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Mattel faz recall de 18,6 mi de brinquedos
Troca inclui 850 mil produtos vendidos no Brasil; feitos na China, brinquedos têm problemas como quantidade excessiva de chumbo
Presidente da Abrinq diz que pretende mover ação contra a empresa sob a acusação
de prejudicar imagem
do setor no país
Shawn Thew/Efe
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Bonecos do Batman, fabricados pela Mattel, expostos em vitrine de loja nos Estados Unidos |
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A americana Mattel, maior
fabricante mundial de brinquedos, anunciou ontem um recall
de 18,6 milhões de bonecas,
carrinhos e acessórios importados da China -metade dos
quais vendidos nos EUA, e o
restante em outros países, incluindo o Brasil.
O anúncio alimenta setores
nos EUA que pedem ação do
governo contra o que vêem como uma invasão de produtos
chineses em detrimento de empresas e empregos locais.
Segundo a Mattel, um dos
problemas mais graves estava
no lote de 436 mil carrinhos do
personagem "Sarge" da coleção
"Carros", cuja tinta continha
excessiva quantidade de chumbo, uma substância altamente
tóxica caso ingerida.
"Não há desculpa para encontrar chumbo em brinquedos que entram neste país. É
totalmente inaceitável, e isso
tem que acabar", protestou
Nancy Nord, presidente da
CPSC (Comissão de Segurança
de Produtos do Consumidor)
-a agência federal responsável
pela certificação de produtos
comercializados no país.
Os americanos compraram
253 mil desses brinquedos. O
resto foi distribuído em outros
países, mas, segundo o representante da Mattel no Brasil,
Alejandro Rivas, nenhum lote
foi embarcado para cá.
O imbróglio do "Sarge" começou porque a Early Light Industrial Co., uma das parceiras
contratadas pela Mattel na China, subcontratou os serviços de
pintura dos carrinhos da série
de uma empresa chinesa chamada HLD (Hong Li Data).
Segundo a empresa, a HLD
deveria ter usado a tinta fornecida pela Early Light para manter os padrões de qualidade da
Mattel, mas a tinta foi comprada de um fornecedor não-autorizado e continha o chumbo.
Problema parecido foi detectado com a Lee Der Industrial,
que pintava os bonecos das coleções "Dora, a Exploradora" e
"Vila Sésamo", um dos mais populares da Mattel. O recall desses produtos englobou 963 mil
brinquedos. O diretor da fábrica chinesa suicidou-se no sábado, e as autoridades ainda investigam a ligação de sua morte
com o caso dos brinquedos.
As complicações não param
por aí. No final do ano passado,
três crianças americanas engoliram pares de ímãs que se desprenderam dos acessórios da
boneca Polly e tiveram de ser
submetidas a uma cirurgia. O
episódio levou a fabricante a fazer uma investigação. "Descobriu-se que a cola estava ressecando antes do tempo", afirmou à Folha Ronald Schaffer,
diretor da empresa no Brasil.
São essas bonecas e outros
brinquedos que têm ímãs em
sua composição que chegaram
às lojas brasileiras. Entre os 48
artigos com problemas no Brasil, estão acessórios da boneca
Barbie, do Batman e da Polly.
Juntos, eles somam 850 mil
itens e terão de voltar à Mattel.
Para trocar os produtos, os
brasileiros terão de ligar para
um telefone 0800 ou mandar
um e-mail para a Mattel. Segundo Ricardo Sayon, diretor
da Ri Happy, uma das maiores
redes varejistas do mercado,
existem poucos desses brinquedos nas lojas. A maior parte
já foi vendida.
Além dos prejuízos à sua
imagem, o recall da Mattel pode trazer outras perdas à empresa. O presidente da Abrinq
(Associação dos Fabricantes de
Brinquedos), Synesio Batista
da Costa, disse que pretende
mover uma ação contra a empresa por prejudicar a imagem
do setor no país.
Robert Eckert, presidente
mundial da Mattel, pediu desculpas em público. "Ninguém
gosta de recalls. Estou desapontado, chateado, mas garanto que nossos especialistas estão fazendo o melhor para resolver a situação", disse, acrescentando que a companhia está
reavaliando os testes de segurança dos seus brinquedos.
Esse é apenas o mais recente
episódio de uma série de problemas de qualidade envolvendo mercadorias chinesas. Em
março, comida para animais
feita com trigo contaminado
foi retirada das prateleiras. Seguiram problemas com pescados, pasta de dente e pneus.
"Os consumidores ficam
muito mais mobilizados se o
assunto é a saúde dos seus filhos", comentou Michelle
Murphy, pesquisadora associada do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.
Para ela, neste momento, os
congressistas americanos
-que têm pressionado o governo dos EUA a diminuir as importações da China- ganharam um forte argumento. Os
críticos reclamam que a invasão dos produtos chineses está
provocando o fechamento de
fábricas e a demissão de trabalhadores americanos.
Os pedidos de redução de importações da China levam em
conta ainda o yuan desvalorizado ante o dólar e a falta de
proteção à propriedade intelectual como fatores que dão à
China vantagens competitivas
exageradas. "Tudo isso tem
causado uma certa tensão",
afirma Michelle Murphy. "No
entanto, o cenário é mais complexo do que o discurso político. A parceria com a China é
igualmente muito positiva para
os EUA e suas empresas."
Por esse motivo, a gestão
George W. Bush, especialmente o secretário do Tesouro,
Henry Paulson, tem se esforçado para buscar soluções diplomáticas que evitem o confronto direto com o governo chinês.
"Como ambos são prejudicados pelas desconfianças que
pairam sobre os produtos chineses, é necessário que trabalhem juntos", afirma Erin Ennis, vice-presidente do Conselho EUA-China de Negócios.
"A China já está adotando fiscalização e punições mais severas para as companhias que
não obedecerem aos padrões
mínimos."
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