São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Poço é o mais profundo já perfurado no país

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, a exploração atingiu uma nova rocha, chamada coquina, até então ignorada

Ex-presidente da Petrobras diz que os dados disponíveis até agora não permitem avaliar se a reserva atingirá mesmo 4,5 bilhões de barris

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A recente descoberta de um megarreservatório de petróleo na bacia de Santos, em área da União, levou a ANP (Agência Nacional do Petróleo) a afirmar que o potencial do pré-sal é maior do que o estimado e os riscos da exploração, menores.
A agência diz que sua perfuração atingiu um novo horizonte, a 6.000 metros de distância do fundo do mar.
A estimativa é que o reservatório, localizado em uma área denominada Franco, tenha 4,5 bilhões de barris, sendo, assim, o segundo maior do país -atrás apenas de Tupi, com 5 bilhões a 8 bilhões de barris.
A agência perfura um segundo poço na bacia de Santos e diz que, nessa segunda área, chamada de Libra, é possível encontrar um reservatório maior do que o de Franco.
"Franco abriu novo paradigma na exploração do pré-sal", diz Magda Chambriard, diretora da ANP . "Há um horizonte com o qual não contávamos."
Segundo a diretora, o poço em Franco foi o mais profundo atingido no subsolo brasileiro.
Tal profundidade alcançou uma nova rocha -chamada coquina-, até então ignorada.
"Até agora, as empresas só iam até as camadas acima das coquinas, chamadas microbiolitos. A descoberta mostrou para as empresas que elas devem ir mais abaixo. Aumenta-se, assim, a margem de segurança de explorar no pré-sal."
Apenas um furo foi feito na nova área. Questionada, a diretora disse que mesmo assim é possível chegar à estimativa de 4,5 bilhões. Segundo Chambriard, a ANP agora fará testes para avaliar o potencial de produção do reservatório.

Cessão de reservas
A ANP procura não vincular a descoberta à cessão de reservas pela União à Petrobras, dizendo que faz as perfurações nas bacias para "melhor conhecer o pré-sal".
O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, porém, confirmou que Franco será cedido à Petrobras e que, entre 45 e 90 dias, uma empresa vai aferir o volume estimado.
A cessão onerosa é prevista no novo marco regulatório e tramita no Congresso. Pelo processo, a União cederá à Petrobras reservas estimadas em 5 bilhões de barris.
Em paralelo, a estatal realizará uma emissão de ações para captar dinheiro junto aos acionistas. A cessão é a forma como a União pagará pela sua parte.
O geofísico Wagner Freire, ex-diretor da Petrobras, minimiza o entusiasmo da ANP.
"Pelos dados disponíveis até agora, não dá para sequer avaliar de forma adequada se o volume é de 4,5 bilhões de barris. Ainda há muitas incertezas", diz. Segundo ele, o potencial na coquina não é certo ainda.

Conflito
A ANP informou que a Petrobras arcou com os US$ 300 milhões gastos na perfuração em Franco e em Libra e que não houve aplicação de dinheiro da União. Segundo Chambriard, a iniciativa tem amparo na lei.
Embora, ao fim, o reservatório acabe sendo revertido para a Petrobras, especialistas criticaram a decisão da empresa. "Está tudo irregular. A ANP não pode furar um poço para atender o pleito da Petrobras", afirma Freire.
A decisão traz danos à imagem da empresa em termos de gestão, na opinião de um analista de mercado, que não quis se identificar.
Para esse analista, o fato de a Petrobras se beneficiar do processo não significa que possa misturar interesses próprios com os do governo -inclusive porque não está de todo descartada a possibilidade de as reservas não serem tão grandes.
Procurada, a Petrobras não comentou a questão.


Colaborou PEDRO SOARES , da Sucursal do Rio


Texto Anterior: OGX afirma ter encontrado petróleo, mas ações caem 2,8%
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.