São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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Mattel faz recall de 18,6 mi de brinquedos

Troca inclui 850 mil produtos vendidos no Brasil; feitos na China, brinquedos têm problemas como quantidade excessiva de chumbo

Presidente da Abrinq diz que pretende mover ação contra a empresa sob a acusação de prejudicar imagem do setor no país

Shawn Thew/Efe
Bonecos do Batman, fabricados pela Mattel, expostos em vitrine de loja nos Estados Unidos


DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

A americana Mattel, maior fabricante mundial de brinquedos, anunciou ontem um recall de 18,6 milhões de bonecas, carrinhos e acessórios importados da China -metade dos quais vendidos nos EUA, e o restante em outros países, incluindo o Brasil.
O anúncio alimenta setores nos EUA que pedem ação do governo contra o que vêem como uma invasão de produtos chineses em detrimento de empresas e empregos locais.
Segundo a Mattel, um dos problemas mais graves estava no lote de 436 mil carrinhos do personagem "Sarge" da coleção "Carros", cuja tinta continha excessiva quantidade de chumbo, uma substância altamente tóxica caso ingerida.
"Não há desculpa para encontrar chumbo em brinquedos que entram neste país. É totalmente inaceitável, e isso tem que acabar", protestou Nancy Nord, presidente da CPSC (Comissão de Segurança de Produtos do Consumidor) -a agência federal responsável pela certificação de produtos comercializados no país.
Os americanos compraram 253 mil desses brinquedos. O resto foi distribuído em outros países, mas, segundo o representante da Mattel no Brasil, Alejandro Rivas, nenhum lote foi embarcado para cá.
O imbróglio do "Sarge" começou porque a Early Light Industrial Co., uma das parceiras contratadas pela Mattel na China, subcontratou os serviços de pintura dos carrinhos da série de uma empresa chinesa chamada HLD (Hong Li Data).
Segundo a empresa, a HLD deveria ter usado a tinta fornecida pela Early Light para manter os padrões de qualidade da Mattel, mas a tinta foi comprada de um fornecedor não-autorizado e continha o chumbo.
Problema parecido foi detectado com a Lee Der Industrial, que pintava os bonecos das coleções "Dora, a Exploradora" e "Vila Sésamo", um dos mais populares da Mattel. O recall desses produtos englobou 963 mil brinquedos. O diretor da fábrica chinesa suicidou-se no sábado, e as autoridades ainda investigam a ligação de sua morte com o caso dos brinquedos.
As complicações não param por aí. No final do ano passado, três crianças americanas engoliram pares de ímãs que se desprenderam dos acessórios da boneca Polly e tiveram de ser submetidas a uma cirurgia. O episódio levou a fabricante a fazer uma investigação. "Descobriu-se que a cola estava ressecando antes do tempo", afirmou à Folha Ronald Schaffer, diretor da empresa no Brasil.
São essas bonecas e outros brinquedos que têm ímãs em sua composição que chegaram às lojas brasileiras. Entre os 48 artigos com problemas no Brasil, estão acessórios da boneca Barbie, do Batman e da Polly. Juntos, eles somam 850 mil itens e terão de voltar à Mattel.
Para trocar os produtos, os brasileiros terão de ligar para um telefone 0800 ou mandar um e-mail para a Mattel. Segundo Ricardo Sayon, diretor da Ri Happy, uma das maiores redes varejistas do mercado, existem poucos desses brinquedos nas lojas. A maior parte já foi vendida.
Além dos prejuízos à sua imagem, o recall da Mattel pode trazer outras perdas à empresa. O presidente da Abrinq (Associação dos Fabricantes de Brinquedos), Synesio Batista da Costa, disse que pretende mover uma ação contra a empresa por prejudicar a imagem do setor no país.
Robert Eckert, presidente mundial da Mattel, pediu desculpas em público. "Ninguém gosta de recalls. Estou desapontado, chateado, mas garanto que nossos especialistas estão fazendo o melhor para resolver a situação", disse, acrescentando que a companhia está reavaliando os testes de segurança dos seus brinquedos.
Esse é apenas o mais recente episódio de uma série de problemas de qualidade envolvendo mercadorias chinesas. Em março, comida para animais feita com trigo contaminado foi retirada das prateleiras. Seguiram problemas com pescados, pasta de dente e pneus.
"Os consumidores ficam muito mais mobilizados se o assunto é a saúde dos seus filhos", comentou Michelle Murphy, pesquisadora associada do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
Para ela, neste momento, os congressistas americanos -que têm pressionado o governo dos EUA a diminuir as importações da China- ganharam um forte argumento. Os críticos reclamam que a invasão dos produtos chineses está provocando o fechamento de fábricas e a demissão de trabalhadores americanos.
Os pedidos de redução de importações da China levam em conta ainda o yuan desvalorizado ante o dólar e a falta de proteção à propriedade intelectual como fatores que dão à China vantagens competitivas exageradas. "Tudo isso tem causado uma certa tensão", afirma Michelle Murphy. "No entanto, o cenário é mais complexo do que o discurso político. A parceria com a China é igualmente muito positiva para os EUA e suas empresas."
Por esse motivo, a gestão George W. Bush, especialmente o secretário do Tesouro, Henry Paulson, tem se esforçado para buscar soluções diplomáticas que evitem o confronto direto com o governo chinês.
"Como ambos são prejudicados pelas desconfianças que pairam sobre os produtos chineses, é necessário que trabalhem juntos", afirma Erin Ennis, vice-presidente do Conselho EUA-China de Negócios. "A China já está adotando fiscalização e punições mais severas para as companhias que não obedecerem aos padrões mínimos."


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