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Lula vê precipitação indevida em anúncio
Para ele, declaração de diretor-geral da ANP teria sido amadora e permitido especulação; ministros também criticam
Governo lamenta ainda que anúncio tirou do Planalto possibilidade de anunciar boa notícia em meio à crise do dossiê na Casa Civil
KENNEDY ALENCAR
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou uma
"precipitação indevida", segundo apurou a Folha, o anúncio
do diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, de que a Petrobras
teria descoberto um novo campo de petróleo que poderia ser
o terceiro maior do mundo.
Lula já havia sido informado
da alta probabilidade de uma
nova descoberta significativa
da Petrobras, mas a estatal ainda não teria uma confirmação
definitiva do potencial do campo. Daí Lula ter ficado contrariado com a divulgação.
Num período de notícias
ruins na política, como o dossiê
anti-FHC que saiu da Casa Civil, notícias positivas são esperadas pelo Palácio do Planalto.
Mais: há determinação de Lula
ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, para informá-lo de eventos positivos, como possíveis descobertas.
Lula também se mostrou
preocupado com o efeito no
mercado de ações. Segundo o
presidente, Lima teria sido
amador e permitido especulação. Lula foi informado dos detalhes da nota da Petrobras antes de ela ser divulgada.
Também houve descontentamento nas Minas e Energia.
O ministro Edison Lobão
(PMDB) minimizou o anúncio.
Disse que ainda não há informações seguras sobre a descoberta. "Nós temos reservas espalhadas por todo o Brasil, o
que nós precisamos é anunciá-las com segurança", afirmou.
Em vez de comemorar ou capitalizar politicamente a descoberta, o governo federal demonstrou pouco entusiasmo e
preocupação com a forma de
divulgação. "Eu não desejo desmentir nem confirmar. Recomendei que a Petrobras tomasse a posição oficial por parte do
governo e que tranquilizasse,
de todas as maneiras, o mercado", disse Lobão.
Já o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) afirmou
que esse tipo de anúncio tem
de ser feito de forma legal. "Eu
não posso proibir ninguém de
falar sobre isso, mas é um caso
em que a CVM [Comissão de
Valores Mobiliários] vai verificar o que aconteceu. É claro
que esse tipo de anúncio tem
de ser feito de forma legal."
Segundo Lobão, o governo já
tinha conhecimento das pesquisas da Petrobras, mas não
havia divulgado nada por falta
de dados conclusivos. "Esse é
um assunto que vem sendo
acompanhado já há algum tempo, mas nós não temos ainda as
informações completas."
No final de janeiro, o ministro havia sido bem mais enfático ao comentar a descoberta,
pela Petrobras, de uma grande
jazida de gás natural em um
poço próximo à área de Tupi,
na bacia de Santos. Na ocasião,
foi enviado comunicado ao
mercado informando que o reservatório poderia ter dimensões similares às de Tupi.
Questionado na ocasião sobre a descoberta, Lobão não
desmentiu nem reclamou da
forma como havia sido feita a
divulgação. "Realmente é um
megacampo de gás que vai nos
ajudar a ter uma independência nesse setor."
Colaborou SIMONE IGLESIAS,
da Sucursal de Brasília
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