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FAO ataca produção de biocombustíveis
Ziegler, relator da ONU, afirma que fabricação em massa do produto é "crime contra a humanidade"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação) alertou ontem de
que a produção de biocombustíveis pode colocar em risco o
acesso a alimentos pelos setores sociais mais pobres da América Latina e do Caribe.
"Isso [expansão dos biocombustíveis] pode ocasionar mudanças na demanda, no comércio exterior, na destinação de
insumos produtivos -terra,
água, capital etc.- e, finalmente, um aumento nos preços dos
cultivos energéticos e tradicionais, pondo em risco o acesso
aos alimentos para os setores
mais pobres", diz trecho do documento da organização.
O assunto foi discutido ontem no primeiro dia da 30ª
Conferência Regional da FAO
para América Latina e Caribe,
que vai até sexta-feira no Itamaraty, em Brasília.
"Não temos, neste momento,
propostas, soluções imediatas.
Não existem fórmulas rápidas
para a solução de um tema que
tem várias questões envolvidas", afirmou Guilherme
Schultz, um dos técnicos da
FAO envolvidos no estudo.
No caso do Brasil, a experiência nacional com álcool de cana-de-açúcar é vista como
exemplo pelos 30 anos de erros
e acertos resultando na tecnologia flex para automóveis.
Já os EUA, que destinarão
31% da safra de milho para álcool, foram alvo de críticas.
"Não é o cultivo mais adequado
tecnicamente para produzir álcool", disse Schultz.
Segundo o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto, a Europa
também distorce o comércio de
alimentos com subsídios para a
produção de biocombustíveis e
tarifas na importação de produtos agrícolas. "O Brasil produz sem subsídio e de uma forma que não compete com alimentos", afirmou.
Ontem, o relator especial das
Nações Unidas para o Direito à
Alimentação, Jean Ziegler,
considerou crime contra a humanidade a produção em massa de biocombustíveis. Em resposta, Porto disse que os EUA e
a Europa são os autores desse
crime. "Pode ser [crime] nos
países que estão desviando área
de alimentos para biocombustíveis, como os Estados Unidos
e a Europa. No Brasil, não. Aqui
é auto-sustentável."
Para Ziegler, a queima de
centenas de milhares de toneladas de trigo, cereais, arroz e
outros produtos para produzir
biocombustíveis é um fator primordial para as altas do preços
dos alimentos. No entanto, ele
admitiu que os combustíveis
não são os únicos responsáveis.
Apesar de estrategicamente,
e em relação à proteção do clima, haver argumentos favoráveis aos biocombustíveis, o relator disse que eles perdem a
validade diante da ameaça de
catástrofe humanitária.
"Os argumentos não têm validade diante do desastre que
nos ameaça. Hoje, o uso e fomento dos biocombustíveis é
um crime contra a humanidade", afirmou.
Outros fatores apontados pelo relator da ONU para a disparada da inflação dos produtos
alimentícios foram a especulação dos mercados e a politica do
FMI (Fundo Monetário Internacional), que, segundo ele,
obriga muitos países em desenvolvimento a priorizar sua produção agrícola para a exportação ao mesmo tempo em que
têm uma economia voltada à
subsistência.
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