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Acordo trava e Brasil ameaça ativar sanções aos EUA
Negociações para eliminar subsídio ao algodão tropeçam e representante brasileiro diz que "não dá para ser otimista"
Sanções aos americanos, autorizadas pela OMC, deveriam começar em abril, mas foram adiadas para que países tentassem solução
DE GENEBRA
DE WASHINGTON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Começou aos tropeços e com
"possibilidade não desprezível
de não haver acordo", na frase
do principal negociador brasileiro, as conversas para eliminar de vez os subsídios americanos ao algodão e evitar que
Brasília retalie Washington.
As sanções avalizadas pela
Organização Mundial do Comércio após sete anos de disputa podem chegar a US$ 830 milhões (R$ 1,48 bilhão) e deveriam ter começado em abril.
Mas foram adiadas primeiro
em duas semanas e depois em
dois meses para que, a partir de
um aceno americano com medidas paliativas, os dois países
fechassem um acordo com vistas a mudar a lei agrícola americana -a Farm Bill- em 2012.
"Há questões que são muito
importantes [nas negociações]
e que também causam problemas importantes para eles
[americanos]", disse à Folha o
embaixador brasileiro na
OMC, Roberto Azevedo, lembrando o impasse político nos
EUA por conta dos subsídios.
O embaixador voltou quarta
de Washington, após dois dias
das primeiras conversas para
uma solução permanente.
Na primeira fase, foi criado
um fundo de US$ 147,3 milhões para compensar os brasileiros; suspendeu-se parte dos
subsídios ainda não entregue e
retiraram-se barreiras sanitárias à carne suína brasileira.
São todas medidas temporárias e vistas pelo Brasil como
"paliativos", um sinal mais forte dos americanos de querer
negociar. Mas não o bastante.
O que Brasília quer é o compromisso de mudança na Farm
Bill. E isso ainda não foi obtido.
"Não queremos só promessas",
disse Azevedo. "Há uma possibilidade não desprezível de não
haver acordo no fim."
O diretor do Departamento
Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, tampouco viu avanços no encontro,
que segundo ele serviu para
discutir a substância do impasse. "A negociação se anuncia
complicada. É difícil avaliar,
mas não dá para ser otimista."
Os americanos põem panos
quentes. "Continuamos comprometidos com um envolvimento contínuo e esperamos
progredir mais nas próximas
semanas", disse uma porta-voz
do gabinete do representante
comercial dos EUA.
Mas os brasileiros veem uma
falta de propostas na mesa. A
próxima reunião está marcada
para 1º e 2 de junho, e as negociações culminam no dia 21.
Parte das sanções brasileiras
pode ser aplicada em um setor
distinto àquele envolvido na
disputa. O país escolheu propriedade intelectual, o que lhe
permite, por exemplo, quebrar
patentes de remédios.
Diante do duelo entre o
lobby agrícola e o farmacêutico, o Congresso dos EUA
acompanha a discussão.
O senador republicano Richard Lugar escreveu a Obama,
sugerindo que a verba do fundo
compensatório saia dos subsídios a produtor local.
"Prefiro tratar da situação
com a reforma do programa de
algodão agora, e estou pronto
para apresentar um projeto",
escreveu o congressista.
(LUCIANA COELHO, ANDREA MURTA E EDUARDO RODRIGUES)
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