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Agências precisam de pressão, diz professor
Para especialista, sem a cobrança de governos, consumidores e empresas, agências reguladoras como a Anac não funcionam bem
Outros vêem independência em relação ao Executivo como qualidade essencial para assegurar planos de longo prazo para os setores
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A denúncia da ex-diretora da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) Denise Abreu sobre a interferência da Casa Civil nas decisões da autarquia
durante o processo de venda da
VarigLog e da Varig trouxe à
baila mais uma vez a discussão
a respeito dos limites para a
atuação do governo nas agências reguladoras.
O especialista Ronaldo Fiani,
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), defende
a intervenção. "Criou-se uma
convicção generalizada de que
agência reguladora não deve
sofrer pressões. Agência que
não sofre pressão regula mal.
Ela tem de ser pressionada por
consumidores, empresas e até
pelos governos, se atua de forma lenta. A questão é o tipo de
pressão que pode ser feita", diz
o professor.
Na opinião de Fiani, o modelo regulatório brasileiro é contraditório e confuso. No caso
específico da Anac, aponta o estudioso, isso fica bastante claro
quando se analisam as suas
funções: elas são divididas com
a Aeronáutica e a Infraero, o
que dificulta a atribuição de
responsabilidades e contribui
para fragilizar institucionalmente a agência.
Já Paulo César Coutinho, da
UnB (Universidade de Brasília), acredita que o modelo teve
um projeto adequado -a implantação errada é que enfraquece as agências e as leva a
apresentar desempenho muito
irregular.
Um dos maiores problemas,
na sua visão, é justamente a ingerência do Poder Executivo.
Tais excessos têm fundo ideológico, para o especialista. "O
PT sempre foi contra as privatizações. O entendimento do
partido é que, uma vez que os
setores foram privatizados, o
governo precisaria ter um controle sobre eles. A independência das agências vai contra a
maneira centralizada com que
o PT gere o Estado", afirma.
"Também havia a idéia de
que, como os antigos diretores
das agências haviam sido indicadas por Fernando Henrique
Cardoso, essa seria uma forma
de o ex-presidente usurpar a
implementação do programa
de governo de Lula e a gestão de
setores estratégicos da economia do país."
Outro defeito decorrente da
maneira como as agências foram estabelecidas, de acordo
com Coutinho, é a indicação,
para os seus quadros, de profissionais que não ostentam a formação adequada. "Em outros
países, a aprovação, pelo Congresso, dos nomes sugeridos
pelo governo é feita criteriosamente. No Brasil, temos uma
análise superficial. Alguns diretores, ao assumir, não tinham
praticamente nenhuma experiência na área na qual iam trabalhar", afirma o professor.
Sobre a hipótese de a ministra Dilma Rousseff ter determinado a criação de um plano de
contingência, como relatou
Abreu, Fiani afirma que isso seria uma atribuição da Anac.
"A lei da Anac é vaga. Cria zonas de sombra e, como o governo tem horror a vácuo, começa
a ocupar espaços em que não há
definições claras. Mais do que
um caso de interferência do governo, o que aconteceu foi um
conflito institucional", diz.
O especialista da UFRJ concorda que a interferência do governo nas agências reguladoras
já se tornou uma tradição no
governo. Ele cita como exemplo a crise do racionamento de
energia em 2001. "Na época, a
Aneel [Agência Nacional de
Energia Elétrica] foi posta à
margem. Sempre que há uma
crise, as agências são colocadas
de lado porque representam o
elo mais fraco", diz. O mesmo
ocorreu na crise do setor aéreo,
segundo a sua avaliação.
Garantir a independência
dessas autarquias é fundamental, frisa Coutinho, pela importância do papel exercido por
elas. "Os setores regulados são
muito concentrados e pouco
sensíveis a preços. É preciso
achar um equilíbrio entre
atrair investidores e cobrar valores justos da população. Por
isso, as agências necessitam de
uma diretoria focada no longo
prazo, que não esteja sujeita
aos interesses políticos do momento", afirma.
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