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Com ajuda estatal, Goldman lucra 65% mais
Emissão de papéis garantidos pelo governo dos EUA impulsiona resultado do banco, que inaugura temporada de balanços no setor
Instituição, que recebeu
auxílio de US$ 10 bi do
Tesouro norte-americano,
já reservou US$ 11,4 bi para
pagar bônus aos funcionários
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Com a ajuda do governo dos
EUA e de novas e crescentes tarifas cobradas de seus clientes,
o Goldman Sachs iniciou ontem a safra de balanços do setor
no segundo trimestre do ano
com lucro acima do previsto.
Outros bancos também devem
superar as estimativas ao longo
dos próximos dias.
O Goldman Sachs informou
ter lucrado US$ 3,4 bilhões entre abril e junho, 65% a mais do
que em igual período de 2008.
Influenciada pelo resultado, a
Bolsa de Valores de Nova York
fechou em alta de 0,33%.
Só para o primeiro semestre,
o banco já reservou US$ 11,4 bilhões para pagar bônus a seus
funcionários. Cada um poderá
receber, em média, US$ 386,4
mil. Se o ritmo de lucratividade
for mantido no restante do ano,
as compensações podem superar mais de US$ 700 mil, em
média, para cada empregado.
Há três meses, a opinião pública e o Congresso nos EUA
reagiram com furor às notícias
de que bancos que receberam
ajuda estatal planejavam pagar
bônus a empregados em 2009.
O Goldman Sachs foi um dos
primeiros a receber: US$ 10 bilhões do Tesouro dos EUA em
2008, quando a crise financeira
se agravou após a quebra de seu
concorrente Lehman Brothers,
em 15 de setembro.
Esse dinheiro já foi devolvido
no mês passado, assim como
US$ 426 milhões a mais em dividendos aos contribuintes
que, em última instância, financiaram o socorro.
Embora o Goldman Sachs já
tenha reservado dinheiro extra
para bônus, seu diretor financeiro, David Viniar, reconheceu
ontem em conferência telefônica que nenhuma provisão foi
feita para a recompra de títulos
emitidos no valor de US$ 30 bilhões e 100% garantidos pelo
Fed, o banco central dos EUA.
A emissão desses papéis, a
custo baixíssimo e sem nenhum risco para o banco (já que
na crise o governo deu garantias totais a eles), foi um dos
grandes componentes do aumento da lucratividade do banco. Pois ele pôde levantar capital a custo baixo e sem risco e
emprestar o dinheiro no mercado a custo mais elevado.
Depois de receber dinheiro
público no ano passado, o Goldman Sachs foi convertido de
banco de investimentos em
uma instituição com operações
mais tradicionais. Mas analistas afirmam que seus resultados mostraram que ele continuou a assumir riscos mais elevados do que a concorrência
nos mercados de moedas, commodities e ações.
O lucro também foi reforçado por aumento de tarifas cobradas de investidores nas
principais operações do banco.
Nos próximos dias, outros
bancos vão anunciar os resultados do trimestre. Já refletindo
a expectativa de lucros maiores, entre abril e junho o valor
de mercado da média dos bancos na Bolsa de Valores de Nova
York aumentou 36%.
Para a média das empresas
do setor industrial, a evolução
positiva foi menor do que 20%.
Tarifas maiores
Os maiores bancos dos EUA
ainda não devolveram o dinheiro que receberam diretamente
do Tesouro e não recompraram
os títulos garantidos pelo Fed.
No entanto, também passaram
a cobrar tarifas maiores de seus
clientes nos últimos seis meses
para ampliar a lucratividade.
Esse é o caso do Citibank e do
Bank of America, os dois maiores, que receberam US$ 45 bilhões cada um em dinheiro do
Tesouro -sem contar as garantias bilionárias do Fed para
captar dinheiro a baixo custo
no mercado para emprestar a
custos mais elevados.
Na média dos EUA, as grandes instituições têm hoje tarifas 20% maiores do que as das
menores, segundo a Moeb Services, que prepara estatísticas
para os reguladores federais.
A mesma Moeb estima que,
em 2009, os bancos norte-americanos vão embolsar cerca de
US$ 58,5 bilhões em tarifas,
principalmente de multas sobre atrasos no cartão de crédito
e sobre saldos a descoberto. Serão US$ 20 bilhões a mais do
que há cinco anos.
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