São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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TELES

Empresa mexicana já adquiriu a Embratel e a AT&T Latin America no país

Telmex quer comprar parte da Net

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A Telmex (Teléfonos de Mexico) negocia com a Globopar (Globo Participações, empresa-mãe das Organizações Globo) a compra de parte do capital da Net Serviços -ex-Globo Cabo- ao grupo mexicano. As partes não falam oficialmente sobre o assunto.
É a terceira investida neste ano de Carlos Slim Helú, o megaempresário mexicano controlador da Telmex, para a compra de empresas no Brasil. Em fevereiro, adquiriu os ativos da AT&T Latin America no país e, no final do mês passado, foi autorizado pela Justiça norte-americana a comprar o controle da Embratel, por US$ 400 milhões.
As condições financeiras para o negócio entre a família Marinho e Slim não estão definidas. Sabe-se que a Telmex entraria como acionista minoritário, mas não seria um simples investidor, pois participaria da operação da empresa.
A maioria das ações com direito a voto continuará com os brasileiros. A lei da TV a cabo, de 1995, exige controle nacional.
A Net Serviços é a maior operadora de TV por assinatura do país, tanto em número de assinantes -1,33 milhão- quanto na extensão de sua rede: 35,8 mil quilômetros de cabos, que passam por 6,5 milhões de residências, com cobertura em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília.

Crise financeira
A empresa vem de longa crise financeira, cujo auge foi em 2002, quando se viu obrigada a suspender o pagamento de suas dívidas. Ela continua inadimplente, mas já anunciou que pretende concluir a negociação com os credores no final de junho. O endividamento bruto da Net é de R$ 1,34 bilhão.
Não há prazo para a conclusão das negociações com Slim. Para a Globo, a prioridade é o acerto com os credores. O novo acionista entraria para dar fôlego financeiro à empresa.
Segundo especialistas do setor, a Net precisa de um sócio para investir na digitalização da rede, para ampliar a oferta de serviços e gerar lucros. A empresa teve prejuízo de R$ 268,4 milhões em 2003, R$ 1,12 bilhão em 2002 e de R$ 699 milhões em 2001. Nos anos anteriores, os resultados também foram negativos.
A negociação entre a Globopar e a Telmex está sendo feita por executivos das duas companhias, sem a intermediação de instituição financeira.
Há consultores envolvidos, mas não são intermediários. As conversas acontecem no Rio e em Nova York.
Não é a primeira vez que Telmex e Globopar discutem a possibilidade de negócio envolvendo a Net. Há cerca de um ano, tiveram contatos com o mesmo objetivo, mas que não evoluíram.
A Globopar procura um sócio para a Net há pelo menos três anos. Telefônica, Brasil Telecom, Telemar, Embratel e Portugal Telecom estão entre as empresas que se sentaram à mesa de negociação com a Globo.

Competição
Na visão da Globo, a chegada da Telmex vai acirrar a competição no mercado de telecomunicações e, nesse novo cenário, a Net passa a ter valor estratégico para as teles, porque ela tem a chamada "última milha", ou seja, a rede de cabos que dá acesso às residências.
A Embratel não tem cabos para acesso ao cliente residencial. Telefônica, Telemar e Brasil Telecom só têm acesso direto ao cliente nas suas áreas de concessão.
O BNDES, que é o segundo maior acionista da Net (com 22,1% do capital total), ainda não foi informado das negociações com a Telmex. O banco informou, por intermédio de sua assessoria, que tomou conhecimento da negociação por "boatos".
O ingresso da Telmex na Net, no entanto, pode trazer constrangimento, pois o BNDES está em conflito com outra empresa de Carlos Slim, a América Móvil, proprietária do grupo Claro de telefonia celular.
O banco investiu R$ 358 milhões em ações preferenciais da Telet e da Americel (empresas do grupo Claro com atuação no Rio Grande do Sul e na região Centro-Oeste, respectivamente), em 1998. Em 2003, a América Móvil propôs recomprar as ações por R$ 15,4 milhões. O BNDES cogita ir à Justiça para resolver o conflito.

Televisão
Carlos Slim Helú é acionista minoritário da Televisa, o império televisivo mexicano controlado pela família Azcárraga, com atuação em TV paga e TV aberta, entre outras atividades.
A Folha apurou que as negociações com a Telmex são restritas à Net e não incluem participação nos negócios de comunicação da família Marinho.


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