São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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Mantega e mercado divergem sobre juros

Em Nova York, ministro diz não ver motivo para BC elevar taxa amanhã e que discutir o PIB potencial é "bobagem"

Já agências de risco e analistas de bancos dos EUA dizem que Brasil cresce num ritmo acelerado que ameaça o controle da inflação

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Algumas das principais agências de classificação de risco e bancos de investimento dos EUA afirmaram ontem que o Brasil está crescendo acima de seu potencial, com riscos inflacionários, e que o país deveria elevar o juro agora para conter os preços.
Standard & Poor's, Moody's, Fitch, Goldman Sachs e JPMorgan vêem o risco de aceleração de preços concentrado principalmente nos alimentos.
Para a maioria deles, o Brasil tem potencial para crescer entre 4% e 4,5% sem pressões de inflação ou de forte aumento das importações, prejudicando o saldo de suas das contas externas -que voltará ao vermelho em 2008. Em 2007, o país cresceu 5,4% com a inflação sob controle.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) rebateu essa avaliação, feita em seminário sobre o país da Brazilian American Chamber of Commerce, em Nova York. Mantega qualificou como "bobagem" a discussão sobre o PIB potencial do país -o limite para crescer sem descontrole na inflação.
"Seria recomendável que as pessoas deixassem de falar nessa bobagem de PIB potencial. Essas projeções olham pelo retrovisor. Não conseguem enxergar a verdadeira revolução produtiva que acontece hoje no Brasil", disse o ministro.
Mantega lembrou que os investimentos produtivos crescem hoje 14%, e a produção de máquina e equipamentos, 20%, ampliando a produtividade e aumentando a oferta.
A Folha questionou Mantega sobre o por quê, então, da atual discussão sobre aumentar os juros no Brasil. "Eu não sei porque se discute. E não gosto de falar de aumento de juro em semana de Copom." E emendou: "Durante alguns anos se discutiu essa história. O limite antes era de 3% ou 3,5%. O mito caiu quando a economia ultrapassou o patamar de 3,5%. Não aconteceu nada. Chegamos agora a 5%, e também não aconteceu nada".
O Banco Central se reúne hoje e amanhã para decidir sobre os juros no país -o mercado espera uma alta de ao menos 0,25 ponto na taxa Selic, hoje em 11,25%.
Para Mantega, o Brasil pode "perfeitamente" crescer acima de 5%. "Prefiro um crescimento de 5% durável do que um de 7%, 8% ou 10% que depois tenha que retroceder", disse.
Sobre as pressão inflacionárias e o aumento para 4,66% da expectativa do mercado para a inflação em 2008, Mantega disse que o problema está concentrado no setor de alimentos. O centro da meta da inflação para 2008 é de 4,5%.
"Se tirarmos os alimentos, a inflação doméstica é de 2,4%. A pressão dos alimentos vem de fora, via preços de commodities, que não podemos controlar." Questionado se mesmo assim isso não obrigaria o BC a elevar os juros, disse: "Não vejo porque o BC será obrigado a aumentar os juros. O BC é independente, e ninguém pode obrigá-lo a algo que não acredita. É de livre arbítrio do BC".
Paulo Leme, diretor para a área de mercados emergentes do Goldman Sachs, afirmou que o Brasil deveria promover quatro aumentos de 0,25 ponto percentual cada um nas próximas quatro reuniões do Copom para conter a inflação.
"O Brasil está muito bem posicionado para crescer no longo prazo, mas o consumo está em ritmo muito forte. É preciso corrigir isso", afirmou
Segundo dados do próprio governo, o PIB brasileiro virou o ano passado "rodando" a uma taxa de 6% e, segundo avaliação da Fazenda, manteve ritmo parecido no primeiro bimestre.
Joyce Chang, chefe da área de estratégias para os emergentes do banco JPMorgan, acredita que o "PIB potencial" do Brasil se situe hoje abaixo de 4,5%. "A perspectiva é de um aperto nos juros para tirar o país da rota inflacionária."
Para Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, embora o Brasil venha mantendo "políticas pragmáticas" para as áreas externa, fiscal e em relação ao crescimento, um PIB de 5,4% (resultado de 2007) é "quente demais" e "não-consistente com o potencial de crescimento" do país. Ela afirmou que o principal obstáculo ao Brasil para alcançar o chamado "grau de investimento" (sinal verde das agências para investidores internacionais) é a ainda elevada relação entre a dívida pública e o PIB.


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