São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 2008

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Ação popular contra venda agora ameaça com boicote

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Ed Martin é contra a venda da cervejaria norte-americana Anheuser-Busch para a belgo-brasileira InBev. Quando acordou ontem e soube da concretização do negócio, disse à Folha que estava "surpreso com a rapidez". Ele acha que a Budweiser, a marca mais popular da empresa, é um símbolo tão nacional quanto a águia careca.
Ed Martin quer sentar-se com o brasileiro Carlos Brito, CEO da InBev, para conversar.
O que aumenta as chances desse advogado de 38 anos, nascido em Nova Jersey e que mora há 15 em St. Louis, no Missouri, sede da Anheuser-Busch, é o que leva no bolso: petição de 100 mil assinaturas, recolhidas 70% on-line e 30% por correio, de outras pessoas que, como ele, pretendem boicotar a marca caso os termos da negociação não os satisfaçam.
Para satisfazê-los, o acordo não pode prever corte de vagas, fechamento de fábricas nem a transferência da sede histórica de St. Louis a outra cidade. O site do movimento, "Save Anheuser-Busch companies" (salve as companhias da A-B), tem um discurso que flerta com a xenofobia e abusa do patriotismo -a A-B daria a milhões de americanos o direito de "busca da felicidade", defende texto de apresentação, citando frase da Declaração de Independência dos EUA.
Mas é a face mais evidente de uma "guerra das cervejas" que já arrastou para a disputa até o candidato democrata à Presidência, senador Barack Obama, em escala forçada na cidade na semana passada. "Eu acho que seria lamentável se a Bud fosse de propriedade estrangeira", disse Obama. "E eu acho que nós deveríamos ser capazes de encontrar uma empresa americana que se interesse em comprar a Anheuser-Busch, se, de fato, a Anheuser-Busch sente a necessidade de ser vendida."
Obama tinha alvo duplo. A crise econômica bateu a Guerra do Iraque como preocupação principal do eleitor. Além disso, a mulher do senador republicano John McCain, seu oponente, tem US$ 1 milhão em ações da A-B e é dona da terceira maior distribuidora da empresa nos EUA, que também já distribui as marcas da InBev. Cindy McCain não comentou o acordo que beneficiará tanto ela como o marido.
A economia americana em crise faz das compras de empresas americanas por estrangeiras algo cada vez mais freqüente nos últimos tempos por causa do dólar fraco e das ações em queda. O movimento é olhado com apreensão pelos locais, que temem o fechamento de vagas ou transferência de postos de trabalho a outros países. No caso da A-B, mesmo antes do acordo, a empresa havia apresentado proposta para eliminar mil vagas de trabalho.
Agora, os sindicatos temem que a InBev, conhecida por sua cultura de controle de custos, vá além desse número. Para Gerard Rijk, analista da ING Financial Markets, os cortes devem acontecer, sim, mas mais no nível corporativo e de marketing do que no chão das fábricas. "As companhias podem unir [esses tipos de operações] no Reino Unido, na China e nos EUA", disse, à "Forbes".
Para Maureen Ogle, autora de livro da história da cerveja nos EUA, a A-B "é a empresa mais influente da história das cervejarias americanas, e isso está prestes a acabar".


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