São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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FUGITIVO

Kim Woo-choong fugiu após o colapso da empresa e ficou seis anos foragido

Fundador da Daewoo volta à Coréia

Bloomberg
Kim Woo-choong (centro) sai do aeroporto de Incheon, em Seul


ANNA FIFIELD
DO "FINANCIAL TIMES"

Um capítulo da turbulenta história econômica da Coréia do Sul -e um dos maiores mistérios do país- terminou ontem quando Kim Woo-choong, o ex-presidente fugitivo do grupo Daewoo, que foi protagonista de uma das maiores falências do mundo, retornou a Seul.
Durante quase seis anos, a mídia coreana relatou aparições não-confirmadas de Kim em hotéis no Vietnã, jogando tênis na França e golfe na Flórida, e até em lugares improváveis como o Sudão e a Coréia do Norte.
Mas isso chegou ao fim na manhã de ontem, quando o empresário de 69 anos se entregou a promotores no aeroporto de Incheon, perto de Seul (capital do país). Ele estava foragido por causa do colapso do grupo Daewoo em 1999, devido a dívidas de US$ 80 bilhões.
Kim, que vinha do Vietnã, disse no aeroporto: "Voltei para assumir a responsabilidade e sinto muito pela questão da Daewoo", segundo a agência de notícias Yonhap. A reportagem também disse que ele foi levado para o gabinete da Promotoria pouco depois.
Para muitos políticos coreanos, porém, o trabalho de adivinhação pode estar apenas começando.
Kim, que foi condenado por subornar um ex-presidente, mas depois foi perdoado, poderá revelar casos de corrupção até agora desconhecidos, incluindo os nomes dos que podem ter aceitado propinas quando ele tentou evitar a falência da Daewoo. Muitos dos que teriam recebido dinheiro de Kim continuam proeminentes na vida pública coreana, ou mesmo no poder.

"Homem milagroso"
O ex-empresário personificou a transição surpreendentemente rápida da Coréia do Sul de um pobre país agrícola nos anos 60 para o famoso fabricante de telefones celulares Samsung e automóveis Hyundai poucas décadas depois.
"Ele era o "homem milagroso", um verdadeiro caso de pobre que fica rico. Mais que qualquer coisa, ele representa o milagre econômico coreano", disse Shim Jae-hoon, veterano jornalista e comentarista que acompanhou de perto o caso.
Kim fundou uma pequena trading de produtos têxteis com US$ 5.000 em 1967 e a transformou no segundo maior "chaebol" (conglomerado familiar) do país. No auge, a empresa tinha ativos de US$ 100 bilhões e fabricava carros, navios, pianos e televisores.
Mas a Daewoo -literalmente "grande universo" em coreano- desmoronou em 1999. Depois de se expandir demais, as filiais de sucesso estavam subsidiando unidades falidas e quantias crescentes foram emprestadas de bancos para sustentar o grupo.
Logo depois do colapso, Kim fugiu durante a inauguração de uma fábrica de peças para carros em Yantai, na China. Dois anos atrás, no exílio, ele disse à revista "Fortune" que só compreendeu totalmente a gravidade da situação quando era tarde demais.
"No momento final, soube por meu pessoal que tínhamos dificuldades de fluxo de caixa", disse Kim à revista. "Eles não me informaram adequadamente, não porque sejam maus, mas porque acharam que podiam resolver."
Depois de deter Kim ontem, a Promotoria deverá interrogá-lo sobre acusações de que cinco filiais do grupo Daewoo inflaram seus patrimônios em US$ 42 bilhões e obtiveram, através de fraudes, US$ 10 bilhões em empréstimos.
Também entrará nas acusações que Kim fez lobby com políticos e funcionários públicos para impedir que a Daewoo fosse à falência depois da crise financeira asiática em 1997.
Há rumores de que Kim está gravemente doente e voltou ao país para passar seus últimos dias.
Hank Morris, assessor econômico da Industrial Research and Consulting, em Seul, diz que Kim poderá atenuar seu caso se cooperar com a Promotoria, talvez revelando algum dinheiro restante.
"Ele não morou em uma barraca nos últimos seis anos. Por isso, a Promotoria vai querer examinar todos os detalhes da história", diz Morris. "Se ele cooperar e demonstrar arrependimento, eles podem ser brandos."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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