São Paulo, sábado, 15 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BNDES eleva provisão contra calotes e lucro recua 83%

Ganho de R$ 702 mi é o pior desempenho em um primeiro semestre desde 2002

Apesar da queda, analistas consideraram que resultado foi positivo; receita com participação acionária cai de R$ 4,8 bi para R$ 1,3 bi


DANIELE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

O aumento na provisão (reserva) de risco de crédito e a diminuição nos ganhos com ações levaram o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a registrar queda de 83% em seu lucro líquido no primeiro semestre do ano na comparação com igual período de 2008, para R$ 702 milhões.
Foi o pior desempenho em um primeiro semestre desde 2002, período em que o lucro foi de R$ 576 milhões.
Apesar do recuo, o resultado foi considerado positivo por analistas do mercado. "O balanço veio muito satisfatório. A alta no provisionamento tem relação direta com a elevação nos desembolsos feitos no período, que cresceram 11% em relação ao primeiro semestre do ano passado. Além disso, houve crescimento na receita com intermediações financeiras", afirma Luís Santacreu, economista da Austin Rating.
De acordo com o balanço financeiro divulgado ontem pela instituição, as despesas com provisão para risco de crédito subiram 175% nos primeiros seis meses do ano em relação ao primeiro semestre de 2008, atingindo R$ 1,1 bilhão.
O superintendente da área financeira do BNDES, Selmo Aronovich, afirma que, apesar do aumento das provisões, o desempenho do BNDES nesse indicador deve ser avaliado como positivo. Isso porque o ano de 2008 foi beneficiado com a devolução de provisionamentos antigos que não foram utilizados pelo banco e se converteram em receita.
"A diferença entre os volumes devolvidos que não foram utilizados e o provisionamento para crédito feito pelo banco fez com que o provisionamento do BNDES no primeiro semestre do ano passado fosse de apenas R$ 400 milhões", diz ele.
Aronovich afirma que o montante de provisionamento neste ano não reflete aumento de inadimplência no banco, que, segundo ele, tem se mantido em patamares muito abaixo dos da média do mercado, em torno de 0,18%.
"Na realidade, o BNDES quis se prevenir de possíveis problemas por conta da crise, o que, até agora, não ocorreu. Foi criterioso", afirmou.

Ações
Outro impacto negativo sofrido pelo BNDES diz respeito à redução dos ganhos com a negociação de ações. Por conta da pouca liquidez em Bolsa, o banco reduziu seu ritmo de transações no mercado, o que resultou na queda da receita com participações acionárias, de R$ 4,8 bilhões no primeiro semestre do ano passado para apenas R$ 1,3 bilhão no mesmo período deste ano.
"O BNDES obteve no ano passado um ganho extraordinário com ações. Mas, no primeiro semestre [de 2009], o mercado mudou. Como o banco estava bem capitalizado, não precisou se desfazer de sua carteira. Pôde aguardar um momento melhor. Se não fosse isso, o desempenho do primeiro semestre teria sido até superior ao do de igual período do ano passado", afirma Francisco Baroni, economista da Fundação Getulio Vargas.
Apesar da implantação de uma política anticíclica de combate à crise econômica, que resultou na redução das taxas de juros praticadas pela instituição, o BNDES conseguiu aumentar para R$ 2,7 bilhões sua receita bruta com intermediação financeira no primeiro semestre do ano. O resultado é 28,5% superior aos R$ 2,1 bilhões obtidos em igual período do ano passado.
"Isso mostra que a redução nas taxas foi compensada pelo aumento no volume de crédito no período", afirma Aronovich.


Texto Anterior: Redução de despesa ajuda lucro maior que o esperado
Próximo Texto: Resultado operacional cai, e TAM eleva tarifas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.