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COMÉRCIO GLOBAL
Congressistas não respeitam acordo e alteram projeto; presidente pode ficar com poderes reduzidos
Senado dos EUA derrota Bush no "fast track"
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O Senado norte-americano impôs ontem uma derrota contundente ao presidente dos EUA,
George W. Bush, ao aprovar uma
emenda que desfigura a estrutura
central do projeto de negociação
de acordos comerciais da Casa
Branca - a TPA (Trade Promotion Authority), também conhecida como "fast track".
Por unanimidade, o Senado
aprovou uma emenda legislativa
que, embora autorize Bush a concluir acordos comerciais como a
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), resguarda os poderes
de senadores e deputados de alterá-los se enfraquecerem as leis de
defesa comercial do país - como
regras antidumping, que foram
usadas como justificativa para
elevar as taxas do aço.
"Essa emenda é protecionismo
sob uma capa procedimental",
reagiu o representante comercial
da Casa Branca, Robert Zoellick.
"Se confirmada, essa emenda debilitaria a capacidade de os EUA
abrirem mercados."
A aprovação da emenda contraria um acordo fechado há dias pelo próprio Zoellick com lideranças no Senado, colocando o representante comercial numa situação delicada dentro do governo.
Depois de ser emendado ontem, o projeto terá agora de ser
votado pelo mesmo plenário do
Senado. Depois, passará por um
processo de conciliação com o
texto da TPA da Câmara, aprovado no ano passado.
A decisão de ontem ameaça
destruir a estrutura central do
projeto comercial de Bush e desestimular a liberalização comercial no mundo. Poucos países vão
querer negociar com o governo
dos EUA sabendo que, depois, o
Congresso poderá modificar o
texto dos acordos justamente nas
partes que mais interessam aos
parceiros comerciais dos EUA,
como as regras antidumping.
Segundo a concepção original
da TPA, o Congresso dos EUA dá
ao presidente poderes de negociar
acordos comerciais e compromete-se a aprová-los ou a rejeitá-los
em bloco, sem modificações pontuais.
"A decisão é mais um complicador das negociações comerciais",
disse à Folha o embaixador brasileiro em Washington, Rubens
Barbosa, citando ainda as recentes decisões dos EUA de aprovarem novos subsídios para seus
produtores agrícolas e restringirem as importações de aço.
"Quem está inviabilizando a Alca
são os próprios EUA, por meio
das medidas restritivas do Congresso."
Horas antes da votação do Senado, três membros do gabinete
do presidente enviaram uma carta a líderes parlamentares dizendo que, a ser mantida essa emenda, recomendariam a Bush o veto
de todo o projeto da TPA.
A carta foi assinada por Zoellick
e pelos secretários de Comércio,
Donald Evans, e da Agricultura,
Ann Veneman. Se vetar o projeto
da TPA, Bush poderá enterrar
seus próprios planos de formar a
Alca e de assinar um novo acordo
mundial de comércio.
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