São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Petróleo é chance contra "burrice", diz Lula

Para presidente, novas descobertas são "sinal de Deus" para que país não continue com a mesma política para os lucros com a exploração

Durante inauguração de projeto da Vale no Pará, Lula afirma que recursos do pré-sal são oportunidade de fazer "reparações históricas"

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BARCARENA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a descoberta de petróleo na camada pré-sal é a "chance" para que o país deixe de fazer "burrice" na exploração do óleo.
"Agora, o que é que nós vamos fazer com esse petróleo? Vender, pura e simplesmente? Sabe, quem quiser vir tirar petróleo aqui vem, pode levar quanto quiser? Não. Deus não nos deu isso para que a gente continue fazendo burrice. Deus fez um sinal para nós. Mais uma chance para o Brasil, mais uma chance", afirmou.
Ele estava em uma cerimônia da Vale em Barcarena (PA), na qual foi inaugurada a expansão do projeto da Alunorte -a maior refinaria de alumina do mundo, que faz parte do grupo Vale- e anunciados os planos da mineradora de uma pólo siderúrgico em Marabá (PA).
Foi a segunda vez nesta semana em que Lula falou sobre como os campos da pré-sal devem ser explorados.
Na terça-feira, em evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), no Rio, ele chegou a defender a mudança na Lei do Petróleo, ao afirmar que parte do dinheiro conseguido na retirada do óleo deveria ser investido em educação e para diminuir a pobreza no país.
Ontem, esse argumento foi retomado. "Na hora em que a gente for buscá-lo [o petróleo], nós precisamos lembrar o seguinte: esse país tem uma dívida histórica com a educação do seu povo", disse.
"Então, é preciso que a gente aproveite este momento e tente discutir como é que nós vamos utilizar esse petróleo. Quem é que vai explorar esse petróleo? Se o lucro vai ficar apenas para uma empresa, para dez empresas, ou parte desse lucro vai ficar para fazer as reparações históricas [do que] se cometeu nesse país."
Conforme a Folha revelou, o governo não acha que se deva entregar à Petrobras todos os campos de pré-sal que ainda não foram leiloados. Há a possibilidade de criar uma nova estatal para administrar a extração apenas nesses campos.
O governo também já decidiu que a região em volta do pré-sal não será leiloada até que novas resoluções sobre essa exploração sejam definidas.

"Meio torto"
O presidente, que estava acompanhado da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), disse que a livre atuação do mercado não ajuda na busca de desenvolvimento econômico mais equilibrado entre diferentes regiões e citou as privatizações no ramo da telefonia.
"É como aquele negócio das telefônicas. Todo mundo acha que é bom, que foi importante o processo de privatização da telefonia brasileira. Agora, quem cuida daqueles que moram bem distante não é quem está pensando no lucro, é quem está pensando na cidadania."
Para ele, "parcerias" -como as feitas entre a Vale, o governo federal e o governo de Ana Júlia Carepa (PT-PA) na futura siderúrgica- podem ajudar a mitigar essas diferenças
"Se você não pensa o conjunto do país, você começa a construir um modelo de desenvolvimento eminentemente subordinado a uma coisa chamada viabilidade econômica, ou mercado", afirmou Lula.
"Então você começa a pensar: "bom, eu só posso investir onde tem infra-estrutura, eu só posso onde tem formação acadêmica suficiente para atender meu mercado, só posso produzir onde tem mercado consumidor para os meus produtos". Pensando assim, o Brasil foi ficando meio torto, ou seja, só cresceu um lado."


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: A recessão real e o real
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.