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Euforia com expansão do álcool atrai especuladores
Empresa de corretor de imóveis contratou arrendamento de terras em quatro Estados
Intermediários assediam produtores para reservar áreas, na expectativa de que o país se torne o fornecedor mundial do combustível
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O corretor de imóveis Áureo
Luiz de Castro, 58, personifica
a euforia que se instalou no país
em torno do álcool. Ele afirma
já ter assegurado 1,3 milhão de
hectares de terras, em contratos de pré-arrendamento, com
2.520 produtores rurais de Tocantins, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e Maranhão, para
futuros plantios de cana.
Como ele, vários intermediários têm assediado produtores
rurais para reservar áreas, na
expectativa de que o país se torne o grande fornecedor mundial de álcool. O que distingue
Castro é a extensão de terras
que amealhou e o tamanho do
projeto que anuncia, considerado inverossímil por especialistas.
Castro apareceu na imprensa
no início do ano, anunciando
um megaprojeto de implantação de 24 destilarias, com investimentos de US$ 8 bilhões,
para a produção de 4,8 bilhões
de litros de álcool, a ser executado por sua empresa Etanalc,
em parceria com a Petrobras e
com as estrangeiras Mitsui, do
Japão, e Sempra Energy, dos
Estados Unidos.
A produção brasileira da safra 2006/7 é de 17,7 bilhões de
litros de álcool, sendo a Coopersucar (cooperativa que reúne 29 usinas) o maior bloco
produtor, com 2,7 bilhões de litros. O segundo maior é a Cosan (dona de 17 usinas), com
produção de cerca de 1 bilhão
de litros.
Assim, sem nenhuma experiência anterior no setor, Castro se tornaria o maior produtor de álcool do país, com poder
de fogo quase quatro vezes superior ao da Cosan.
Em entrevista à Folha, ele
afirmou que está prestes a assinar contrato com a Sempra e
que aguarda uma manifestação
da Petrobras para até o final do
mês. As duas empresas, em notas enviadas ao jornal, disseram que analisam o projeto da
Etanalc, mas não têm compromisso firmado.
Capital de R$ 1.000
Segundo notícias veiculadas
pela imprensa, o ex-presidente
da Petrobras Joel Rennó seria
presidente do conselho consultivo da Etanalc. Rennó negou
vínculo, dizendo que fez apenas
uma apresentação ao empresário sobre o mercado de álcool
no país.
Os contratos de pré-arrendamento com os fazendeiros foram firmados a partir de junho
do ano passado, pela Decastro
Empreendimentos Imobiliários, que tem como sede um escritório de contabilidade em
Rio Bonito, no interior do Rio
de Janeiro. Na documentação
da empresa, consta que Castro
é corretor de imóveis.
Em novembro, ele registrou
a Etanalc S.A., em sociedade
com dois filhos, que substituirá
a imobiliária nos contratos definitivos. A empresa, segundo
documentação da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, tem capital social de apenas R$ 1.000.
Preocupação e otimismo
A Folha conversou com prefeitos e com proprietários rurais de municípios de Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso e
Tocantins, que têm contratos
assinados com Castro. Em Mato Grosso do Sul, a demora para
a concretização da promessa
de parceria com a Petrobras
causa preocupação, críticas e
desapontamento, mas nos outros dois Estados o otimismo
com a possibilidade de adesão
da Sempra é alto.
Segundo o prefeito de Costa
Rica (MS), Waldeli dos Santos
Rosa, 30 produtores rurais do
município assinaram cartas de
intenção de arrendamento de
um total de 33 mil hectares
com a Decastro Imóveis, em junho do ano passado.
Ele diz que o prazo de compromisso termina no próximo
dia 22 e, se até lá a Etanalc não
der garantia de viabilidade do
projeto, os fazendeiros buscarão outros grupos interessados
em terra para plantar cana.
Petrobras
Por causa da chegada de intermediários, que diziam ter
projetos comuns com a Petrobras para a produção de álcool,
a Federação da Agricultura de
MS se reuniu com a estatal, no
ano passado. Segundo o presidente da federação, Ademar da
Silva Júnior, a Petrobras disse
que os intermediários não a representavam.
"São grupos imobiliários, que
querem fazer reserva de mercado com o produtor. Vêm com
propostas magnânimas, mas,
depois, a gente descobre que
não era o que prometiam. Nosso negócio tem de ser levado
mais a sério. Tivemos experiências amargas com o boi gordo e
com a produção de avestruzes."
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