São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Emissão vai pressionar inflação

Governo quer imprimir moeda para devolver depósito bloqueado

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino quer liberar em dinheiro boa parte dos depósitos presos no curralzinho e, para evitar a quebradeira dos bancos, estaria disposto a imprimir até 17 bilhões de pesos.
Segundo o jornal "El Cronista", o Banco Central estaria de acordo com a pesada emissão de moeda, que também já teria sido apresentada aos banqueiros do país.
Inicialmente, o governo daria um fim gradual no congelamento das contas correntes e cadernetas de poupança. Para não comprometer os bancos, o BC colocaria os pesos impressos à disposição das instituições por meio de sua linha de redescontos. Já os depósitos a prazos fixos (espécie de CDI) seriam mesmo devolvidos como bônus, mas denominados em pesos -e não mais em dólares, como foi estudado. Eles, agora, poderiam ser usados para o consumo de bens duráveis e para o pagamento de dívidas.
O governo estuda oferecer imóveis ociosos do Estado como garantia, já que os bancos não aceitaram garantir os bônus com recursos próprios. No entanto, esses bens valeriam 1,6 bilhão de pesos, contra os 33 bilhões de pesos dos depósitos em prazo fixo.
Para analistas, a estratégia poderá ser eficiente para destravar o curralzinho e reaquecer a economia sem colocar em risco o sistema financeiro. Porém, o plano também deverá alimentar a inflação e a alta do dólar.
Além disso, a grande emissão de moeda deve enfrentar a oposição do FMI (Fundo Monetário Internacional). Para a vice-diretora-gerente do Fundo, Anne Krueger, o governo deveria é devolver os recursos presos no curralzinho com bônus de curto prazo, que seriam resgatados gradualmente.
Lavagna admitiu que o FMI não deve liberar "dinheiro fresco" para a Argentina mesmo após um acordo. Ele acredita que os recursos a serem liberados farão parte de uma linha de crédito já existente, de US$ 9 bilhões.
A falta de solução para o curralzinho e a oposição da Câmara pressionaram a cotação do dólar, que fechou a 3,35 pesos ontem.

Piquetes e indicadores
Centenas de piqueteiros fizeram ontem manifestações em várias regiões do país, apesar do cancelamento da greve geral. Os piqueteiros bloquearam ruas e estradas de acesso a Buenos Aires e também complicaram o trânsito em outras dez Províncias.
Já a greve geral, que deveria ter sido ontem, mas foi cancelada, vai acontecer na próxima semana.
Outros dois índices divulgados ontem mostraram de maneira dramática o desaquecimento da econômica argentina. A construção civil em Buenos Aires caiu 90% nos últimos dois anos.
Já o consumo de gasolina caiu 34% nos quatro primeiros meses deste ano. No mesmo período, o preço do produto subiu 33%, em vários reajustes semanais.
Para conter altas ainda maiores, o governo resolveu ontem aumentar o imposto sobre exportação de gasolina de 5% para 20%.



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