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Petróleo é chance contra "burrice", diz Lula
Para presidente, novas descobertas são "sinal de Deus" para que país não continue com a mesma política para os lucros com a exploração
Durante inauguração de projeto da Vale no Pará,
Lula afirma que recursos do
pré-sal são oportunidade de fazer "reparações históricas"
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARCARENA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a
descoberta de petróleo na camada pré-sal é a "chance" para
que o país deixe de fazer "burrice" na exploração do óleo.
"Agora, o que é que nós vamos fazer com esse petróleo?
Vender, pura e simplesmente?
Sabe, quem quiser vir tirar petróleo aqui vem, pode levar
quanto quiser? Não. Deus não
nos deu isso para que a gente
continue fazendo burrice. Deus
fez um sinal para nós. Mais
uma chance para o Brasil, mais
uma chance", afirmou.
Ele estava em uma cerimônia
da Vale em Barcarena (PA), na
qual foi inaugurada a expansão
do projeto da Alunorte -a
maior refinaria de alumina do
mundo, que faz parte do grupo
Vale- e anunciados os planos
da mineradora de uma pólo siderúrgico em Marabá (PA).
Foi a segunda vez nesta semana em que Lula falou sobre
como os campos da pré-sal devem ser explorados.
Na terça-feira, em evento da
UNE (União Nacional dos Estudantes), no Rio, ele chegou a
defender a mudança na Lei do
Petróleo, ao afirmar que parte
do dinheiro conseguido na retirada do óleo deveria ser investido em educação e para diminuir a pobreza no país.
Ontem, esse argumento foi
retomado. "Na hora em que a
gente for buscá-lo [o petróleo],
nós precisamos lembrar o seguinte: esse país tem uma dívida histórica com a educação do
seu povo", disse.
"Então, é preciso que a gente
aproveite este momento e tente discutir como é que nós vamos utilizar esse petróleo.
Quem é que vai explorar esse
petróleo? Se o lucro vai ficar
apenas para uma empresa, para
dez empresas, ou parte desse
lucro vai ficar para fazer as reparações históricas [do que] se
cometeu nesse país."
Conforme a Folha revelou, o
governo não acha que se deva
entregar à Petrobras todos os
campos de pré-sal que ainda
não foram leiloados. Há a possibilidade de criar uma nova estatal para administrar a extração apenas nesses campos.
O governo também já decidiu que a região em volta do
pré-sal não será leiloada até
que novas resoluções sobre essa exploração sejam definidas.
"Meio torto"
O presidente, que estava
acompanhado da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), disse
que a livre atuação do mercado
não ajuda na busca de desenvolvimento econômico mais
equilibrado entre diferentes regiões e citou as privatizações no
ramo da telefonia.
"É como aquele negócio das
telefônicas. Todo mundo acha
que é bom, que foi importante o
processo de privatização da telefonia brasileira. Agora, quem
cuida daqueles que moram
bem distante não é quem está
pensando no lucro, é quem está
pensando na cidadania."
Para ele, "parcerias" -como
as feitas entre a Vale, o governo
federal e o governo de Ana Júlia
Carepa (PT-PA) na futura siderúrgica- podem ajudar a mitigar essas diferenças
"Se você não pensa o conjunto do país, você começa a construir um modelo de desenvolvimento eminentemente subordinado a uma coisa chamada
viabilidade econômica, ou mercado", afirmou Lula.
"Então você começa a pensar: "bom, eu só posso investir
onde tem infra-estrutura, eu só
posso onde tem formação acadêmica suficiente para atender
meu mercado, só posso produzir onde tem mercado consumidor para os meus produtos".
Pensando assim, o Brasil foi ficando meio torto, ou seja, só
cresceu um lado."
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