São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Euforia com expansão do álcool atrai especuladores

Empresa de corretor de imóveis contratou arrendamento de terras em quatro Estados

Intermediários assediam produtores para reservar áreas, na expectativa de que o país se torne o fornecedor mundial do combustível

ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

O corretor de imóveis Áureo Luiz de Castro, 58, personifica a euforia que se instalou no país em torno do álcool. Ele afirma já ter assegurado 1,3 milhão de hectares de terras, em contratos de pré-arrendamento, com 2.520 produtores rurais de Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Maranhão, para futuros plantios de cana.
Como ele, vários intermediários têm assediado produtores rurais para reservar áreas, na expectativa de que o país se torne o grande fornecedor mundial de álcool. O que distingue Castro é a extensão de terras que amealhou e o tamanho do projeto que anuncia, considerado inverossímil por especialistas.
Castro apareceu na imprensa no início do ano, anunciando um megaprojeto de implantação de 24 destilarias, com investimentos de US$ 8 bilhões, para a produção de 4,8 bilhões de litros de álcool, a ser executado por sua empresa Etanalc, em parceria com a Petrobras e com as estrangeiras Mitsui, do Japão, e Sempra Energy, dos Estados Unidos.
A produção brasileira da safra 2006/7 é de 17,7 bilhões de litros de álcool, sendo a Coopersucar (cooperativa que reúne 29 usinas) o maior bloco produtor, com 2,7 bilhões de litros. O segundo maior é a Cosan (dona de 17 usinas), com produção de cerca de 1 bilhão de litros.
Assim, sem nenhuma experiência anterior no setor, Castro se tornaria o maior produtor de álcool do país, com poder de fogo quase quatro vezes superior ao da Cosan.
Em entrevista à Folha, ele afirmou que está prestes a assinar contrato com a Sempra e que aguarda uma manifestação da Petrobras para até o final do mês. As duas empresas, em notas enviadas ao jornal, disseram que analisam o projeto da Etanalc, mas não têm compromisso firmado.

Capital de R$ 1.000
Segundo notícias veiculadas pela imprensa, o ex-presidente da Petrobras Joel Rennó seria presidente do conselho consultivo da Etanalc. Rennó negou vínculo, dizendo que fez apenas uma apresentação ao empresário sobre o mercado de álcool no país.
Os contratos de pré-arrendamento com os fazendeiros foram firmados a partir de junho do ano passado, pela Decastro Empreendimentos Imobiliários, que tem como sede um escritório de contabilidade em Rio Bonito, no interior do Rio de Janeiro. Na documentação da empresa, consta que Castro é corretor de imóveis.
Em novembro, ele registrou a Etanalc S.A., em sociedade com dois filhos, que substituirá a imobiliária nos contratos definitivos. A empresa, segundo documentação da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, tem capital social de apenas R$ 1.000.

Preocupação e otimismo
A Folha conversou com prefeitos e com proprietários rurais de municípios de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins, que têm contratos assinados com Castro. Em Mato Grosso do Sul, a demora para a concretização da promessa de parceria com a Petrobras causa preocupação, críticas e desapontamento, mas nos outros dois Estados o otimismo com a possibilidade de adesão da Sempra é alto.
Segundo o prefeito de Costa Rica (MS), Waldeli dos Santos Rosa, 30 produtores rurais do município assinaram cartas de intenção de arrendamento de um total de 33 mil hectares com a Decastro Imóveis, em junho do ano passado.
Ele diz que o prazo de compromisso termina no próximo dia 22 e, se até lá a Etanalc não der garantia de viabilidade do projeto, os fazendeiros buscarão outros grupos interessados em terra para plantar cana.

Petrobras
Por causa da chegada de intermediários, que diziam ter projetos comuns com a Petrobras para a produção de álcool, a Federação da Agricultura de MS se reuniu com a estatal, no ano passado. Segundo o presidente da federação, Ademar da Silva Júnior, a Petrobras disse que os intermediários não a representavam.
"São grupos imobiliários, que querem fazer reserva de mercado com o produtor. Vêm com propostas magnânimas, mas, depois, a gente descobre que não era o que prometiam. Nosso negócio tem de ser levado mais a sério. Tivemos experiências amargas com o boi gordo e com a produção de avestruzes."


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