São Paulo, quarta-feira, 15 de julho de 2009

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Com ajuda estatal, Goldman lucra 65% mais

Emissão de papéis garantidos pelo governo dos EUA impulsiona resultado do banco, que inaugura temporada de balanços no setor

Instituição, que recebeu auxílio de US$ 10 bi do Tesouro norte-americano, já reservou US$ 11,4 bi para pagar bônus aos funcionários

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Com a ajuda do governo dos EUA e de novas e crescentes tarifas cobradas de seus clientes, o Goldman Sachs iniciou ontem a safra de balanços do setor no segundo trimestre do ano com lucro acima do previsto. Outros bancos também devem superar as estimativas ao longo dos próximos dias.
O Goldman Sachs informou ter lucrado US$ 3,4 bilhões entre abril e junho, 65% a mais do que em igual período de 2008. Influenciada pelo resultado, a Bolsa de Valores de Nova York fechou em alta de 0,33%.
Só para o primeiro semestre, o banco já reservou US$ 11,4 bilhões para pagar bônus a seus funcionários. Cada um poderá receber, em média, US$ 386,4 mil. Se o ritmo de lucratividade for mantido no restante do ano, as compensações podem superar mais de US$ 700 mil, em média, para cada empregado.
Há três meses, a opinião pública e o Congresso nos EUA reagiram com furor às notícias de que bancos que receberam ajuda estatal planejavam pagar bônus a empregados em 2009.
O Goldman Sachs foi um dos primeiros a receber: US$ 10 bilhões do Tesouro dos EUA em 2008, quando a crise financeira se agravou após a quebra de seu concorrente Lehman Brothers, em 15 de setembro.
Esse dinheiro já foi devolvido no mês passado, assim como US$ 426 milhões a mais em dividendos aos contribuintes que, em última instância, financiaram o socorro.
Embora o Goldman Sachs já tenha reservado dinheiro extra para bônus, seu diretor financeiro, David Viniar, reconheceu ontem em conferência telefônica que nenhuma provisão foi feita para a recompra de títulos emitidos no valor de US$ 30 bilhões e 100% garantidos pelo Fed, o banco central dos EUA.
A emissão desses papéis, a custo baixíssimo e sem nenhum risco para o banco (já que na crise o governo deu garantias totais a eles), foi um dos grandes componentes do aumento da lucratividade do banco. Pois ele pôde levantar capital a custo baixo e sem risco e emprestar o dinheiro no mercado a custo mais elevado.
Depois de receber dinheiro público no ano passado, o Goldman Sachs foi convertido de banco de investimentos em uma instituição com operações mais tradicionais. Mas analistas afirmam que seus resultados mostraram que ele continuou a assumir riscos mais elevados do que a concorrência nos mercados de moedas, commodities e ações.
O lucro também foi reforçado por aumento de tarifas cobradas de investidores nas principais operações do banco.
Nos próximos dias, outros bancos vão anunciar os resultados do trimestre. Já refletindo a expectativa de lucros maiores, entre abril e junho o valor de mercado da média dos bancos na Bolsa de Valores de Nova York aumentou 36%.
Para a média das empresas do setor industrial, a evolução positiva foi menor do que 20%.

Tarifas maiores
Os maiores bancos dos EUA ainda não devolveram o dinheiro que receberam diretamente do Tesouro e não recompraram os títulos garantidos pelo Fed. No entanto, também passaram a cobrar tarifas maiores de seus clientes nos últimos seis meses para ampliar a lucratividade.
Esse é o caso do Citibank e do Bank of America, os dois maiores, que receberam US$ 45 bilhões cada um em dinheiro do Tesouro -sem contar as garantias bilionárias do Fed para captar dinheiro a baixo custo no mercado para emprestar a custos mais elevados.
Na média dos EUA, as grandes instituições têm hoje tarifas 20% maiores do que as das menores, segundo a Moeb Services, que prepara estatísticas para os reguladores federais.
A mesma Moeb estima que, em 2009, os bancos norte-americanos vão embolsar cerca de US$ 58,5 bilhões em tarifas, principalmente de multas sobre atrasos no cartão de crédito e sobre saldos a descoberto. Serão US$ 20 bilhões a mais do que há cinco anos.


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