São Paulo, quarta-feira, 15 de julho de 2009

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Reforma do sistema de saúde dos EUA pode custar US$ 1 tri

Metade da conta será paga com o aumento dos impostos dos mais ricos, segundo plano democrata

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Os democratas da Câmara dos Representantes (deputados federais) dos EUA apresentaram ontem à tarde sua proposta de lei para a mais ampla reforma do sistema de saúde pública da história recente do país. Com o apoio do presidente Barack Obama, a medida custará aos cofres públicos cerca de US$ 1 trilhão em dez anos -um valor próximo ao Produto Interno Bruto de 2008 do México, a segunda maior economia da América Latina.
Pelo plano do partido da situação, metade da conta será paga por um aumento progressivo nos impostos da fatia mais rica da população na próxima década. Os atingidos são famílias que ganham mais de US$ 250 mil por ano (ou R$ 41,7 mil por mês), que representam menos de 3% dos americanos.
Entre os pontos principais do projeto proposto, está um seguro-saúde oferecido pelo governo americano que pretende competir em qualidade com os planos privados, a um custo menor, já que será subsidiado. Com isso, a ideia é baixar o custo dos planos pagos em geral, que subiram em média anual 5% acima da inflação, um disparate para os padrões econômicos dos Estados Unidos.
Além disso, se a medida for aprovada, o governo ampliará gradualmente a cobertura atual do sistema público aos cerca de 40 milhões de norte-americanos que não contam com seguro algum. Fará isso implantando uma das ideias defendidas no livro "Nudge -O Empurrão para a Escolha Certa" de Cass Sunstein, chamada "arquitetura das escolhas".
Segundo o expert de Harvard, hoje indicado para ser o "czar regulatório" da Casa Branca obamista, se deixadas inertes, as pessoas tendem a fazer escolhas que as prejudicam em assuntos como saúde; se forçadas a optar, elas frequentemente decidem pelo melhor.
É o que a medida de ontem propõe: todos os hoje não segurados serão automaticamente cadastrados; apenas os que se manifestarem contra posteriormente serão desligados. É uma "cobertura universal" de fato, embora não de direito, como defendia Obama na campanha presidencial.
Além disso, as empresas privadas serão proibidas de negar a cobertura por condições médicas preexistentes, o que arrepia o setor, por ser uma das suas principais fontes de lucro. Esses dois aspectos e o aumento dos impostos dos mais ricos são as pedras no sapato da oposição republicana, que vem chamando a proposta pejorativamente de "socialista".
Proposta semelhante feita pelo então presidente Bill Clinton em 1993 foi rejeitada numa das maiores derrotas políticas do democrata: 16 anos depois, o comando obamista trabalha por uma aprovação do plano antes do recesso do mês que vem. A versão do Senado deve ser apresentada até o fim da semana -os democratas são maioria em ambas as Casas.


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