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Loja de luxo é alvo de ação contra importação irregular
PF apreende R$ 2,1 mi em dinheiro e cheques na loja Tania Bulhões, nos Jardins
Procurada, empresária
não quis falar; investigação sobre suposta ação fraudulenta começou com notas apreendidas em 2006
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A loja de móveis e artigos de
decoração de luxo da empresária mineira Tania Bulhões, localizada na rua Colômbia, nos
Jardins, foi ontem alvo de uma
operação do Ministério Público
Federal, da Receita Federal e
da Polícia Federal, por suspeita
de participar de esquema de
importação fraudulenta.
A investigação durou um ano
e teve início com documentos
apreendidos pelo MPF de São
Paulo na Operação Dilúvio, em
que 23 empresas foram acusadas em 2006 de cometer fraudes na compra de produtos do
exterior. Procurada pela Folha,
a empresária não atendeu aos
pedidos de entrevista.
Auditores fiscais e policiais
federais constataram que, entre 2004 e 2006, a loja importava mercadorias da Europa e
vendia para o Brasil por meio
de duas empresas localizadas
em um mesmo endereço em
Miami (EUA), com a intenção
de driblar o pagamento de impostos -como Imposto de Importação, IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) e
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Em vez de importar a mercadoria diretamente da Europa e
ser a responsável pelo recolhimento de impostos, a loja fazia
operações fictícias de compra e
venda, utilizando as duas empresas em Miami e uma trading do Espírito Santo para trazer os produtos com preços
subfaturados em até 70%. As
importações eram comandadas por um brasileiro residente
nos Estados Unidos.
As mercadorias chegavam ao
Brasil por via marítima. Faturas comerciais falsas eram
apresentadas na alfândega. O
grupo investigado ocultou a
origem e o destino da mercadorias, segundo a Receita Federal.
Por exemplo: um vaso adquirido por US$ 100 pelas empresas com sede em Miami era
vendido à trading brasileira.
Essa trading declarava ao fisco
que o vaso foi importado por
US$ 30. Dessa forma, a trading
ocultava o real importador do
vaso: a loja Tania Bulhões.
A trading no Brasil vendia o
vaso já nacionalizado à loja. Ao
consumidor final a loja Tania
Bulhões Home vendia o mesmo vaso pelo preço que queria.
Entre os produtos vendidos
no Brasil para clientes que vão
de apresentadores de televisão
e atrizes a socialites, estão cadeiras por R$ 3.000, cômodas
por R$ 13 mil e jogos de jantar
por R$ 30 mil.
Esse esquema de importação
irregular, segundo fiscais consultados pela Folha, é semelhante ao identificado na Operação Narciso, que teve como
alvo a butique de luxo Daslu, da
empresária Eliana Tranchesi.
Palacete
Um grupo de 30 fiscais da Receita e 40 policiais federais que
participaram ontem da operação apreendeu R$ 600 mil em
dinheiro e R$ 1,5 milhão em
cheques no cofre da loja, que
está instalada em uma área de
3.000 metros quadrados e imita um palacete francês. Ninguém foi preso na ação.
Também apreenderam um
Mercedes-Benz, F500 blindado, no valor de aproximadamente R$ 500 mil. A suspeita é
que o carro tenha sido comprado com o dinheiro da fraude.
Durante a ação, batizada de
Porto Europa, foi constatado
que a loja vendeu produtos sem
emitir nota fiscal, inclusive para algumas celebridades.
Os sete mandados de busca e
apreensão, autorizados pelo
juiz Fausto Martin De Sanctis,
da 6ª Vara Criminal Federal de
São Paulo, a pedido do MPF, foram cumpridos em: duas lojas
(uma de perfumes e outra de
artigos para decoração e móveis), um endereço comercial
da zona sul (onde funciona um
ateliê para fabricar móveis), em
dois escritórios de contabilidade e em duas residências (uma
nos Jardins e uma no Jaguaré).
De Sanctis é também o juiz
responsável por autorizar a prisão do banqueiro Daniel Dantas na Operação Satiagraha.
No esquema para importar
artigos de luxo, as investigações
identificaram que os fornecedores reais eram pagos pelo sistema de remessa de dinheiro
conhecido como dólar cabo.
Nele, um doleiro recebe dinheiro numa conta no exterior e coloca à disposição o mesmo valor no Brasil, em troca de uma
comissão. Não há movimentação física de valores nem transações eletrônicas.
Os envolvidos no caso, segundo a PF, são suspeitos de
cometer crimes de descaminho
(importação de mercadoria
sem passar pela alfândega), sonegação fiscal, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Casada com o empresário
Pedro Grendene, sócio de indústria de calçados de mesmo
nome, Tania Bulhões investia
no mercado de luxo e pretendia
ampliar seu negócio.
No ano passado, o faturamento das lojas, com produtos
para casa e perfumes, foi de R$
70 milhões. A expectativa do
grupo era abrir cinco lojas neste ano e outras 30 nos próximos
cinco anos.
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