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RECEITA ORTODOXA
Eduardo Loyo, que deixa o cargo, elogia equipe; Alexandre Tombini, que assume, reforça combate à inflação
Política do BC é lição monetária, diz ex-diretor
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Recém-nomeado para a diretoria de Estudos Especiais do Banco
Central, o economista Alexandre
Tombini defendeu, ao tomar posse no cargo, que o BC atue com
"intransigência com a inflação",
num discurso alinhado com a política econômica conduzida, até
agora, pelo governo.
Hoje, Tombini participa da reunião mensal do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC),
sendo uma das nove pessoas com
poderes para decidir sobre os rumos dos juros básicos da economia -atualmente em 19,75% ao
ano. Desde setembro de 2004 o
BC tem elevado, mensalmente, a
taxa Selic, na tentativa de manter
a inflação dentro das metas fixadas pelo governo.
"O exercício de construção da
credibilidade de um BC exige, a
meu ver, disciplina na condução
da política monetária, inteligência
na avaliação do ambiente econômico e intransigência com a inflação", disse ele na cerimônia de
transmissão de cargo, realizada
em Brasília na última quinta-feira. O evento foi fechado à imprensa, mas foi gravado pela rede de
televisão interna do BC.
Tombini é funcionário de carreira do BC e, entre 1999 e 2001,
participou das reuniões do Copom -embora, à época, como
chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas, não tivesse direito a voto nas decisões sobre juros.
"Somente com uma inflação
baixa e previsível podemos alcançar um desenvolvimento econômico duradouro", disse Tombini,
para quem o BC precisa agir de
forma a ter credibilidade para
"manter as expectativas da sociedade coordenadas com os objetivos do governo".
Neste ano, o BC tem como objetivo manter a inflação em 5,1%.
Analistas do setor privado, porém, estimam que a alta dos preços vá ficar acima de 6%. Desde o
final de 2004, o BC eleva os juros
para tentar mostrar seu comprometimento com a meta de 5,1%.
Tombini substituiu Eduardo
Loyo, que é o novo representante
do governo brasileiro no FMI
(Fundo Monetário Internacional). No seu discurso de despedida, Loyo deixou a modéstia de lado e disse que, nos últimos anos, o
BC "deu uma verdadeira lição de
como se faz política monetária de
forma serena, de forma altiva,
diante de uma quantidade grande
de descrença, de ceticismo e de incompreensão".
Sacrifício do cargo
As críticas ao BC se intensificaram após o IBGE divulgar os números sobre o desempenho da
economia brasileira no primeiro
trimestre deste ano. Segundo dados preliminares, a expansão ficou em 0,3%, o que fez com que
muitos analistas reduzissem para
menos de 3% suas projeções para
o crescimento esperado para
2005. No ano passado, o país cresceu 4,9%, e a recente alta dos juros
é apontada como a principal responsável pela desaceleração.
Loyo ocupa, no FMI, o lugar que
era de Murilo Portugal, que virou
secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Portugal esteve
presente à cerimônia de posse de
Tombini e ouviu do presidente do
BC, Henrique Meirelles, estar "comemorando" as mudanças na
equipe econômica. Num rápido
desabafo, Meirelles também disse
ser um "sacrifício" permanecer
no cargo que ocupa atualmente.
"Cada vez mais eu acredito no
Banco Central, acredito em vocês
e acredito que esse sacrifício vale a
pena", disse. Depois que Supremo Tribunal Federal decidiu abrir
inquérito para investigar suspeitas de sonegação fiscal e evasão de
divisas de Meirelles, surgiram rumores sobre a sua saída do BC. De
lá para cá, Meirelles tem evitado
contatos com a imprensa.
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