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TELES
Empresa mexicana já adquiriu a Embratel e a AT&T Latin America no país
Telmex quer comprar parte da Net
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Telmex (Teléfonos de Mexico) negocia com a Globopar (Globo Participações, empresa-mãe
das Organizações Globo) a compra de parte do capital da Net Serviços -ex-Globo Cabo- ao grupo mexicano. As partes não falam
oficialmente sobre o assunto.
É a terceira investida neste ano
de Carlos Slim Helú, o megaempresário mexicano controlador
da Telmex, para a compra de empresas no Brasil. Em fevereiro, adquiriu os ativos da AT&T Latin
America no país e, no final do mês
passado, foi autorizado pela Justiça norte-americana a comprar o
controle da Embratel, por US$
400 milhões.
As condições financeiras para o
negócio entre a família Marinho e
Slim não estão definidas. Sabe-se
que a Telmex entraria como acionista minoritário, mas não seria
um simples investidor, pois participaria da operação da empresa.
A maioria das ações com direito
a voto continuará com os brasileiros. A lei da TV a cabo, de 1995,
exige controle nacional.
A Net Serviços é a maior operadora de TV por assinatura do
país, tanto em número de assinantes -1,33 milhão- quanto
na extensão de sua rede: 35,8 mil
quilômetros de cabos, que passam por 6,5 milhões de residências, com cobertura em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília.
Crise financeira
A empresa vem de longa crise financeira, cujo auge foi em 2002,
quando se viu obrigada a suspender o pagamento de suas dívidas.
Ela continua inadimplente, mas já
anunciou que pretende concluir a
negociação com os credores no final de junho. O endividamento
bruto da Net é de R$ 1,34 bilhão.
Não há prazo para a conclusão
das negociações com Slim. Para a
Globo, a prioridade é o acerto
com os credores. O novo acionista
entraria para dar fôlego financeiro à empresa.
Segundo especialistas do setor,
a Net precisa de um sócio para investir na digitalização da rede, para ampliar a oferta de serviços e
gerar lucros. A empresa teve prejuízo de R$ 268,4 milhões em
2003, R$ 1,12 bilhão em 2002 e de
R$ 699 milhões em 2001. Nos anos
anteriores, os resultados também
foram negativos.
A negociação entre a Globopar e
a Telmex está sendo feita por executivos das duas companhias,
sem a intermediação de instituição financeira.
Há consultores envolvidos, mas
não são intermediários. As conversas acontecem no Rio e em
Nova York.
Não é a primeira vez que Telmex e Globopar discutem a possibilidade de negócio envolvendo a
Net. Há cerca de um ano, tiveram
contatos com o mesmo objetivo,
mas que não evoluíram.
A Globopar procura um sócio
para a Net há pelo menos três
anos. Telefônica, Brasil Telecom,
Telemar, Embratel e Portugal Telecom estão entre as empresas
que se sentaram à mesa de negociação com a Globo.
Competição
Na visão da Globo, a chegada da
Telmex vai acirrar a competição
no mercado de telecomunicações
e, nesse novo cenário, a Net passa
a ter valor estratégico para as teles,
porque ela tem a chamada "última milha", ou seja, a rede de cabos que dá acesso às residências.
A Embratel não tem cabos para
acesso ao cliente residencial. Telefônica, Telemar e Brasil Telecom
só têm acesso direto ao cliente nas
suas áreas de concessão.
O BNDES, que é o segundo
maior acionista da Net (com
22,1% do capital total), ainda não
foi informado das negociações
com a Telmex. O banco informou, por intermédio de sua assessoria, que tomou conhecimento da negociação por "boatos".
O ingresso da Telmex na Net, no
entanto, pode trazer constrangimento, pois o BNDES está em
conflito com outra empresa de
Carlos Slim, a América Móvil,
proprietária do grupo Claro de telefonia celular.
O banco investiu R$ 358 milhões em ações preferenciais da
Telet e da Americel (empresas do
grupo Claro com atuação no Rio
Grande do Sul e na região Centro-Oeste, respectivamente), em 1998.
Em 2003, a América Móvil propôs
recomprar as ações por R$ 15,4
milhões. O BNDES cogita ir à Justiça para resolver o conflito.
Televisão
Carlos Slim Helú é acionista minoritário da Televisa, o império
televisivo mexicano controlado
pela família Azcárraga, com atuação em TV paga e TV aberta, entre outras atividades.
A Folha apurou que as negociações com a Telmex são restritas à
Net e não incluem participação
nos negócios de comunicação da
família Marinho.
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