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Mantega e mercado divergem sobre juros
Em Nova York, ministro diz não ver motivo para BC elevar taxa amanhã e que discutir o PIB potencial é "bobagem"
Já agências de risco e analistas de bancos dos EUA dizem que Brasil cresce num ritmo acelerado que ameaça o controle da inflação
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Algumas das principais agências de classificação de risco e
bancos de investimento dos
EUA afirmaram ontem que o
Brasil está crescendo acima de
seu potencial, com riscos inflacionários, e que o país deveria
elevar o juro agora para conter
os preços.
Standard & Poor's, Moody's,
Fitch, Goldman Sachs e
JPMorgan vêem o risco de aceleração de preços concentrado
principalmente nos alimentos.
Para a maioria deles, o Brasil
tem potencial para crescer entre 4% e 4,5% sem pressões de
inflação ou de forte aumento
das importações, prejudicando
o saldo de suas das contas externas -que voltará ao vermelho em 2008. Em 2007, o país
cresceu 5,4% com a inflação
sob controle.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) rebateu essa avaliação, feita em seminário sobre o
país da Brazilian American
Chamber of Commerce, em
Nova York. Mantega qualificou
como "bobagem" a discussão
sobre o PIB potencial do país
-o limite para crescer sem descontrole na inflação.
"Seria recomendável que as
pessoas deixassem de falar nessa bobagem de PIB potencial.
Essas projeções olham pelo retrovisor. Não conseguem enxergar a verdadeira revolução
produtiva que acontece hoje no
Brasil", disse o ministro.
Mantega lembrou que os investimentos produtivos crescem hoje 14%, e a produção de
máquina e equipamentos, 20%,
ampliando a produtividade e
aumentando a oferta.
A Folha questionou Mantega sobre o por quê, então, da
atual discussão sobre aumentar os juros no Brasil. "Eu não
sei porque se discute. E não
gosto de falar de aumento de
juro em semana de Copom." E
emendou: "Durante alguns
anos se discutiu essa história. O
limite antes era de 3% ou 3,5%.
O mito caiu quando a economia ultrapassou o patamar de
3,5%. Não aconteceu nada.
Chegamos agora a 5%, e também não aconteceu nada".
O Banco Central se reúne
hoje e amanhã para decidir sobre os juros no país -o mercado espera uma alta de ao menos 0,25 ponto na taxa Selic,
hoje em 11,25%.
Para Mantega, o Brasil pode
"perfeitamente" crescer acima
de 5%. "Prefiro um crescimento de 5% durável do que um de
7%, 8% ou 10% que depois tenha que retroceder", disse.
Sobre as pressão inflacionárias e o aumento para 4,66% da
expectativa do mercado para a
inflação em 2008, Mantega disse que o problema está concentrado no setor de alimentos. O
centro da meta da inflação para
2008 é de 4,5%.
"Se tirarmos os alimentos, a
inflação doméstica é de 2,4%. A
pressão dos alimentos vem de
fora, via preços de commodities, que não podemos controlar." Questionado se mesmo assim isso não obrigaria o BC a
elevar os juros, disse: "Não vejo
porque o BC será obrigado a
aumentar os juros. O BC é independente, e ninguém pode
obrigá-lo a algo que não acredita. É de livre arbítrio do BC".
Paulo Leme, diretor para a
área de mercados emergentes
do Goldman Sachs, afirmou
que o Brasil deveria promover
quatro aumentos de 0,25 ponto
percentual cada um nas próximas quatro reuniões do Copom
para conter a inflação.
"O Brasil está muito bem posicionado para crescer no longo prazo, mas o consumo está
em ritmo muito forte. É preciso corrigir isso", afirmou
Segundo dados do próprio
governo, o PIB brasileiro virou
o ano passado "rodando" a uma
taxa de 6% e, segundo avaliação
da Fazenda, manteve ritmo parecido no primeiro bimestre.
Joyce Chang, chefe da área
de estratégias para os emergentes do banco JPMorgan,
acredita que o "PIB potencial"
do Brasil se situe hoje abaixo
de 4,5%. "A perspectiva é de
um aperto nos juros para tirar
o país da rota inflacionária."
Para Lisa Schineller, diretora
da Standard & Poor's, embora
o Brasil venha mantendo "políticas pragmáticas" para as
áreas externa, fiscal e em relação ao crescimento, um PIB de
5,4% (resultado de 2007) é
"quente demais" e "não-consistente com o potencial de
crescimento" do país. Ela afirmou que o principal obstáculo
ao Brasil para alcançar o chamado "grau de investimento"
(sinal verde das agências para
investidores internacionais) é a
ainda elevada relação entre a
dívida pública e o PIB.
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