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Crise turbina o avanço da informalidade na economia
Participação no PIB cresce 27,1%, diz pesquisa da FGV
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
A participação no PIB brasileiro de bens e serviços não reportados ao governo cresceu
27,1% em 2008 -a maior taxa
desde o início da série histórica
da FGV (Fundação Getulio
Vargas), em 2003. A expansão
ganhou força principalmente
no último trimestre, quando a
chamada economia subterrânea cresceu acima da formal,
mais impactada pela crise.
"Isso é um sintoma de que alguma coisa está estranha com a
economia do país", disse o economista Fernando de Holanda
Barbosa Filho, para quem há
fatores que estão "empurrando" as empresas para a informalidade e a ilegalidade. "A
principal variável que se vê é a
carga tributária, ela explica
grande parte desse aumento."
O economista disse que, para
chegar ao resultado, usou como
base a proporção de trabalhadores sem carteira assinada e a
de papel-moeda em circulação
sobre os depósitos.
Esses dados funcionam como "vestígios" deixados pela
economia subterrânea. Para
burlarem a fiscalização, as empresas evitam o sistema bancário e os vínculos empregatícios.
Barbosa Filho disse, porém,
que as informações não são suficientes para precisar o tamanho dessa economia no Brasil
-que, segundo o Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), é de 20% a 30% do PIB
do país. Eles permitem, no entanto, comparar a evolução ao
longo do tempo e apontar os fatores que mais contribuíram
para esse comportamento.
Corrupção
Em 2008, por exemplo, além
da carga tributária, pesou também o aumento da percepção
de corrupção no país. Segundo
o pesquisador da FGV, os relatos dos desvios de dinheiro público dão aos empresários uma
"desculpa" para sonegar, além
de reduzir o medo de punição.
"O empresário acaba achando
que poderá subornar o fiscal se
for pego", afirmou.
A queda da proporção das exportações sobre o PIB foi outro
fator apontado pelo economista. Como exigem um nível de
formalização muito grande, as
vendas para o exterior funcionam como um desestímulo à
economia subterrânea.
Já a expansão da atividade
econômica verificada ao longo
da maior parte do ano passado
teve efeito contrário. "Quando
a economia formal cresce e gera emprego e renda, ela tem a
capacidade de gerar renda e
criar emprego também na economia subterrânea, porque
parte das pessoas que recebem
salário consome bens providos
por essa economia", afirmou.
O pesquisador da FGV disse
que esse é um dos motivos pelos quais a crise econômica que
abateu a economia formal no
último trimestre do ano passado não teve o mesmo efeito sobre a subterrânea. "No último
trimestre, apesar da crise, os índices de desemprego ainda estavam em queda."
Ressaltou ainda que o principal canal de transmissão da crise no país foi o crédito, que escasseou com o colapso do sistema financeiro internacional,
mas não afetou a economia informal, que independe dele. Para o pesquisador, porém, a situação deve mudar neste ano,
já que o nível de desemprego no
primeiro trimestre mostrou sinais de deterioração.
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