|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mais 1,34 milhão de pessoas se autodefinem de cor preta
Participação sobe de 6,3% para 6,9%; especialistas vêem influência de ações afirmativas
IBGE afirma que mais pessoas passaram a assumir a própria cor; população de cor branca passa de 49,9% em 2005 para 49,7% em 2006
DA SUCURSAL DO RIO
A população negra começa a
ganhar mais visibilidade nas estatísticas oficiais em um período em que se ampliaram as políticas públicas de ação afirmativa, destinadas, em tese, a promover maior eqüidade racial.
Dados da Pnad mostram que o
número de pessoas que se declaram de cor preta cresceu em
1,34 milhão de 2005 para 2006.
Na prática, a população de cor
preta passou de 11,5 milhões de
pessoas para 12,9 milhões.
A pesquisa do IBGE mostra
que, em 2006, as pessoas de cor
preta começaram a "sair do armário", como definiu uma especialista. O instituto afirma
que uma das explicações possíveis é que mais pessoas estejam
assumindo a própria cor. Com
isso, a participação da população de cor preta no país aumentou de 6,3% em 2005 para 6,9%
no ano passado.
A participação das pessoas de
cor parda na população caiu de
43,2% para 42,6%, o que confirma a tese de que houve uma migração de pessoas que se declaravam pardas para o grupo dos
que se declaram pretos.
Para o cantor Martinho da
Vila, o número ainda não reflete a realidade da população,
mas a tendência é de aumento
porque as pessoas já estão se
sentindo "mais confortáveis"
para assumir a própria cor.
"No passado, muitas pessoas
que se diziam de cor parda não
se assumiam como negras porque o negro era malvisto. Com
as ações de vários segmentos
do movimento negro, a gente
botou na cabeça desse pessoal
pardo que nós somos vistos como negros de qualquer maneira. Temos mais é que nos assumir. O armário dos morenos
que ainda se dizem brancos é
muito maior", disse.
Para o ministro interino da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
Martvs Alves das Chagas, o aumento é resultado da implantação das ações afirmativas no
país. "Antes, havia muita dificuldade para debater o tema. O
que o movimento negro diz é
que as pessoas não precisam
mais esconder o que são."
Na avaliação da antropóloga
Yvonne Maggie da UFRJ, ainda
não é possível definir as causas
do aumento da autodeclaração
de pessoas de cor preta. Ela
destacou que o percentual de
pessoas que se declaram pretas
ainda é pequeno. Contrária à
política de cotas, ela afirma que
uma das hipóteses é que as
ações afirmativas tenham contribuído para o aumento de um
ano para o outro. "As políticas
que reforçam as identidades estão sendo criticadas no mundo
inteiro porque elas produziram
mais dor do que alívio. A identidade é uma coisa construída e
tem como objetivo dividir o povo. Costumávamos nos ver como brasileiros", disse.
A população de cor branca
perdeu participação e passou
de 49,9% em 2005 para 49,7%
em 2006. No Sul, a população
branca chega a 79,6%, e, no
Norte, a parcela é de 23,9%.
Para Marcelo Paixão, economista da UFRJ e coordenador
do Observatório Afrobrasileiro,
as mudanças detectadas na
pesquisa desde a edição de
2005 são históricas. "Se considerarmos que indicadores demográficos mudam pouco porque envolvem crescimento da
população, migração, taxa de
fecundidade, que, no caso da
população negra é maior do que
a branca, os dados representam
uma mudança de percepção da
população, é uma resposta."
Em termos percentuais, a população de cor preta da região
Norte foi a que mais cresceu em
2006: passou de 3,8% para
6,2%, seguida pelo Nordeste,
onde o percentual passou de
7,0% para 7,8%. No Sudeste, a
participação passou de 7,2%
para 7,7% da população.
Texto Anterior: Foco: Projetos aumentam oportunidades de trabalho em Salvador Próximo Texto: Foco: Amazonense assumiu cor preta aos 44 anos, mas diz que ainda causa espanto Índice
|