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Ação popular contra venda agora ameaça com boicote
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Ed Martin é contra a venda
da cervejaria norte-americana
Anheuser-Busch para a belgo-brasileira InBev. Quando acordou ontem e soube da concretização do negócio, disse à Folha
que estava "surpreso com a rapidez". Ele acha que a Budweiser, a marca mais popular da
empresa, é um símbolo tão nacional quanto a águia careca.
Ed Martin quer sentar-se
com o brasileiro Carlos Brito,
CEO da InBev, para conversar.
O que aumenta as chances desse advogado de 38 anos, nascido em Nova Jersey e que mora
há 15 em St. Louis, no Missouri,
sede da Anheuser-Busch, é o
que leva no bolso: petição de
100 mil assinaturas, recolhidas
70% on-line e 30% por correio,
de outras pessoas que, como
ele, pretendem boicotar a marca caso os termos da negociação não os satisfaçam. Para satisfazê-los, o acordo
não pode prever corte de vagas,
fechamento de fábricas nem a
transferência da sede histórica
de St. Louis a outra cidade. O
site do movimento, "Save
Anheuser-Busch companies"
(salve as companhias da A-B),
tem um discurso que flerta
com a xenofobia e abusa do patriotismo -a A-B daria a milhões de americanos o direito
de "busca da felicidade", defende texto de apresentação, citando frase da Declaração de
Independência dos EUA.
Mas é a face mais evidente de
uma "guerra das cervejas" que
já arrastou para a disputa até o
candidato democrata à Presidência, senador Barack Obama, em escala forçada na cidade na semana passada. "Eu
acho que seria lamentável se a
Bud fosse de propriedade estrangeira", disse Obama. "E eu
acho que nós deveríamos ser
capazes de encontrar uma empresa americana que se interesse em comprar a Anheuser-Busch, se, de fato, a Anheuser-Busch sente a necessidade de
ser vendida."
Obama tinha alvo duplo. A
crise econômica bateu a Guerra do Iraque como preocupação principal do eleitor. Além
disso, a mulher do senador republicano John McCain, seu
oponente, tem US$ 1 milhão
em ações da A-B e é dona da
terceira maior distribuidora da
empresa nos EUA, que também já distribui as marcas da
InBev. Cindy McCain não comentou o acordo que beneficiará tanto ela como o marido.
A economia americana em
crise faz das compras de empresas americanas por estrangeiras algo cada vez mais freqüente nos últimos tempos por
causa do dólar fraco e das ações
em queda. O movimento é
olhado com apreensão pelos
locais, que temem o fechamento de vagas ou transferência de
postos de trabalho a outros países. No caso da A-B, mesmo antes do acordo, a empresa havia
apresentado proposta para eliminar mil vagas de trabalho.
Agora, os sindicatos temem
que a InBev, conhecida por sua
cultura de controle de custos,
vá além desse número. Para
Gerard Rijk, analista da ING
Financial Markets, os cortes
devem acontecer, sim, mas
mais no nível corporativo e de
marketing do que no chão das
fábricas. "As companhias podem unir [esses tipos de operações] no Reino Unido, na China
e nos EUA", disse, à "Forbes".
Para Maureen Ogle, autora
de livro da história da cerveja
nos EUA, a A-B "é a empresa
mais influente da história das
cervejarias americanas, e isso
está prestes a acabar".
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