São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Governo faz lobby em NY por nota melhor

Guido Mantega se reúne amanhã e na terça com representantes de agências de classificação de risco, a S&P e a Moody's

Ministro fará apresentações levando em conta os pontos fracos da economia do país na visão das agências; área fiscal deve receber ênfase

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo espera que a classificação do Brasil pelas agências internacionais de risco suba um degrau até julho e que, em 2008, o país atinja o grau de investimento, selo que indica aos investidores que há baixo risco de calote na dívida.
O otimismo não é assumido em público, mas o ministro Guido Mantega (Fazenda) já disse que a classificação do Brasil está errada e começa um intenso lobby nesta semana para melhorar a nota do país.
Anteontem, em Washington, ele disse que, se as agências não elevarem a "nota" que dão ao Brasil, correm o risco de ficarem "desmoralizadas".
Amanhã e terça-feira, o ministro tem encontros com representantes das duas principais agências de avaliação de risco: a Standard & Poor's (S&P) e a Moody's.
As apresentações que o ministro fará foram preparadas a dedo, levando em conta o que cada uma considera como pontos fracos na economia brasileira. A ênfase em seu discurso seguirá sendo a política fiscal.
Essas agências são especializadas em avaliar o risco de um país ou de uma empresa deixar de pagar suas dívidas. Levam em conta vários indicadores sobre a economia, como o crescimento, as despesas com juros e o resultado das contas públicas.
Para medir a vulnerabilidade a choques externos, os analistas avaliam a evolução das exportações e indicadores como a dívida externa em relação aos dólares que entram no país.
A nota das agências interfere diretamente no volume de investimentos estrangeiros que um país recebe. A legislação de vários países exige, por exemplo, que fundos de pensão, que são grandes investidores, apliquem apenas em países que têm grau de investimento.
A nota do Brasil hoje é BB, segundo a classificação da S&P. Se as expectativas do governo se confirmarem, o país sobe à categoria BB+ em alguns meses e para BBB- no ano que vem.
O lobby do ministro, no entanto, encontrará uma audiência cautelosa. Os principais analistas das agências reconhecem que o Brasil melhorou muito seus indicadores de solvência externa, mas ainda está distante de países com classificação melhor no quesito fiscal.
"Os indicadores brasileiros estão mais próximos dos de países com classificação similar. O aumento do crescimento nos dá mais confiança. Mas o importante é saber se esse melhor desempenho da economia aumentará o apoio para reformas que precisam ser feitas", diz Lisa Schineller, da S&P.
Os dados da agência mostram que a média dos países com nota BB deve chegar ao fim do ano com dívida de 32% do PIB, pagando 11% de suas receitas em juros e crescendo a taxas de 5,6% ao ano. Já no Brasil, o endividamento projetado é de 43% do PIB, os juros equivalerão a 16% da arrecadação e o crescimento ficará em 4%.
"O Brasil ainda tem uma dívida muito elevada e o crescimento é mais baixo que a média dos países. A revisão do PIB melhorou os indicadores, mas os problemas brasileiros continuam os mesmos", afirma Shelly Shetty, diretora-sênior da agência Fitch.
Na Moody's, o recado é o mesmo. "Nós reconhecemos os avanços que o Brasil fez nos últimos tempos, principalmente no setor externo, mas é preciso que mais coisas aconteçam para uma melhora no "rating'", diz Mauro Leos, o responsável pela análise do Brasil na agência.
(LEANDRA PERES)


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