São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

O peso chinês e o da elite branca

O FMI colocou no seu radar de crises os países exportadores de matérias-primas como petróleo, metais e produtos agrícolas -commodities. O radar de crises do Fundo não é lá essas coisas, mas pelos mercados mundiais há um cacarejo persistente sobre o risco-commodity: a ameaça de queda dos preços dessas matérias-primas, ainda altíssimos e que impulsionaram o crescimento das exportações e da economia dos ditos emergentes.
A queda dos preços adviria, no médio prazo, de um aumento na produção, estimulada ela mesma pelo aumento da demanda de commodities. No curto prazo, o risco viria da baixa do consumo decorrente de um eventual desaquecimento das economias principais, EUA, União Européia e o complexo China-Ásia.
Um exemplo em miniatura, ou em caricatura, desse risco pôde ser observado na segunda-feira, quando houve queda generalizada nas cotações de commodities: moedas de exportadores desvalorizaram-se um pouco, ações das empresas produtoras de commodities caíram, puxando para baixo as Bolsas.
Segunda-feira pode ter sido um mero e habitual faniquito de mercado. O alerta do FMI é para o médio prazo. Os mercados de metais como níquel (com que se faz aço) e de minério de ferro, por exemplo, continuam apertadíssimos. O de produtos agrícolas sempre foi volátil.
O mercado de petróleo talvez vivesse o maior exagero, mas é incerto se o preço do barril vai continuar a declinar. De resto, o grupo de vítimas certeiras nesse caso seria reduzido (Venezuela, Nigéria, Equador, talvez México) e os efeitos positivos do barateamento do combustível poderiam compensar os danos. O petróleo caro é uma espécie de imposto sobre o consumidor recolhido pela Opep; combustível mais barato libera mais renda para consumo.


China pode tanto sustentar preço de commodities como inundar países emergentes com manufaturas baratas

Decerto o nervosismo aumentou. Mas o efeito do resfriamento econômico tem de ser qualificado -e não necessariamente para pintar um quadro mais otimista. Um estudo do Deutsche Bank indica que uma alta de 1% do PIB de China e Índia tem quase o mesmo efeito sobre o preço das commodities que um crescimento de 1% do PIB dos países do G7, cujas economias são muito maiores que a sino-indiana.
Isto é, China e Índia podem mitigar o efeito do desaquecimento conjunto de EUA, Europa e Japão sobre o preço das commodities, mantidas as previsões atuais de suave desaceleração mundial. Nos dados do Deutsche Bank, China e Índia não têm é força para sustentar o resto do comércio global em caso de queda do produto dos países ricos.
Pior, para países também fortes em exportações de manufaturas, como o Brasil, além da queda do comércio haveria a pesada concorrência de manufaturados chineses que deixariam de encontrar mercado no mundo rico. Commodities, nesse caso, seriam um problema menor.

vinit@uol.com.br


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