos os setores da economia. Os primeiros beneficiados serão os títulos do governo, que, com o aumento da procura, tendem a oferecer um menor rendimento.
Em seguida, o dinheiro chega ao mercado acionário, capitalizando as empresas, que terão como ampliar sua produção e ganhar escala. No mercado interno, aumento de escala se reflete nos preços, diminuindo a inflação.
Juro mais barato abre espaço para financiamentos de longo prazo, importantes para a infra-estrutura e para o mercado imobiliário -este último visto como o que possui maior potencial de crescimento, capaz de levar ao aumento no preço dos imóveis, como ocorreu nos Estados Unidos e na Europa.
"O investimento direto tende a crescer, como aconteceu no México, que recebia US$ 15 bilhões por ano e depois passou a receber US$ 27 bilhões. O mercado imobiliário deve ser o que terá mais benefícios com juros civilizados", disse Mauricio Molan, economista-sênior do Santander.
Para Fábio Akira, economista do JP Morgan, há uma inversão na discussão em relação ao grau de investimento. "O governo faz o seu papel no lobby. Mas o país não vai melhorar porque receberá o "investment grade". Ele receberá como resultado de melhora na economia", explicou Akira.
O economista do JP Morgan afirma ainda que o critério de grau de investimento foi relaxado e seu impacto está cada vez mais diluído. "Há dois anos, a Ford e a GM deixaram de ser "investment grade". E nem por isso, os fundos saíram vendendo", disse.
Para Octavio de Barros, a mudança será um reconhecimento da estabilidade. "O investment grade será um selo de virada de página de máculas ligadas à moratória, à instabilidade e à ciclotimia da economia brasileira", afirmou.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) adverte para o exemplo do México, que, mesmo após obter o grau de investimento, não obteve crescimento médio superior a 3% por conta de gargalos estruturais. "Ter "investment grade" não é passaporte de salvação nacional", afirmou Roberto Faldini, diretor de Pesquisas Econômicas da Fiesp.


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