São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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Lula vê precipitação indevida em anúncio

Para ele, declaração de diretor-geral da ANP teria sido amadora e permitido especulação; ministros também criticam

Governo lamenta ainda que anúncio tirou do Planalto possibilidade de anunciar boa notícia em meio à crise do dossiê na Casa Civil

KENNEDY ALENCAR
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou uma "precipitação indevida", segundo apurou a Folha, o anúncio do diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, de que a Petrobras teria descoberto um novo campo de petróleo que poderia ser o terceiro maior do mundo.
Lula já havia sido informado da alta probabilidade de uma nova descoberta significativa da Petrobras, mas a estatal ainda não teria uma confirmação definitiva do potencial do campo. Daí Lula ter ficado contrariado com a divulgação.
Num período de notícias ruins na política, como o dossiê anti-FHC que saiu da Casa Civil, notícias positivas são esperadas pelo Palácio do Planalto. Mais: há determinação de Lula ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, para informá-lo de eventos positivos, como possíveis descobertas.
Lula também se mostrou preocupado com o efeito no mercado de ações. Segundo o presidente, Lima teria sido amador e permitido especulação. Lula foi informado dos detalhes da nota da Petrobras antes de ela ser divulgada.
Também houve descontentamento nas Minas e Energia.
O ministro Edison Lobão (PMDB) minimizou o anúncio.
Disse que ainda não há informações seguras sobre a descoberta. "Nós temos reservas espalhadas por todo o Brasil, o que nós precisamos é anunciá-las com segurança", afirmou.
Em vez de comemorar ou capitalizar politicamente a descoberta, o governo federal demonstrou pouco entusiasmo e preocupação com a forma de divulgação. "Eu não desejo desmentir nem confirmar. Recomendei que a Petrobras tomasse a posição oficial por parte do governo e que tranquilizasse, de todas as maneiras, o mercado", disse Lobão.
Já o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) afirmou que esse tipo de anúncio tem de ser feito de forma legal. "Eu não posso proibir ninguém de falar sobre isso, mas é um caso em que a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] vai verificar o que aconteceu. É claro que esse tipo de anúncio tem de ser feito de forma legal."
Segundo Lobão, o governo já tinha conhecimento das pesquisas da Petrobras, mas não havia divulgado nada por falta de dados conclusivos. "Esse é um assunto que vem sendo acompanhado já há algum tempo, mas nós não temos ainda as informações completas."
No final de janeiro, o ministro havia sido bem mais enfático ao comentar a descoberta, pela Petrobras, de uma grande jazida de gás natural em um poço próximo à área de Tupi, na bacia de Santos. Na ocasião, foi enviado comunicado ao mercado informando que o reservatório poderia ter dimensões similares às de Tupi.
Questionado na ocasião sobre a descoberta, Lobão não desmentiu nem reclamou da forma como havia sido feita a divulgação. "Realmente é um megacampo de gás que vai nos ajudar a ter uma independência nesse setor."


Colaborou SIMONE IGLESIAS, da Sucursal de Brasília


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