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Poço é o mais profundo já perfurado no país
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, a exploração atingiu uma nova rocha, chamada coquina, até então ignorada
Ex-presidente da Petrobras diz que os dados disponíveis até agora não permitem avaliar se a reserva atingirá mesmo 4,5 bilhões de barris
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A recente descoberta de um
megarreservatório de petróleo
na bacia de Santos, em área da
União, levou a ANP (Agência
Nacional do Petróleo) a afirmar
que o potencial do pré-sal é
maior do que o estimado e os
riscos da exploração, menores.
A agência diz que sua perfuração atingiu um novo horizonte, a 6.000 metros de distância
do fundo do mar.
A estimativa é que o reservatório, localizado em uma área
denominada Franco, tenha 4,5
bilhões de barris, sendo, assim,
o segundo maior do país -atrás
apenas de Tupi, com 5 bilhões a
8 bilhões de barris.
A agência perfura um segundo poço na bacia de Santos e diz
que, nessa segunda área, chamada de Libra, é possível encontrar um reservatório maior
do que o de Franco.
"Franco abriu novo paradigma na exploração do pré-sal",
diz Magda Chambriard, diretora da ANP . "Há um horizonte
com o qual não contávamos."
Segundo a diretora, o poço
em Franco foi o mais profundo
atingido no subsolo brasileiro.
Tal profundidade alcançou
uma nova rocha -chamada coquina-, até então ignorada.
"Até agora, as empresas só
iam até as camadas acima das
coquinas, chamadas microbiolitos. A descoberta mostrou para as empresas que elas devem
ir mais abaixo. Aumenta-se, assim, a margem de segurança de
explorar no pré-sal."
Apenas um furo foi feito na
nova área. Questionada, a diretora disse que mesmo assim é
possível chegar à estimativa de
4,5 bilhões. Segundo Chambriard, a ANP agora fará testes
para avaliar o potencial de produção do reservatório.
Cessão de reservas
A ANP procura não vincular
a descoberta à cessão de reservas pela União à Petrobras, dizendo que faz as perfurações
nas bacias para "melhor conhecer o pré-sal".
O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, porém, confirmou que Franco será cedido à Petrobras e que, entre 45 e 90 dias, uma empresa
vai aferir o volume estimado.
A cessão onerosa é prevista
no novo marco regulatório e
tramita no Congresso. Pelo
processo, a União cederá à Petrobras reservas estimadas em
5 bilhões de barris.
Em paralelo, a estatal realizará uma emissão de ações para
captar dinheiro junto aos acionistas. A cessão é a forma como
a União pagará pela sua parte.
O geofísico Wagner Freire,
ex-diretor da Petrobras, minimiza o entusiasmo da ANP.
"Pelos dados disponíveis até
agora, não dá para sequer avaliar de forma adequada se o volume é de 4,5 bilhões de barris.
Ainda há muitas incertezas",
diz. Segundo ele, o potencial na
coquina não é certo ainda.
Conflito
A ANP informou que a Petrobras arcou com os US$ 300 milhões gastos na perfuração em
Franco e em Libra e que não
houve aplicação de dinheiro da
União. Segundo Chambriard, a
iniciativa tem amparo na lei.
Embora, ao fim, o reservatório acabe sendo revertido para
a Petrobras, especialistas criticaram a decisão da empresa.
"Está tudo irregular. A ANP
não pode furar um poço para
atender o pleito da Petrobras",
afirma Freire.
A decisão traz danos à imagem da empresa em termos de
gestão, na opinião de um analista de mercado, que não quis
se identificar.
Para esse analista, o fato de a
Petrobras se beneficiar do processo não significa que possa
misturar interesses próprios
com os do governo -inclusive
porque não está de todo descartada a possibilidade de as reservas não serem tão grandes.
Procurada, a Petrobras não
comentou a questão.
Colaborou PEDRO SOARES , da Sucursal do Rio
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