São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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YOSHIAKI NAKANO

Alcançar os países desenvolvidos


Para o Brasil alcançar os países desenvolvidos em 2050, nossa renda per capita teria de crescer 5,3% ao ano

SERÁ QUE algum dia o povo brasileiro poderá desfrutar do mesmo padrão de vida dos atuais países desenvolvidos? Quando, e como, vamos alcançar e ser tão ricos quanto os países desenvolvidos? Essas questões deveriam ser a maior preocupação das nossas lideranças políticas, dos intelectuais e dos governantes. O Relatório de Crescimento da Comissão sobre Crescimento e Desenvolvimento, criado com o apoio de quatro países (Austrália, Holanda, Suécia e Reino Unido), do Banco Mundial e de uma fundação privada americana, recoloca essas questões como centrais e sugere uma estratégia de desenvolvimento. Da mesma forma, no relatório do Banco Mundial sobre renascimento da Ásia, o "catch-up mentality" e "developmental dictatorship" surge como a base comum do extraordinário desenvolvimento de países tão díspares como Japão, Tailândia, China e Índia.
Para responder tais questões, a comissão mencionada, presidida por Michael Spence, Prêmio Nobel de Economia, definiu como casos de sucesso países que cresceram 7% ao ano ou mais por 25 anos, pelo menos, e encontraram 13 países ou episódios. Verificou-se que o que há são caminhos comuns, construídos e trilhados de forma diferente. Todos se aproveitaram da ampla e elástica demanda mundial, do estoque de conhecimento e da tecnologia dos desenvolvidos, isto é, aceleraram as exportações para importar mais; estimularam o investimento e a poupança; mantiveram a estabilidade macroeconômica; utilizaram os incentivos de mercado; tiveram lideranças comprometidas com o crescimento e um governo competente voltado aos interesses da população.
O Brasil faz parte desse grupo de 13 casos de sucesso, mas desaceleramos a partir de 1980. Será que, com a atual retomada do crescimento, vamos alcançar os países desenvolvidos? Lamentavelmente, a resposta é não. O relatório sugere que a partir de 1980 não fomos capazes de aproveitar o potencial dinâmico da economia global, descuidamos das exportações e, com isso, não incorporamos a fronteira tecnológica na nossa estrutura produtiva, perdendo a posição relativa no mercado mundial. Estamos cometendo o mesmo erro: permitimos a apreciação da taxa de câmbio desde 2004, começamos a desacelerar as exportações e vamos ter enorme déficit externo neste ano.
Mantida a performance de crescimento do último quarto de século, jamais vamos alcançar os países desenvolvidos, pois nossa renda per capita cresceu à média de 0,5% ao ano, enquanto a dos desenvolvidos tem crescido secularmente à taxa de 2% ao ano. Tomando os últimos dez anos, nossa renda per capita cresceu 1,1% ao ano. O relatório mostra também que, para o Brasil alcançar os países desenvolvidos em 2050 (renda per capita de US$ 75.130), nossa renda per capita teria de crescer 5,3% ao ano. Para isso, o PIB teria de crescer mais do que 6% ao ano.
Mas não vamos desanimar. No passado, já crescemos a taxas de mais de 7% ao ano por quatro décadas e temos competência para isso. Os asiáticos nos diriam que é preciso difundir a mentalidade de "catch-up" e estabelecer a "ditadura do desenvolvimentismo".


YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).


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