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VINICIUS TORRES FREIRE
"Pax" luliana
Em paz com o povo do Bolsa Família e com o "mercado", Lula coopta sindicatos e torna metódica a razia na oposição
A AQUISIÇÃO do apoio da maioria das centrais sindicais pelo
governo Lula 2 integra o mais
metódico programa de cooptação e
pacificação política da história republicana. Parece bombástico. Mas
considere-se o embate de forças políticas e sociais em cada período da
história, mesmo sob ditaduras (não
se está dizendo de modo algum que
Lula 2 se assemelhe a uma delas) e
nos períodos de grande cooptação
(sob Getúlio Vargas, por exemplo).
Havia mais dissenso e oposição,
dentro dos partidos governistas e fora deles, mais conflito entre setores
da burocracia estatal e atores sociais
conexos, mais movimento social crítico e mesmo "desvios" nos sindicatos manipulados pelo populismo.
Agora, as duas maiores centrais,
CUT, sempre petista, e Força Sindical, não só apóiam Lula como governam, de ministérios a fundos de
pensão. Obtiveram do governo Lula
2 R$ 100 milhões anuais da arrecadação do imposto sindical.
Muita medida de governo acaba
por beneficiar um ou outro agregado
social. Pode ser mais ou menos racional, de maior ou menor interesse
público ou geral. A pacificação luliana resulta de medidas que vão do
"mais" ao "menos" desse gradiente
de republicanismo. Algumas providências resultam de seu programa e
de seu compromisso político, goste-se ou não deles: cite-se, por exemplo,
o efeito político do Bolsa Família e
da paz com o mercado financeiro.
Mas sob Lula 2 o caráter da pacificação e da cooptação parece mais
metódico. O governo vai ampliar a
parcela que cabe aos municípios na
receita federal. Negocia com os Estados uma linha de crédito, na forma
de permissão para endividamento
adicional. Na política industrial, as
medidas mais fortes são ad hoc, como o aumento da proteção tarifária
de setores avariados pelo câmbio.
No PAC, negociou benefícios fiscais setoriais. Só agora estuda corte
mais linear de tributos por meio da
redução da contribuição patronal
para o INSS (que em parte talvez seja compensada por taxação extra do
faturamento). A bonança econômica e a arrecadação crescente de tributos permite e facilita o gerenciamento de isenções fiscais.
Na política econômica, calou ou
demitiu as vozes mais estridentes
das correntes de pensamento que se
atritavam; pacificou Henrique Meirelles e Guido Mantega.
No Congresso e com os partidos,
procede à mais descomplexada troca de cargos por apoio político, a explicitação do conservadorismo de
coalizão brasileiro: a barganha entre
governo e o "centrão" informe e dominante do Parlamento.
A pacificação partidária foi facilitada pela ruína moral do PT, pelo
WO da oposição tucana e pela decadência eleitoral do DEM, o PFL que
não ousa dizer seu nome. O ruído do
PT foi mais relegado à periferia do
governo. A premiê de Lula, Dilma
Rousseff, nem é petista histórica.
O governo se aproveitou de divisões do MST, que se enfraqueceu
ainda pela proximidade com o governo e perde repercussão social.
Muito movimento social aparentado do MST também está debilitado
pelo amarelão do governismo, infectado que foi pelo parasita da proximidade ideológica com o partido de
Lula, por favores setoriais e até por
políticas sociais focadas de fato.
É um feito, a "pax" política luliana.
vinit@uol.com.br
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