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YOSHIAKI NAKANO
Alcançar os países desenvolvidos
Para o Brasil alcançar os países desenvolvidos em 2050, nossa renda per capita teria de crescer 5,3% ao ano
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SERÁ QUE algum dia o povo brasileiro poderá desfrutar do
mesmo padrão de vida dos
atuais países desenvolvidos? Quando, e como, vamos alcançar e ser tão
ricos quanto os países desenvolvidos? Essas questões deveriam ser a
maior preocupação das nossas lideranças políticas, dos intelectuais e
dos governantes. O Relatório de
Crescimento da Comissão sobre
Crescimento e Desenvolvimento,
criado com o apoio de quatro países
(Austrália, Holanda, Suécia e Reino
Unido), do Banco Mundial e de uma
fundação privada americana, recoloca essas questões como centrais e
sugere uma estratégia de desenvolvimento. Da mesma forma, no relatório do Banco Mundial sobre renascimento da Ásia, o "catch-up
mentality" e "developmental dictatorship" surge como a base comum
do extraordinário desenvolvimento
de países tão díspares como Japão,
Tailândia, China e Índia.
Para responder tais questões, a comissão mencionada, presidida por
Michael Spence, Prêmio Nobel de
Economia, definiu como casos de
sucesso países que cresceram 7% ao
ano ou mais por 25 anos, pelo menos, e encontraram 13 países ou episódios. Verificou-se que o que há são
caminhos comuns, construídos e
trilhados de forma diferente. Todos
se aproveitaram da ampla e elástica
demanda mundial, do estoque de
conhecimento e da tecnologia dos
desenvolvidos, isto é, aceleraram as
exportações para importar mais; estimularam o investimento e a poupança; mantiveram a estabilidade
macroeconômica; utilizaram os incentivos de mercado; tiveram lideranças comprometidas com o crescimento e um governo competente
voltado aos interesses da população.
O Brasil faz parte desse grupo de
13 casos de sucesso, mas desaceleramos a partir de 1980. Será que, com a
atual retomada do crescimento, vamos alcançar os países desenvolvidos? Lamentavelmente, a resposta é
não. O relatório sugere que a partir
de 1980 não fomos capazes de aproveitar o potencial dinâmico da economia global, descuidamos das exportações e, com isso, não incorporamos a fronteira tecnológica na
nossa estrutura produtiva, perdendo a posição relativa no mercado
mundial. Estamos cometendo o
mesmo erro: permitimos a apreciação da taxa de câmbio desde 2004,
começamos a desacelerar as exportações e vamos ter enorme déficit
externo neste ano.
Mantida a performance de crescimento do último quarto de século,
jamais vamos alcançar os países desenvolvidos, pois nossa renda per
capita cresceu à média de 0,5% ao
ano, enquanto a dos desenvolvidos
tem crescido secularmente à taxa de
2% ao ano. Tomando os últimos dez
anos, nossa renda per capita cresceu
1,1% ao ano. O relatório mostra também que, para o Brasil alcançar os
países desenvolvidos em 2050 (renda per capita de US$ 75.130), nossa
renda per capita teria de crescer
5,3% ao ano. Para isso, o PIB teria de
crescer mais do que 6% ao ano.
Mas não vamos desanimar. No
passado, já crescemos a taxas de
mais de 7% ao ano por quatro décadas e temos competência para isso.
Os asiáticos nos diriam que é preciso
difundir a mentalidade de "catch-up" e estabelecer a "ditadura do desenvolvimentismo".
YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
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