São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

"Pax" luliana

Em paz com o povo do Bolsa Família e com o "mercado", Lula coopta sindicatos e torna metódica a razia na oposição

A AQUISIÇÃO do apoio da maioria das centrais sindicais pelo governo Lula 2 integra o mais metódico programa de cooptação e pacificação política da história republicana. Parece bombástico. Mas considere-se o embate de forças políticas e sociais em cada período da história, mesmo sob ditaduras (não se está dizendo de modo algum que Lula 2 se assemelhe a uma delas) e nos períodos de grande cooptação (sob Getúlio Vargas, por exemplo).
Havia mais dissenso e oposição, dentro dos partidos governistas e fora deles, mais conflito entre setores da burocracia estatal e atores sociais conexos, mais movimento social crítico e mesmo "desvios" nos sindicatos manipulados pelo populismo. Agora, as duas maiores centrais, CUT, sempre petista, e Força Sindical, não só apóiam Lula como governam, de ministérios a fundos de pensão. Obtiveram do governo Lula 2 R$ 100 milhões anuais da arrecadação do imposto sindical.
Muita medida de governo acaba por beneficiar um ou outro agregado social. Pode ser mais ou menos racional, de maior ou menor interesse público ou geral. A pacificação luliana resulta de medidas que vão do "mais" ao "menos" desse gradiente de republicanismo. Algumas providências resultam de seu programa e de seu compromisso político, goste-se ou não deles: cite-se, por exemplo, o efeito político do Bolsa Família e da paz com o mercado financeiro.
Mas sob Lula 2 o caráter da pacificação e da cooptação parece mais metódico. O governo vai ampliar a parcela que cabe aos municípios na receita federal. Negocia com os Estados uma linha de crédito, na forma de permissão para endividamento adicional. Na política industrial, as medidas mais fortes são ad hoc, como o aumento da proteção tarifária de setores avariados pelo câmbio.
No PAC, negociou benefícios fiscais setoriais. Só agora estuda corte mais linear de tributos por meio da redução da contribuição patronal para o INSS (que em parte talvez seja compensada por taxação extra do faturamento). A bonança econômica e a arrecadação crescente de tributos permite e facilita o gerenciamento de isenções fiscais.
Na política econômica, calou ou demitiu as vozes mais estridentes das correntes de pensamento que se atritavam; pacificou Henrique Meirelles e Guido Mantega.
No Congresso e com os partidos, procede à mais descomplexada troca de cargos por apoio político, a explicitação do conservadorismo de coalizão brasileiro: a barganha entre governo e o "centrão" informe e dominante do Parlamento.
A pacificação partidária foi facilitada pela ruína moral do PT, pelo WO da oposição tucana e pela decadência eleitoral do DEM, o PFL que não ousa dizer seu nome. O ruído do PT foi mais relegado à periferia do governo. A premiê de Lula, Dilma Rousseff, nem é petista histórica.
O governo se aproveitou de divisões do MST, que se enfraqueceu ainda pela proximidade com o governo e perde repercussão social.
Muito movimento social aparentado do MST também está debilitado pelo amarelão do governismo, infectado que foi pelo parasita da proximidade ideológica com o partido de Lula, por favores setoriais e até por políticas sociais focadas de fato.
É um feito, a "pax" política luliana.


vinit@uol.com.br

Texto Anterior: Sob suspeita: Banco Mundial decidirá hoje sobre Wolfowitz
Próximo Texto: Lula diz que o país não terá falta de energia até 2015
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.