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OPINIÃO ECONÔMICA
Enquanto a reforma tributária não vem...
LUIZ CARLOS DELBEN LEITE
Desde a instituição do PIS
(Programa de Integração
Social), em 1970, e da Cofins
(Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), em
1991, os dois tributos tiveram as
alíquotas aumentadas várias vezes pelo governo federal. Mas o
que já seria trágico para as empresas de qualquer segmento da
economia possui um aspecto ainda mais perverso quando se trata
do setor produtivo: a cumulatividade dos dois impostos durante
as diferentes fases de produção.
Essa matemática faz com que a
incidência do PIS e da Cofins
ocorra tantas vezes quantas forem as etapas de fabricação de
um produto. Essa é uma situação
que provoca grande distorção e
compromete a competitividade
da indústria brasileira, sobretudo
das empresas de bens de capital,
caracterizadas pela complexidade de sua estrutura de produção.
Nesse contexto, o setor de máquinas e equipamentos é um dos
mais afetados por esse acúmulo
tributário, que, somado à CPMF,
chega a responder por 10% do
preço final dos produtos.
Não temos a ilusão de que essas
contribuições, que passaram a
engrossar a carga tributária do
setor produtivo brasileiro, venham a ser revogadas, a não ser
por meio de uma corajosa e ampla reforma tributária. Enquanto
isso não ocorre, cabe-nos apresentar alternativas, até mesmo como
forma de reconhecer os esforços
realizados pelo setor de máquinas
e equipamentos, integrado por
4.500 empresas no Brasil, de acordo com os dados do IBGE.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos) reúne 1.400 dessas empresas, que respondem por
aproximadamente 80% da produção, das vendas e das exportações do setor. Em razão dessa representatividade, temos trabalhado para soltar as amarras da
tributação exacerbada, que emperra o desenvolvimento de novas
tecnologias, fundamentais para
alcançarmos maior competitividade interna e o acesso às oportunidades do mercado externo.
Entre essas alternativas, está a
possibilidade, real e factível, de
dar ao PIS e à Cofins a característica de tributos que incidem sobre
o valor agregado, eliminando a
perversidade da cumulatividade.
Outra necessidade é a isonomia
tributária das máquinas e dos
equipamentos nacionais em relação aos produtos importados,
nossos principais concorrentes,
que são isentos do pagamento das
duas contribuições, um diferencial competitivo expressivo.
A isonomia poderia ocorrer, por
um lado, com o pagamento do
PIS e da Cofins por todos os bens
de capital, independentemente de
sua origem, inclusive os do exterior. Mas essa igualdade também
poderia ser instituída se a cadeia
produtiva de máquinas e equipamentos nacionais fosse desonerada do pagamento das duas contribuições. Para tanto, o Poder
Executivo pode repetir iniciativas
já implementadas no passado,
quando isentou do pagamento do
IPI os bens destinados a investimentos.
Entendemos, contudo, que a
isonomia tributária referente ao
PIS e à Cofins incidentes sobre
bens de capital mecânicos apenas
contribuiria para alcançarmos
certa justiça fiscal. Afinal, o Imposto de Importação pago pelos
produtos vindos do exterior, cuja
tarifa modal é de 14%, é insuficiente para compensar os custos
dos tributos recolhidos pela indústria nacional. Ainda teríamos
pela frente os obstáculos do "custo
Brasil", representados por uma
das taxas de juros mais altas do
mundo, além do restante da carga tributária, encargos sociais e
custos de infra-estrutura, para citar alguns exemplos.
É por essa razão que, não obstante a importância da isonomia
tributária para máquinas e equipamentos nacionais e importados, o Brasil precisa ir além e implementar, de uma vez por todas,
reformas mais profundas em benefício do setor produtivo, como
meio de gerar riquezas e empregos para o país. Mas a eliminação
do atual protecionismo às avessas
é premente e seria um importante
primeiro passo para o desenvolvimento de uma indústria caracterizada pelo pioneirismo e pela capacidade de induzir à modernização os demais segmentos econômicos brasileiros.
Luiz Carlos Delben Leite é presidente
da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
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