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LUÍS NASSIF
O câmbio e os cabeças de planilha
Uma das maiores extravagâncias dos cabeças de
planilha do mercado financeiro foi a abolição da variável
câmbio de seus modelitos. É o
mais importante preço da economia, é fundamental para resolver a questão da vulnerabilidade externa brasileira, para
garantir uma melhor presença
do país no mercado internacional, mas eles se comportam como se o câmbio fosse uma derivada de outras políticas.
Se o Banco Central trabalha
com o nível de reservas cambiais de US$ 15 bilhões, o valor
do câmbio é um; se aumenta as
reservas, o valor do câmbio é
outro. No próprio ato de definir
o volume das reservas cambiais
o BC interfere no câmbio. E como é que se ousa dizer que não
é papel de governo definir o nível do câmbio?
Recentemente, o economista-chefe de grande banco -em
um seminário em que estava
presente o economista José Alexandre Scheinkman- enalteceu a performance da economia brasileira, que, no ano
passado, conseguiu equilíbrio
nas contas correntes com o aumento expressivo das exportações. Atribuiu ao recém-descoberto ímpeto, engenho e arte
do exportador brasileiro. No
ano passado não houve nenhuma revolução tecnológica, nenhuma inovação, não se lançaram marcas brasileiras no
mercado, não se lançaram novos produtos com valor agregado, a recessão mundial acirrou
a competição entre países. A
única variável que mudou no
Brasil foi o preço, o câmbio,
que se desvalorizou. Só provocado o economista admitiu a
influência do câmbio. Nenhuma palavra sobre o que significaria para as contas externas a
apreciação do câmbio para
não ter que discutir a inevitabilidade ou não de uma nova
desvalorização cambial -depois de o BC ter jogado fora a
desvalorização que recebeu.
Uma das alegações dos cabeças de planilha é sustentar que
o país não pode perseguir superávits comerciais elevados
-fundamentais para eliminar
a volatilidade cambial- porque significaria uma recessão
cavalar. Pode-se obter superávits no curto prazo ou com recessão ou desvalorizando a
moeda. Como não existe desvalorização cambial no seu
modelo, só conseguem conceber superávits comerciais com
recessão.
Em geral, sua retórica repousa em sofismas rasos. O primeiro é que o país tem que buscar
o aumento das exportações por
meio de aumento de produtividade, competitividade, inovação etc. Apenas se esquecem de
explicar que agregar valor à
exportação não é questão de
querer, é de poder e leva tempo,
anos, décadas. Enquanto não
há essas condições, ou se equilibram as contas mantendo a recessão ou com uma desvalorização controlada do câmbio.
Todos os casos bem-sucedidos de inserção global das últimas décadas começaram por
um câmbio que assegurava
preços baixos para, gradativamente, com o impulso inicial, ir
se avançando em pesquisas e
inovação. Esses cabeças de planilha apregoam um mundo
ideal ao qual se chega num
passe de mágica, sem processos
intermediários pela frente.
Nem São Roberto Campos,
Santo Octávio de Gouvêa de
Bulhões e São Celso Furtado
juntos conseguiriam salvar o
país da lógica desse povo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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