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Varejo bate recorde, mas já sente inflação
Primeiro semestre fecha com alta de 10,6% nas vendas, mas crescimento se desacelera na ponta com alta dos alimentos
Aumento no 2º tri foi de 9,4%, contra 11,3% do 1º; para analista, alta dos juros deve ser sentida com mais força pelo setor em 2009
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar do impacto da inflação sobre o setor de supermercados, as vendas do comércio
varejista bateram recorde no
primeiro semestre deste ano: a
expansão de 10,6% no volume
comercializado foi a maior desde igual período de 2001, primeiro ano da série do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em junho, as vendas se aceleraram e cresceram 1,3% na
comparação livre de influências sazonais com maio (1%).
Em relação a junho de 2007, a
alta foi de 8,2% -nesse caso,
num ritmo menor do que o registrado em maio (11,1%).
"Os números já mostram
uma desaceleração marginal
por causa da alta da inflação de
alimentos especialmente, mas
não devem ocorrer até o final
do ano quedas substanciais no
nível de atividade do comércio", afirma Carlos Thadeu de
Freitas Filho, economista da
CNC (Confederação Nacional
do Comércio).
Segundo ele, as vendas perderam um pouco de fôlego no
segundo trimestre -subiram
9,4%, ante 11,3% dos primeiros
três meses do ano- por dois
motivos: juros maiores e aumento do preço dos alimentos.
Ainda assim, Freitas diz que
o efeito da alta da Selic foi limitado e só deve causar impacto
mais forte no setor no final deste ano e início de 2009.
Afetado pela alta dos produtos alimentícios, o ramo de hiper e supermercados e demais
lojas de alimentos vendeu 5,9%
a mais no primeiro semestre,
resultado abaixo da média do
varejo. Em junho, as vendas do
setor subiram 1,5% ante o mesmo mês de 2007, abaixo dos
8,4% de maio.
"Há uma nítida influência da
inflação nos resultados dos
produtos alimentícios, que têm
quase a metade do peso dos
produtos analisados na Pesquisa Mensal do Comércio", disse
Reinaldo Silva Pereira, coordenador da pesquisa do IBGE.
O recorde do semestre poderia ser até melhor não fosse a
inflação, segundo o técnico. Tal
efeito foi responsável ainda,
diz, pela desaceleração do varejo no segundo trimestre.
Ainda beneficiadas pelo crédito, as vendas de móveis e eletrodomésticos subiram 18,5%.
Também tiveram destaque os
ramos de informática (30,9%) e
artigos de uso pessoal e doméstico, favorecidos tanto pela expansão dos financiamentos como pela queda de preços de importados.
Fora do índice do varejo por
vender também no atacado, o
setor de veículos aumentou
suas vendas em 22,3%, também
impulsionado pela expansão do
crédito.
Segundo o diretor-executivo
do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo),
Emerson Kapaz, o crescimento
no primeiro semestre se "deu
em cima de uma base já muito
elevada", o que torna o resultado ainda mais significativo. O
motor do desempenho, diz, foi
o crédito, que "continua firme e
não mostra sinais de arrefecimento".
Diante de tal cenário, Kapaz
estima uma expansão das vendas do varejo neste ano no mesmo nível da de 2007: na casa de
9,6% a 9,7%. "A alta dos juros
teve impacto no segundo trimestre. O setor sentiu, mas foi
apenas um pequeno ajuste no
ritmo de crescimento. Não haverá uma queda brusca."
Já Freitas ressalta que, se a
taxa de juros chegar aos 15% ao
final do ano, conforme estimam analistas, o crédito se tornará mais escasso e com prazos
menores. Isso, diz, reduzirá o
nível de atividade do varejo. O
efeito, porém, comprometerá
mais o comércio em 2009, segundo o economista.
Colaborou CIRILO JUNIOR, da Folha Online
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