São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Eduardo Loyo, que deixa o cargo, elogia equipe; Alexandre Tombini, que assume, reforça combate à inflação

Política do BC é lição monetária, diz ex-diretor

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Recém-nomeado para a diretoria de Estudos Especiais do Banco Central, o economista Alexandre Tombini defendeu, ao tomar posse no cargo, que o BC atue com "intransigência com a inflação", num discurso alinhado com a política econômica conduzida, até agora, pelo governo.
Hoje, Tombini participa da reunião mensal do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), sendo uma das nove pessoas com poderes para decidir sobre os rumos dos juros básicos da economia -atualmente em 19,75% ao ano. Desde setembro de 2004 o BC tem elevado, mensalmente, a taxa Selic, na tentativa de manter a inflação dentro das metas fixadas pelo governo.
"O exercício de construção da credibilidade de um BC exige, a meu ver, disciplina na condução da política monetária, inteligência na avaliação do ambiente econômico e intransigência com a inflação", disse ele na cerimônia de transmissão de cargo, realizada em Brasília na última quinta-feira. O evento foi fechado à imprensa, mas foi gravado pela rede de televisão interna do BC.
Tombini é funcionário de carreira do BC e, entre 1999 e 2001, participou das reuniões do Copom -embora, à época, como chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas, não tivesse direito a voto nas decisões sobre juros.
"Somente com uma inflação baixa e previsível podemos alcançar um desenvolvimento econômico duradouro", disse Tombini, para quem o BC precisa agir de forma a ter credibilidade para "manter as expectativas da sociedade coordenadas com os objetivos do governo".
Neste ano, o BC tem como objetivo manter a inflação em 5,1%. Analistas do setor privado, porém, estimam que a alta dos preços vá ficar acima de 6%. Desde o final de 2004, o BC eleva os juros para tentar mostrar seu comprometimento com a meta de 5,1%.
Tombini substituiu Eduardo Loyo, que é o novo representante do governo brasileiro no FMI (Fundo Monetário Internacional). No seu discurso de despedida, Loyo deixou a modéstia de lado e disse que, nos últimos anos, o BC "deu uma verdadeira lição de como se faz política monetária de forma serena, de forma altiva, diante de uma quantidade grande de descrença, de ceticismo e de incompreensão".

Sacrifício do cargo
As críticas ao BC se intensificaram após o IBGE divulgar os números sobre o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano. Segundo dados preliminares, a expansão ficou em 0,3%, o que fez com que muitos analistas reduzissem para menos de 3% suas projeções para o crescimento esperado para 2005. No ano passado, o país cresceu 4,9%, e a recente alta dos juros é apontada como a principal responsável pela desaceleração.
Loyo ocupa, no FMI, o lugar que era de Murilo Portugal, que virou secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Portugal esteve presente à cerimônia de posse de Tombini e ouviu do presidente do BC, Henrique Meirelles, estar "comemorando" as mudanças na equipe econômica. Num rápido desabafo, Meirelles também disse ser um "sacrifício" permanecer no cargo que ocupa atualmente.
"Cada vez mais eu acredito no Banco Central, acredito em vocês e acredito que esse sacrifício vale a pena", disse. Depois que Supremo Tribunal Federal decidiu abrir inquérito para investigar suspeitas de sonegação fiscal e evasão de divisas de Meirelles, surgiram rumores sobre a sua saída do BC. De lá para cá, Meirelles tem evitado contatos com a imprensa.


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