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Milionários brasileiros têm meio PIB
Consultoria diz que eles são 130 mil e que possuem pelo menos US$ 1 milhão cada em investimentos no Brasil e no exterior
Estudo mostra que fortunas brasileiras cresceram com a alta das commodities e do mercado financeiro; dólar barato também ajudou
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamentos inéditos obtidos pela Folha com a Receita
Federal e com o The Boston
Consulting Group (BCG), uma
das consultorias mais importantes do mundo, mostram que
o Brasil tem 130 mil milionários. Segundo o BCG, os brasileiros são os mais ricos da
América Latina com fortuna
conjunta estimada em US$ 573
bilhões -mais da metade do
PIB nacional. É o que mostrará
o novo relatório do grupo americano que sairá em setembro.
Os dados ainda não foram tabulados e as estimativas têm
base no crescimento anual médio das fortunas brasileiras nos
últimos dois anos. Em 2005, os
milionários nacionais detinham US$ 540,5 bilhões.
Para fazer os cálculos, os especialistas entrevistaram 150
gestores de fortunas em 62 países. Na conta só entram os bens
disponíveis em aplicações e depósitos bancários no país e no
exterior. "Tudo o que circula
pelo sistema financeiro é medido", afirma Eric Gregorie, relações-públicas da consultoria.
Para ter idéia do poderio financeiro dos brasileiros, entre
2000 e 2005, período mais recente da pesquisa, o país saltou
da 18ª posição para a 14ª no
ranking dos países com mais
milionários. Na comparação
com as nações em desenvolvimento, o Brasil deixou para
trás a Índia e a Rússia, perdendo apenas para a China.
Vários fatores explicam a velocidade de expansão das fortunas brasileiras. Nos últimos
anos, a economia estabilizou-se. A inflação continua sob controle, as dívidas nacionais estão
equacionadas e isso deixou os
brasileiros confiantes para
aplicar suas reservas. Resultado: o mercado financeiro nunca esteve tão aquecido. Como a
venda de ações levou mais recursos para as empresas, elas
aceleraram a produção, fazendo a economia crescer.
Também contaram o enfraquecimento do dólar e a alta
dos preços das commodities
-principalmente grãos e minérios. O setor do agronegócio
foi um dos que mais geraram
milionários, principalmente no
Centro-Oeste.
Segundo a Receita Federal,
nessa região o número dos que
ganham mais de R$ 1 milhão
por ano mais que dobrou entre
2000 e 2003, chegando a 685. A
Receita alega que para fornecer
dados mais recentes teria de
pagar R$ 15 mil ao Serpro (Serviço Federal de Processamento
de Dados). Apesar disso, a análise dos números disponíveis já
permite avaliar a nova geografia da riqueza no Brasil.
Regionalização da fortuna
Além do fortalecimento do
Centro-Oeste, o Norte e o Nordeste ganharam destaque, com
187 e 1.031 milionários, respectivamente. Agora eles são disputados por empresas de luxo
que antes só buscavam clientes
entre Rio e São Paulo.
Manaus já desponta como o
paraíso das construtoras. Lá, a
Gafisa lançou o Riviera, onde o
apartamento mais barato custa
R$ 800 mil. "Fizemos uma pesquisa de mercado e ficamos
surpresos ao descobrir que o
poder aquisitivo da classe mais
rica era bem maior do que imaginávamos", diz Antonio Ferreira, diretor de novos negócios
da Gafisa.
Segundo ele, seis meses após
o lançamento dos dois primeiros prédios, cerca de 70% das
unidades do edifício Cannes
-em que o preço por unidade
começa em R$ 2 milhões- estavam vendidas. De cada dez
compradores, sete são do Estado. A publicitária Renata Sabbá
e seu marido adquiriram um
desses imóveis. "Era o que procurávamos", diz Renata.
Embora detectem essas mudanças, tanto o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) quanto o Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) têm dificuldades para traçar um perfil dos milionários.
"A amostragem é muito pequena", diz Antonio Luiz Carvalho
Leme, coordenador dos censos
em São Paulo.
Além disso, os poucos que
participam da pesquisa costumam diminuir em 25% o valor
de seus ganhos e bens. É o que
afirma Gabriel Ulyssea, do
Ipea. "Eles temem por sua segurança." Há outra preocupação: ao depreciar os bens, querem pagar menos impostos.
Estudos do Ipea indicam que,
apesar dessa depreciação, os
dados da desigualdade de renda
não sofrem alteração. "Apenas
10% da população continua se
apropriando de 80% da renda
nacional", diz Gabriel Ulyssea.
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