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Brasil gasta mal e "desaponta", diz FMI
Fundo afirma que aumento da despesa pública nos 2 últimos anos não atinge como deveria infra-estrutura e programas sociais
Organismo enxerga onda populista na América Latina e afirma que outros países da região têm elevado os gastos sem qualidade
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) afirmou ontem
que o crescimento no Brasil
tem sido "desapontador" e que
o gasto público cresceu demais
nos últimos anos, sem estar necessariamente focalizado em
programas sociais ou em investimentos em infra-estrutura.
Para o FMI, o Brasil e outros
países latino-americanos erram ao usar o atual aumento na
arrecadação tributária para financiar o crescimento da despesa pública.
Em caso de uma bastante
provável piora no cenário internacional, diz o Fundo, ficará
mais difícil para o país manter
os superávits primários e reduzir o peso da dívida pública.
"O Brasil tem feito muito nos
últimos anos em termos macroeconômicos. Mas temos de
reconhecer que a resposta em
termos de crescimento tem sido desapontadora e que alguma
paciência ainda será necessária", afirmou Charles Collyns,
economista-chefe-adjunto do
FMI e especialista em Brasil.
"Há uma extensa agenda de
reformas a ser perseguida. O
gasto público é um dos pontos,
pois têm crescido de modo rápido no Brasil ao longo dos últimos dois anos. O que consideramos importante é que esse
gasto seja mais focalizado em
programas sociais específicos
para os mais pobres. O governo
Lula conseguiu sucesso nessa
área, mas há mais a ser feito",
disse Collyns.
O relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem na reunião do FMI
e do Banco Mundial em Cingapura, prevê crescimento de
3,6% para o Brasil neste ano e
de 4% no próximo.
A estimativa do Fundo para
este ano supera a do mercado
doméstico (segundo a pesquisa
Focus) e a do Ipea, de 3,2% e
3,3%, respectivamente.
Nos últimos anos, nem sempre as previsões do Fundo se
aproximaram dos resultados finais. Ao divulgar o mesmo relatório em setembro de 2004, por
exemplo, o FMI errou as estimativas para aquele ano e o seguinte. Havia projetado alta do
PIB de 4% e 3,5% nos dois anos.
Mas a expansão ficou em 4,9%
e 2,3%, respectivamente.
De qualquer forma, o percentual previsto pelo FMI para o
Brasil em 2006 será o menor de
toda a América Latina, que deve crescer 4,8%, em média. Ficará abaixo ainda da média
mundial (5,1%), da Europa
emergente (5,4%), do Oriente
Médio (5,8%), da Ásia (8,3%) e
até da África (5,4%). Em 2007,
também ficará aquém da média
de todas essas regiões.
Collyns disse que, com a queda da inflação, o Banco Central
está "mais bem posicionado".
"Há espaço para novas reduções dos juros. Ao longo do
tempo, teremos um aumento
dos investimentos no país."
Mas o economista jogou para
o futuro a possibilidade de um
crescimento mais acelerado,
salientando que ainda há muito
a ser feito em termos de reformas econômicas e ações para
reduzir o "spread" bancário.
"No futuro, a combinação de
uma política macroeconômica
sólida, um setor financeiro
mais eficiente e taxas de juro
menores devem trazer um
crescimento maior ao Brasil."
O futuro, segundo as previsões do Fundo, também deve
trazer um esfriamento global
após quatro anos de crescimento excepcional, quando vários
países (o Brasil é uma das exceções) aproveitaram para crescer mais rapidamente.
O FMI afirma que a demanda
interna está se convertendo no
principal "motor" do crescimento na região, mas que está
"travado" pelo alto endividamento dos países e pela falta de
reformas nas áreas fiscal, trabalhista e previdenciária. O
Fundo recomendou ainda reformas para desvincular despesas orçamentárias fixas para
que se possam aumentar gastos
em infra-estrutura.
AL volta ao "populismo"
Segundo o FMI, o aumento
do gasto público ocorre em vários países da América Latina,
região que viveria hoje uma nova onda "populista".
"Isso reflete em alguma medida a grande disparidade de
renda na região, onde alguns
buscam sua voz em movimentos populistas. Há uma necessidade de atender a essa demanda por uma divisão dos frutos
da prosperidade, mas o populismo é o caminho equivocado",
afirmou Raghuram Rajam, economista-chefe do FMI, sem citar nenhum país.
"Consistentemente, a América Latina se mantém como a
região de menor crescimento
entre os emergentes. Esses resultados, aliados aos lentos
progressos na redução da pobreza, têm alimentado uma série de frustrações na população", diz o Fundo.
Para o FMI, "embora maiores gastos na área social e em
infra-estrutura possam trazer
dividendos de longo prazo, há a
preocupação de que nem todos
os gastos sejam bem direcionados e que sejam difíceis de reduzir quando a economia global se tornar mais desafiadora".
Colaborou a Redação
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