São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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FolhaInvest

Ações "abatidas" pela crise lideram retomada

Recuperação da Bovespa restabelece os valores de papéis mais afetados, aponta estudo da consultoria Economática

Ações da Agrenco, por exemplo, tiveram queda de 97,7% por conta da crise e da operação da PF, mas já acumulam alta de 245,5%

TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

As ações que mais perderam valor no ano passado com a crise nos mercados são agora as que lideram a recente retomada na Bolsa, segundo estudo da consultoria Economática.
No levantamento, as empresas que experimentaram os dois extremos da mudança de humor dos mercados são todas novatas da Bolsa, que abriram capital entre 2007 e 2008, época do boom da entrada de recursos de estrangeiros.
As ações que mais aparecem na amostra são as de bancos pequenos, construtoras, frigoríficos e usinas de açúcar e de álcool. São setores prejudicados pela contração no crédito, aperto na liquidez e problemas de geração de caixa.
O caso mais grave é o da Agrenco, empresa do agronegócio cujos sócios foram presos na operação Influenza da Polícia Federal. Os papéis chegaram a cair 97,7% no ano passado; neste ano, já subiram 245,5%. Além da crise, os papéis foram penalizados porque a empresa recorreu à recuperação judicial (mecanismo de proteção contra credores) após seus sócios e executivos serem acusados de fraude por simular vendas de grãos, falsificar documentos, lavar dinheiro, sonegar impostos, além de praticar tráfico de influência e corrupção passiva.
Segundo Einar Rivero, autor do estudo da Economática, a recuperação em 2009 das ações mais penalizadas no ano passado mostra que não houve "enganação" dos bancos que prepararam as empresas para os IPOs [ofertas iniciais de ações] feitos nos últimos dois anos.
"Alguns IPOs saíram com preços exorbitantes. Como o mercado não conhecia essas empresas, é natural que fossem mais penalizadas em um primeiro momento. Depois, os preços foram corrigidos e voltaram a patamares mais consistentes. A noiva foi enfeitada, mas tinha fundamento. Tanto que os preços voltaram a subir. Não houve enganação", disse.
Rivero lembra que essas ações saíram de um patamar muito baixo de preço, portanto tinham mais perspectivas de recuperação com a retomada do otimismo do mercado.
"É importante registrar que esse crescimento intenso vem de uma queda bastante forte."
Para Ricardo Tadeu Martins, gerente de análise da corretora Planner, as ações de empresas que fizeram IPO só se recuperaram devido ao retorno do dinheiro de investidores estrangeiros ao país. Martins lembra que foram os mesmo investidores estrangeiros que compraram essas ações no momento do IPO, entre 2007 e 2008.
"Você vê que, basicamente, foi o fluxo [externo] que valorizou as Bolsas emergentes. O estrangeiro veio buscar os papéis que estavam muito depreciados, da mesma forma que em junho do ano passado eles iniciaram um processo de venda contínua, que desvalorizou esses papéis", disse.
O analista lembra ainda que o governo desenvolveu programas específicos para reverter os problemas de liquidez e geração de caixa dos setores mais prejudicados pela crise.
No caso das construtoras, as ações foram beneficiadas também pelo programa "Minha Casa, Minha Vida", focado na habitação para baixa renda. Já os bancos pequenos tiveram socorro por meio de venda de carteira de crédito, liberação de compulsórios e recursos do Fundo Garantidor de Crédito. "O pacote da construção civil não saiu do papel, mas as ações subiram forte em cima disso", disse Martins.


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