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Governo faz lobby em NY por nota melhor
Guido Mantega se reúne amanhã e na terça com representantes de agências de classificação de risco, a S&P e a Moody's
Ministro fará apresentações levando em conta os pontos fracos da economia do país na visão das agências; área fiscal deve receber ênfase
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo espera que a classificação do Brasil pelas agências internacionais de risco suba um degrau até julho e que,
em 2008, o país atinja o grau de
investimento, selo que indica
aos investidores que há baixo
risco de calote na dívida.
O otimismo não é assumido
em público, mas o ministro
Guido Mantega (Fazenda) já
disse que a classificação do Brasil está errada e começa um intenso lobby nesta semana para
melhorar a nota do país.
Anteontem, em Washington,
ele disse que, se as agências não
elevarem a "nota" que dão ao
Brasil, correm o risco de ficarem "desmoralizadas".
Amanhã e terça-feira, o ministro tem encontros com representantes das duas principais agências de avaliação de
risco: a Standard & Poor's
(S&P) e a Moody's.
As apresentações que o ministro fará foram preparadas a
dedo, levando em conta o que
cada uma considera como pontos fracos na economia brasileira. A ênfase em seu discurso
seguirá sendo a política fiscal.
Essas agências são especializadas em avaliar o risco de um
país ou de uma empresa deixar
de pagar suas dívidas. Levam
em conta vários indicadores sobre a economia, como o crescimento, as despesas com juros e
o resultado das contas públicas.
Para medir a vulnerabilidade
a choques externos, os analistas avaliam a evolução das exportações e indicadores como a
dívida externa em relação aos
dólares que entram no país.
A nota das agências interfere
diretamente no volume de investimentos estrangeiros que
um país recebe. A legislação de
vários países exige, por exemplo, que fundos de pensão, que
são grandes investidores, apliquem apenas em países que
têm grau de investimento.
A nota do Brasil hoje é BB, segundo a classificação da S&P.
Se as expectativas do governo
se confirmarem, o país sobe à
categoria BB+ em alguns meses
e para BBB- no ano que vem.
O lobby do ministro, no entanto, encontrará uma audiência cautelosa. Os principais
analistas das agências reconhecem que o Brasil melhorou
muito seus indicadores de solvência externa, mas ainda está
distante de países com classificação melhor no quesito fiscal.
"Os indicadores brasileiros
estão mais próximos dos de
países com classificação similar. O aumento do crescimento
nos dá mais confiança. Mas o
importante é saber se esse melhor desempenho da economia
aumentará o apoio para reformas que precisam ser feitas",
diz Lisa Schineller, da S&P.
Os dados da agência mostram que a média dos países
com nota BB deve chegar ao
fim do ano com dívida de 32%
do PIB, pagando 11% de suas receitas em juros e crescendo a
taxas de 5,6% ao ano. Já no Brasil, o endividamento projetado
é de 43% do PIB, os juros equivalerão a 16% da arrecadação e
o crescimento ficará em 4%.
"O Brasil ainda tem uma dívida muito elevada e o crescimento é mais baixo que a média
dos países. A revisão do PIB
melhorou os indicadores, mas
os problemas brasileiros continuam os mesmos", afirma
Shelly Shetty, diretora-sênior
da agência Fitch.
Na Moody's, o recado é o
mesmo. "Nós reconhecemos os
avanços que o Brasil fez nos últimos tempos, principalmente
no setor externo, mas é preciso
que mais coisas aconteçam para uma melhora no "rating'", diz
Mauro Leos, o responsável pela
análise do Brasil na agência.
(LEANDRA PERES)
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