São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise turbina o avanço da informalidade na economia

Participação no PIB cresce 27,1%, diz pesquisa da FGV

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

A participação no PIB brasileiro de bens e serviços não reportados ao governo cresceu 27,1% em 2008 -a maior taxa desde o início da série histórica da FGV (Fundação Getulio Vargas), em 2003. A expansão ganhou força principalmente no último trimestre, quando a chamada economia subterrânea cresceu acima da formal, mais impactada pela crise.
"Isso é um sintoma de que alguma coisa está estranha com a economia do país", disse o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, para quem há fatores que estão "empurrando" as empresas para a informalidade e a ilegalidade. "A principal variável que se vê é a carga tributária, ela explica grande parte desse aumento."
O economista disse que, para chegar ao resultado, usou como base a proporção de trabalhadores sem carteira assinada e a de papel-moeda em circulação sobre os depósitos.
Esses dados funcionam como "vestígios" deixados pela economia subterrânea. Para burlarem a fiscalização, as empresas evitam o sistema bancário e os vínculos empregatícios.
Barbosa Filho disse, porém, que as informações não são suficientes para precisar o tamanho dessa economia no Brasil -que, segundo o Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), é de 20% a 30% do PIB do país. Eles permitem, no entanto, comparar a evolução ao longo do tempo e apontar os fatores que mais contribuíram para esse comportamento.

Corrupção
Em 2008, por exemplo, além da carga tributária, pesou também o aumento da percepção de corrupção no país. Segundo o pesquisador da FGV, os relatos dos desvios de dinheiro público dão aos empresários uma "desculpa" para sonegar, além de reduzir o medo de punição. "O empresário acaba achando que poderá subornar o fiscal se for pego", afirmou.
A queda da proporção das exportações sobre o PIB foi outro fator apontado pelo economista. Como exigem um nível de formalização muito grande, as vendas para o exterior funcionam como um desestímulo à economia subterrânea.
Já a expansão da atividade econômica verificada ao longo da maior parte do ano passado teve efeito contrário. "Quando a economia formal cresce e gera emprego e renda, ela tem a capacidade de gerar renda e criar emprego também na economia subterrânea, porque parte das pessoas que recebem salário consome bens providos por essa economia", afirmou.
O pesquisador da FGV disse que esse é um dos motivos pelos quais a crise econômica que abateu a economia formal no último trimestre do ano passado não teve o mesmo efeito sobre a subterrânea. "No último trimestre, apesar da crise, os índices de desemprego ainda estavam em queda."
Ressaltou ainda que o principal canal de transmissão da crise no país foi o crédito, que escasseou com o colapso do sistema financeiro internacional, mas não afetou a economia informal, que independe dele. Para o pesquisador, porém, a situação deve mudar neste ano, já que o nível de desemprego no primeiro trimestre mostrou sinais de deterioração.


Texto Anterior: BB ameaça liderança de Itaú Unibanco
Próximo Texto: Telefonia: Ganhos da OI têm queda de 98%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.